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Negócio

Cortes da oferta vão aumentar déficit de petróleo, segundo Opep


Bloomberg - 14 abr 2023 - 09:44

Os cortes na oferta de petróleo acordados pelos países da Opep+ na semana passada colocam os mercados globais a caminho de um elevado déficit que tende a aumentar com o passar do ano, indicam os dados mais recentes do grupo.

Os mercados globais podem ficar com oferta insuficiente de cerca de 2 milhões de barris por dia no quarto trimestre como resultado das reduções anunciadas pela Arábia Saudita e parceiros, segundo dados de um relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

O governo de Riad e seus parceiros chocaram traders de petróleo e impulsionaram os preços com as reduções da oferta anunciadas em 2 de abril. Autoridades da Opep disseram que a medida era necessária para impedir que especuladores fizessem apostas injustificadas contra o petróleo, mas a Agência Internacional de Energia, que aconselha as nações consumidoras, classificou a decisão como uma “surpresa desagradável”.

Os contratos futuros de petróleo subiram para US$ 87 o barril em Londres desde que os cortes foram revelados. Esse ganho realimenta os temores sobre a inflação e o crescimento econômico global, ao mesmo tempo que reforça as receitas dos 23 membros da coalizão da Opep+. Alguns analistas acreditam que o cenário mais apertado pode elevar o barril de petróleo novamente a US$ 100.

O relatório desta quinta-feira divulgado pelo departamento de pesquisa da Opep, que tem sede em Viena, traz certa justificativa para os cortes, que devem reduzir o excedente de oferta projetado para este trimestre.

Os estoques de petróleo estão acima da média de cinco anos, e a produção atual dos 13 membros da Opep é de cerca de 300 mil barris por dia a mais do que o necessário de abril a junho, em 28,8 milhões de barris diários.

Mas, na segunda metade do ano, os mercados mundiais devem se contrair consideravelmente. A Opep já esperava um déficit de oferta em meados do ano, e os cortes recém-revelados devem agravar ainda mais a escassez.

Embora a Opep+ tenha descrito os cortes como uma “medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado”, o grupo continua a prever um salto significativo da demanda global por petróleo este ano. A projeção é de que o consumo aumente 2,3 milhões de barris por dia, superando os níveis pré-pandemia para atingir o recorde de 101,89 milhões por dia.

Na prática, as reduções na produção da Opep devem ser menores do que o anunciado, pois alguns membros já estão bombeando abaixo de suas metas. Mas, mesmo que apenas os principais estados do Golfo do grupo implementassem o acordo, a produção da Opep deveria cair para cerca de 28 milhões de barris diários — cerca de 1,6 milhão por dia a menos do que a organização acredita ser necessário no terceiro trimestre, e pelo menos 2 milhões menos do que é exigido no quarto trimestre.

A demanda pelo petróleo do grupo está projetada para atingir 30,3 milhões de barris por dia nos últimos três meses do ano, segundo o relatório.

O déficit pode ser consideravelmente influenciado pela Rússia, um membro-chave da coalizão Opep+, que tem cortado a produção à parte em resposta às sanções devido à guerra na Ucrânia.

Os cálculos da Opep assumem que os suprimentos russos cairão, em média, 750 mil barris por dia este ano, com uma queda acentuada neste trimestre. Essa redução é muito maior do que o corte de 500 mil barris por dia recentemente prometido pelo governo de Moscou.

As exportações russas se mostraram teimosamente resilientes, apesar das promessas de rebater a censura internacional sobre a invasão, embora uma desaceleração nos últimos dados de remessas indique que as sanções começam a surtir efeito.

A aliança Opep+ deve revisar a política de produção para o segundo semestre do ano em uma reunião no início de junho.

Grant Smith – Bloomberg