[Conferência 2011] Uma nova tecnologia para purificar o biodiesel
Entre os conteúdos especialmente preparados para a audiência da Conferência BiodieselBR de 2011, esteve a apresentação do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Daniel Barreria Arellano, que apresentou aos presentes a palestra “Purificação de biodiesel com bauxita: uma nova tecnologia”, que mostrou o potencial de uma nova solução para reduzir os níveis de contaminantes presentes no biodiesel usando colunas cheias de bauxita ativada.
Essa nova tecnologia, desenvolvida por uma parceria entre os pesquisadores da Unicamp e a Mineração Curimbaba (empresa de Minas Gerais que transforma a bauxita em produtos especiais para uma variedade de indústrias), permite remover uma série de impurezas, seja do biodiesel ou do óleo usado como matéria-prima. Conforme Arellano explicou, normalmente a purificação do biodiesel é a etapa final do processo de fabricação e normalmente envolve um tanque de suspensão e o uso de um filtro prensa, no qual um material absorvente faz o trabalho de limpeza do produto.
Já no Processo Curimbaba, o biodiesel é despejado em uma ou mais colunas cheias de bauxita – um tipo de mineral formado principalmente por óxido de alumínio e que é uma das fontes mais comuns para a produção de alumínio metálico. O caso é que o mineral possui propriedades de absorção seletiva que o permitem aprisionar as impurezas do biodiesel dentro de sua matriz. Isso acontece porque o material possui três tipos de poros capazes de reter diferentes contaminantes:
- Microporos: retêm ácidos graxos livres;
- Mesoporos: retêm a umidade;
- Macroporos: retêm outras impurezas;
Isso permite controlar três dos parâmetros de qualidade mais importantes para a indústria de biodiesel: teor de umidade, acidez e contaminação total. Esse último quesito, em particular, reúne uma série de materiais diferentes – glicerídeos parciais, fosfolipídios, ceras, glicosídeos, sabões, entre outros – que não são solúveis no biodiesel e acabam precipitando com o tempo para formar um material que vai se acumulando no fundo de tanques e de tubulações. Eles estão entre os vilões do problema da formação de borras nos tanques de óleo diesel que os donos de postos de combustíveis vêm relatando nos últimos meses.
Arellano apresentou tabelas ao público mostrando os resultados obtidos em dois testes realizados pela equipe responsável pelo desenvolvimento dessa nova tecnologia. O primeiro desses testes foi feito com B100 feito de soja e o segundo com B100 feito 70% de óleo de soja e 30% de sebo. Em ambos os casos, a passagem pelas colunas de bauxita levaram a reduções significativas dos problemas de qualidade do material, com reduções nos níveis de acidez, umidade e contaminantes totais presentes. As maiores diferenças foram registradas no tempo de saturação – o tempo que leva antes das colunas perderem sua capacidade de melhorar os parâmetros de qualidade.
Mesmo quando chegam a seu ponto máximo de saturação e já não têm mais capacidade de melhorar a qualidade do biodiesel, as colunas podem ser recuperadas por meio de um processo bastante simples realizado in situ. Elas vêm equipadas de fábrica com ignitores que acendem o biodiesel impregnado na coluna e queimam todos os contaminantes, transformando-os em gás carbônico e água. “O processo de reativação das colunas pode ser repetido mais de 500 vezes e, uma vez resfriada, a coluna pode voltar a ser usada normalmente”, garantiu o pesquisador.
Uma das sugestões é que o processo não seja utilizado no final da produção de biodiesel, mas no começo para purificar os óleos. Segundo Arellano, as colunas de bauxita substituem boa parte das etapas necessárias para a purificação dos óleos, seja para a produção de biodiesel ou para alimentação humana, e isso reduz o consumo de insumos e a geração de resíduos industriais.
Ainda de acordo com o apresentado, o uso do Processo Curimbaba é capaz de substituir tudo que vem depois da degomagem do óleo, gerando economias consideráveis em insumos, gestão de resíduos e efluentes e simplificando o processo de fabricação. “Os custos são menores e, como o processo não usa materiais filtrantes que precisam ser descartados, também é ambientalmente amigável”, completou Arellano, dizendo que o processo é modular e pode ser adaptado a processos produtivos de diferentes escalas.
Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com