PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Negócio

Petrobras diz estar se preparando para petróleo abaixo de US$ 25


BiodieselBR.com - 27 mar 2020 - 09:56

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que o pacote de medidas anunciado hoje para fazer frente a queda dos preços do petróleo prepara a companhia para sobreviver a um cenário de preços abaixo de US$ 25 o barril.

“Estamos preparando a empresa para viver a um preço de petróleo abaixo de US$ 25, e não mais US$ 40, como antes”, afirmou, durante teleconferência com analistas e investidores. “A não ser que aconteça algo inesperado, não esperamos recuperação significativa do preço de petróleo”, completou.

O executivo destacou que esta é a maior crise da indústria de óleo e gás em 100 anos e que a companhia tem que estar preparada para o pior cenário. “Na minha percepção, estamos vivendo tempos sem precedentes”, disse.

Castello Branco disse que o cenário de baixa dos preços do petróleo afeta o programa de venda de ativos da empresa, mas que a petroleira vai continuar em frente com os desinvestimentos.

“Vamos continuar com o programa de desinvestimentos. Com certeza os preços afetam, mas vamos em frente observando o valuation [precificação dos ativos]”, disse..

O executivo destacou que, se a Petrobras identificar que a precificação do ativo está baixa, não prosseguirá com as negociações.

Segundo Castello Branco, a companhia ainda não viu nenhum sinal de desinteresse dos potenciais compradores pelos ativos à venda. “Ao contrário, ontem um potencial comprador nos reafirmou o seu interesse [em um dos negócios]”, disse.

A diretora de refino e gás natural, Anelise Lara, por sua vez, afirmou que não acredita que as refinarias serão desvalorizadas.

“Ainda estamos em boa posição para fazer desinvestimentos em refinarias”, comentou.

A diretora financeira e de relações com investidores da Petrobras, Andrea Marques de Almeida, disse que a companhia começou a renegociar, “desde já”, contratos com seus fornecedores.

Segundo ela, o impacto mais relevante da medida é esperado para o médio e longo prazos.

“Definitivamente [a renegociação de contratos] pode impactar o nosso breakeven [preço de equilíbrio econômico]”, disse.

Demanda

Castello Branco afirmou que a empresa já vê “alguns sinais de recuperação” na demanda chinesa por petróleo. “Isso é importante, porque China é o maior destino de nossas exportações”, disse.

Por outro lado, o executivo destacou que, no Brasil, a demanda por combustíveis está caindo significativamente.

Segundo a diretora de refino e gás natural, Anelise Lara, a empresa tem operado suas refinarias com uma taxa de uso de 74%. “Provavelmente teremos alguma redução nas taxas de operação entre abril e maio”, afirmou.

Ela mencionou também que a empresa está postergando a manutenção nas suas refinarias, para evitar aglomerações.

Produção

O diretor de exploração e produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, disse que ainda é cedo para afirmar se o pacote de iniciativas para corte de investimentos e gastos, anunciado hoje pela companhia, terá efeito sobre a curva de produção da petroleira.

“É muito cedo falar sobre o que vai acontecer com a curva de produção”, disse.

A companhia anunciou hoje um corte de 100 mil barris diários na sua produção de óleo até o fim de março, em função da sobreoferta deste produto no mercado externo e pela redução da demanda mundial de petróleo causada pelo efeito da covid-19. Segundo o executivo, a decisão foi tomada devido à baixa demanda global pela commodity.

Sobre os próximos meses, ele afirmou que a companhia avalia diariamente a situação do mercado. “Podemos cortar mais a produção em abril ou não, monitoramos o mercado todos os dias”, disse.

A Petrobras ainda vê demanda significativa por bunker (combustível de navegação), mesmo diante da crise provocada pela pandemia de coronavírus, afirmou Anelise Lara.

Segundo ela, a petroleira pode aumentar a produção nas refinarias dos derivados que tiverem boa procura, como o caso do bunker.

“Estamos continuamente modelando o cenário para avaliar a possibilidade para a refinaria aumentar a produção dos produtos que apresentam boa demanda e reduzir [a produção de] outros”, disse a executiva, em teleconferência realizada em inglês com analistas sobre os ajustes anunciados hoje pela petroleira, para se adaptar ao cenário de crise.

“Estamos trabalhando para otimizar o parque de refino para aumentar a produção de produtos que ainda têm boa demanda”, completou.

Segundo ela, há uma queda grande na demanda por gasolina. No caso do diesel, a queda é um pouco menor, porque ainda há demanda expressiva do agronegócio.

Com relação ao preço dos derivados no mercado interno, o presidente da petroleira, Roberto Castello Branco, disse que o preço da gasolina nas refinarias já caiu 40,5% este ano e que a empresa pode discutir outras reduções de preço do produto.

Investimentos

Oliveira disse que o corte de 29% dos investimentos da companhia, em 2020, não deve ter efeitos significativos sobre o plano de negócios da companhia nos próximos anos.

“O corte nos investimentos não deve afetar muito nosso plano de 2021 adiante”, afirmou.

O diretor de desenvolvimento da produção e tecnologia da Petrobras, Rudimar Lorenzatto, por sua vez, sinalizou que o plano de investimentos pode sofrer impacto pela revisão dos processos de contratação de bens e serviços. “No meio dessa complexidade, temos processos de aquisições [de bens e serviços] em fase inicial e no meio. Dependendo do caso, podemos rever os processos e isso tem efeito no capex [investimentos]”, disse.

André Ramalho e Rodrigo Polito – Valor Econômico