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Críticas da Fecombustíveis: formação de borra


BiodieselBR.com - 22 jun 2011 - 05:49 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

A edição 2011 do Relatório Anual da Revenda de Combustíveis divulgado recentemente pela Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) estampou um capítulo com muitas críticas ao biodiesel. BiodieselBR continua agora a série de reportagens sobre diversos pontos importantes levantados pela entidade.

Desde janeiro do ano passado, quando a mistura de 5% de biodiesel no diesel foi oficialmente adotada, a tendência do B5 de formar uma espécie de borra tem sido a maior pedra no sapato dos associados da Fecombustíveis. Segundo os donos de postos, um material “escuro, pegajoso, mal cheiroso e de origem orgânica” anda se acumulando – e eventualmente entupindo – em tanques, tubulações e filtros de combustíveis e causando prejuízos aos donos de postos e até aos clientes finais – o relatório informa que “alguns postos” já receberam pedidos de consumidores querendo o ressarcimento de despesas provocadas por problemas na mistura entre diesel e biodiesel.

De acordo com o documento, o problema é causado pela proliferação de micro-organismos na água que se acumula no fundo dos tanques que armazenam a mistura. O problema em si já acontecia com o diesel fóssil puro, mas, segundo os especialistas ouvidos por esta reportagem, foi potencializado pela mistura com o biodiesel que, por ser mais higroscópico (ter mais capacidade de absorver a umidade do ar), acelera a contaminação do combustível por água, o que, por sua vez, aumenta a formação desse material.

Segundo o diretor de Postos e Rodovias da Fecombustíveis, Ricardo Hashimoto, os números de não-conformidade do óleo diesel do Programa Nacional do Monitoramento de Qualidade de Combustíveis da ANP e a evolução da mistura obrigatória caminham juntos. “O problema aumentou junto com o aumento do índice de mistura compulsória, dos 2% iniciais até os 5% atuais”, garante. Ele informa que o assunto foi levado à Sala de Monitoramento do Biodiesel – espaço instituído pela ANP para reunir todos os atores da cadeia de produção – no começo de maio do ano passado iniciando um “intenso debate entre os representantes dos produtores e revendedores”.

Nenhuma das fontes ouvidas por BiodieselBR nega que exista um problema, mas já há um bom tempo que, graças a falta de números consolidados, criou-se um desconfortável clima de disputa em torno das reais dimensões e importância do problema. Os produtores de biodiesel garantem que os problemas são pontuais, já a Fecombustíveis assegura que não. Para tentar resolver de vez a questão, em julho passado a ANP instituiu três grupos de trabalho (GTs) para tratar dos problemas em três pontos-chave da cadeia: um sobre transporte, o segundo sobre armazenagem e o último para discutir as especificações da mistura entre óleo diesel e biodiesel. Entre outras medidas, os participantes dos GTs encomendaram pesquisas sobre o tamanho do problema.

O consultor da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), Donato Aranda, reflete a posição dominante dos produtores ao dizer que os dados preliminares dos estudos indicam que estatisticamente o problema não é tão relevante e que a maioria das dificuldades poderia ser evitada se todos os postos aderissem rigidamente às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que normaliza as atividades de transporte, armazenamento, abastecimento e controle de qualidade do óleo diesel – a NBR 15512, que se encontra em processo de atualização justamente para fazer frente aos desafios criados pela adição de biodiesel. “No escopo da atual norma já existem recomendações para limpeza dos tanques, caminhões e tubulações. O que temos observado é que os procedimentos não vinham sendo seguidos e, com a presença do biodiesel, a não execução das boas praticas descritas na norma amplificou os problemas”, descreve o consultor.

Hashimoto qualifica essa linha de raciocínio como uma “postura prepotente adotada pelos produtores”. “Os produtores negam taxativamente que o biodiesel seja o causador dos problemas apresentados, classificando os casos como pontuais e causados por descuidos dos donos dos postos”, reclama, recorrendo aos mesmíssimos estudos encomendados pelos participantes dos GTs da ANP citados pelo representante da Ubrabio. “Esses trabalhos estão sendo concluídos agora, e apontam para a necessidade da revisão de diversas questões relacionadas ao biodiesel em todos os níveis - produção, distribuição e revenda”, pontua.

Eduardo Cavalcanti é pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), entidade responsável pela condução de um desses estudos que está tentando entender mais o problema. Para ele, se trata de um problema de natureza multidisciplinar que não deveria ser colocado totalmente na conta de um ou de outro agente. Ele avalia que houve falha em não capilarizar melhor as informações entre os quase 38 mil postos do país, mas ressalta que muitas recomendações contidas nas normas da ABNT não foram seguidas pelos postos e também informa que, embora os testes conduzidos pelo INT não tenham flagrado nenhum fabricante de biodiesel vendendo produto fora das normas vigentes, alguns deles chegavam muito perto. “Observamos que existem ‘fabricantes e fabricantes’ de biodiesel”, sintetiza o pesquisador apontando que enquanto um grupo produz biodiesel com baixíssima umidade, outros entregam seu produto com níveis de umidade perigosamente perto dos 500 ppm permitidos pela ANP.

Enquanto os lados se digladiam em torno de argumentos. Uma fonte ouvida pelo portal BiodieselBR na área de distribuição reclama que o maior problema tem sido a generalização embora reconheça que seja natural os donos de postos reclamarem, uma vez que os filtros que têm sido mais afetados pelo problema das borras são peças caras – o que se traduz em lucros mais magros para o setor. “Sim, houve um aumento, mas eu não posso dizer que essa seja uma situação absurda”, opina.

A ANP foi procurada mas não respondeu aos pedidos desta reportagem. O estudo do grupo de trabalho da agência relacionado ao tema vai fazer um ano e ainda não existe previsão de quando ficará pronto.

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com