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Robôs ganham licitações e preocupam empresários


. - 21 mar 2011 - 08:58 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

Programas de computador usados para dar lances automáticos em pregões públicos eletrônicos, realizados na internet, estão causando problemas para empresários em compras governamentais.

Também chamados de robôs, os softwares são vendidos por preços que vão de R$ 1.400 a R$ 5.500 e garantem o primeiro lugar na disputa.

A cada oferta dada por um concorrente, os robôs dão lances mais baixos em menos de um segundo -uma pessoa demora seis segundos- até o encerramento do pregão ou até o limite de preço definido pelo usuário.

O empresário Henrique Dendrih, 61, dono da Eletrônica Henrique, diz ter notado, em 2010, o aumento do número de pregões em que é derrotado por menos de um segundo. Os casos ganharam apelido: "perder pelo fotochart" -equipamento que define o vencedor de provas quando corredores chegam praticamente juntos.

"Não consigo dar lances tão rapidamente quanto outros", diz ele, que não pensa em comprar o software.

Cerca de 70% do faturamento de sua loja de pequeno porte vem de vendas para o poder público. Desde 2007, micro e pequenas empresas têm, por lei, preferência nas compras governamentais.

O Ministério do Planejamento, responsável pelos pregões do governo federal, afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que "vem trabalhado constantemente no sentido de impedir a utilização de robôs".

Lance automático faz lucro despencar

Os lances automáticos dados pelos robôs fazem com que os preços ofertados nos pregões desçam rapidamente. A reclamação dos empresários é que, com o uso da tecnologia por seus concorrentes, são obrigados a reduzir muito a margem de lucro.

A empresária A.C.V., que é sócia de uma loja de livros e revistas técnicos e afirma não usar o software, diz que a disputa não está mais em pé de igualdade. Para vencer no pregão, completa, é necessário tentar jogar abaixo do limite programado nos robôs, o que faz com que o volume de vendas tenha de ser maior para o negócio ter retorno.

Nessa tentativa de ganhar a licitação a qualquer preço, muitas empresas passam por cima da lucratividade e, para não amargarem prejuízo, têm de desistir do contrato, mesmo vencendo a disputa.

Contatadas, empresas que têm lances registrados em ata com menos de um segundo de diferença -sinal do uso dos softwares - e que desistiram das vendas após o leilão alegam que não usam robôs e que a desistência se dá por diferentes motivos, como aumento do custo da matéria-prima.

Para a professora de direito administrativo da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) Odete Medauar, o incentivo a lances menores é positivo.
"Muitas empresas que participam com frequência de licitação provavelmente terão que utilizar esse tipo de mecanismo no futuro", prevê.

Quem comemora o aumento do uso dos robôs nas licitações é o programador Igor Azevedo, que desenvolve softwares para lances automáticos em pregões e os vende no site www.data-fighter.com/BNET.html.

Ele explica que as vendas aumentaram bastante desde 2008, quando produziu o primeiro programa para participar das licitações. Azevedo diz que, em três meses, vendeu seus programas, chamados B-Net e C-Net, para cerca de 60 empresas.

MARCOS DE VASCONCELLOS
Fonte: Folha de S. Paulo