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Negócio

Distribuidoras regionais saem do mercado e importação de combustíveis tem nova concentração


Jornal do Commercio - 20 mai 2022 - 09:26

No meio da crise de preços devido à crise do petróleo no mercado internacional, o setor de distribuição de combustíveis brasileiro voltou a ter uma nova concentração de postos bandeirados, acelerados pelas dificuldades de importação pelas distribuidoras regionais.

Essas empresas, que abasteciam as redes de postos chamados de bandeira branca, desde o começo do ano deixaram de importar gasolina e óleo diesel em função da desfasagem dos preços internacionais praticados pela Petrobras o que fortaleceu as redes Vibra, Raízen (Shell) e Ipiranga que ampliaram as importações do que a estatal deixa de produzir com sua base de refino.

O segmento que atende 45% dos postos existentes no Brasil e já foi responsável por até 40% das importações parou as compras quando a Petrobras deixou de corrigir os preços em função dos aumentos dos preços do petróleo em 2021 abrindo o espaço para as três grandes marcas.

No primeiro trimestre, as importações de derivados de petróleo por produto cresceram 20,13%, chegando a 6,7 milhões de metros cúbicos feitos pela Petrobras, Vibra, Raízen e Ipiranga sem nenhuma operação das empresas associadas à Abicom - que reúne as regionais.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a participação de mercado do trio, somada, atingiu 69,8% nas vendas de diesel e de 62,1% da gasolina. A Petrobras importou 30,2% de diesel e 37,9% de gasolina.

A consequência dessa situação conjuntural acabou favorecendo o movimento de reconcentração de postos de combustíveis que vinham sendo atendidos por dezenas de pequenas redes e que se abasteciam nas distribuidoras regionais.

Sem poder comprar delas, os postos agora dependem das vendas pela própria Petrobrás com a sua produção interna e de parte das importações que elas fazem para atender ao mercado.

Essa situação por outro lado abriu uma avenida de oportunidades para as gigantes que além de suas redes de postos bandeirados estão ampliando sua fatia no mercado.

As três empresas ao menos até março vêm conseguindo distribuir as perdas com a defasagem decorrente no atraso na defasagem com sua rede ampliando sua presença nas praças com margens menores para os postos bandeira branca.

Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), uma entidade fundada em 2017 e que reúne 10 importadoras/comercializadoras, Sérgio Araújo enquanto essa situação conjuntural dos preços do mercado internacional não se resolver o mercado vai ficar sem opções e reconcentração do setor vai continuar.

No Brasil, existem hoje perto de 43 mil postos onde a BR tem 18%, a Ipiranga 14% e a Raízen 12%. Outros 44% são das redes Bandeira Branca e os 12% de pequenas redes estaduais.

Segundo a Abicom o preço de paridade de importação (PPI) calculado usando como referência os valores para gasolina, óleo diesel, câmbio carrega uma defasagem média de 3% no óleo diesel e de -6% para a gasolina.

No caso da gasolina hoje, 69º dia da vigência do aumento linear médio de 18,8% nos preços domésticos feito em 11 de março carrega uma defasagem de média de -R$0,24 por litro. No caso do óleo diesel a defasagem média é de R$ 0,13 por litro, variando entre R$0,01 por litro a R$0,58 por litro dependendo do porto de operação.

Esse quadro segundo Sérgio Araújo fez o segmento perder parte das conquistas de distribuição no sentido de oferecer outras opções aos consumidores obtidas nos últimos anos.

Na prática, o movimento de concentração que as grandes companhias estão se beneficiando decorre da própria política da Petrobras com o modelo de Preço de Paridade Internacional (PPI) que funcionou bem enquanto os preços do barril do petróleo no mercado internacional estavam estabilizados, mas que se tonou um problema quando após a pandemia da covid-19 ele dispararam.

Para completar a guerra da Rússia com a Ucrânia acrescentou um novo componente de pressão nos preços em dólar que não tem cenário positivo.

No setor, a questão é até quando as três empresas vão suprir a parte que exige importação pelo não atendimento do mercado pela Petrobras?

Fernando Castilho – Jornal do Commercio