Petróleo sobe 5% com tensão no Oriente Médio
Em um ambiente de surpresas renovadas na atividade econômica dos Estados Unidos e de aumento das tensões no Oriente Médio, os preços do petróleo dispararam ontem e subiram mais de 5%. O movimento deu apoio a uma valorização das ações da Petrobras, mas o Ibovespa não resistiu e fechou em queda firme, em um dia também negativo nas bolsas de Nova York. O dólar e os juros futuros, nesse ambiente, seguiram o cenário externo e terminaram a sessão de ontem em alta.
O Ibovespa encerrou o dia em queda de 1,38%, aos 131.672 pontos, em movimento semelhante ao de Wall Street, embora com maior intensidade. Nas bolsas de Nova York, o índice Dow Jones teve queda de 0,44%; o S&P 500 recuou 0,17%; e o índice eletrônico Nasdaq teve baixa de 0,04%.
O grande destaque da sessão, porém, foi o petróleo, que saltou após declarações do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que analisa um possível apoio para que Israel ataque a infraestrutura de petróleo do Irã. As cotações fecharam em seu maior nível em um mês no mercado internacional.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para novembro fechou em alta de 5,15%, a US$ 73,92 por barril. Já na Intercontinental Exchange (ICE), o barril do petróleo tipo Brent, a referência global, para dezembro avançou 5,03%, para US$ 77,62.
Além do receio de ataque nas instalações produtoras de petróleo iranianas, um potencial bloqueio ao transporte marítimo global com um fechamento do Estreito de Ormuz também tem preocupado os agentes do mercado. O Irã produz cerca de 3,3 milhões de barris diários de petróleo e exporta perto da metade, cerca de 1,5 milhão de barris por dia.
Para Gregory Brew, analista sênior do Eurasia Group, o fechamento de Ormuz, por onde transitam navios iranianos mas também de outros países do Golfo Pérsico, seria o pior cenário. “Um fechamento de sete dias no estreito elevaria os preços do barril do petróleo em US$ 28”, estima o analista.
O bom desempenho da economia americana teve papel secundário nos preços do petróleo, mas também ajudou a impulsionar tanto os rendimentos dos Treasuries quanto o dólar na sessão de ontem. Não por acaso, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de outras seis moedas principais, teve alta de 0,26%, aos 101,942 pontos.
O índice de atividade do setor de serviços dos EUA medido pelo ISM surpreendeu os analistas de mercado, ao subir de 51,5 pontos em agosto para 54,9 em setembro, bem acima do consenso, que apontava para o indicador a 51,9.
No mercado doméstico, o sinal foi semelhante: o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,4734, em alta de 0,54%, enquanto nos juros futuros a taxa do DI para janeiro de 2027 passou de 12,255% no ajuste anterior para 12,36%.
A alta dos juros futuros indica, ainda, uma consolidação da visão de que, por aqui, o Banco Central tem razões para elevar a Selic em pelo menos 2 pontos até o fim do atual ciclo de altas, diz Thiago Mendez, gestor responsável pelos fundos multimercado e de renda fixa do Bahia Asset Management.
“Para juros, temos um ambiente de inflação pressionada a frente, o BC tem trabalho a fazer”, diz Mendez, ao justificar a posição tomada (aposta na alta das taxas) em juros de curto prazo. “Achamos que os juros vão ter que subir mais agora e a curva vai ficar menos inclinada”, projeta. Ao mesmo tempo, ele espera que o juro alto e as commodities gerem uma apreciação do real.
Vale notar ainda que a BB Asset Management revisou a estimativa para a taxa Selic e agora prevê um ajuste mais rápido e mais intenso nos juros. No cenário base da gestora, o BC deve acelerar o ritmo para 0,5 ponto de alta e levar a Selic a 12,5% em 2025.
Eduardo Magossi, Gabriel Caldeira, Arthur Cagliari, Igor Sodré e Maria Fernanda Salinet – Valor Econômico