O outro ponto que fez a receita dos agricultores crescer é a área colhida. Em 2008 os pequenos agricultores do Sul colhiam na média 8,5 hectares de soja e vendiam essa produção para as usinas de biodiesel. Essa média subiu para 14,1 hectares em 2014. Isso significa que o produtor está plantando mais soja em detrimento de outras culturas.
E esse aumento de área para apenas pode ser que tenha alguma influência do Selo. Já que o produtor passou a receber visitas de técnicos representantes de usinas que tem interesse que esse agricultor produza mais soja e podem ter convencido os agricultores a trocar outras culturas pela soja por que era economicamente mais interessante.
Os números de 2014 não ajudam a mudar a situação do Selo. Eles comprovam que as mudanças feitas até 2013 só o distanciaram dos objetivos de diminuir a desigualdade regional e trazer inclusão social. Na verdade, o Selo Combustível Social tem empobrecido a Região Nordeste.
Já fora defendido pelo governo que o Selo diminuiu a desigualdade regional por que um pouco de dinheiro vai para o Nordeste e esses recursos não iriam se não houvesse o Selo. Mas a conta que não foi feita é quanto de recurso que sai do Nordeste por causa do Selo.
O dinheiro recebido pelo Nordeste é fácil de saber. O MDA informa que R$ 4,33 milhões foram recebidos pelos agricultores em 2014. Mas e quanto foi gasto pelos Nordestinos para fomentar o programa?
Como todos sabem, o Selo encarece o biodiesel. Sem ele, o biodiesel ficaria mais barato para as distribuidoras, que reduziriam o preço do diesel para o consumidor. Para mensurar quanto mais barato o biodiesel seria, podemos usar a diferença entre os preços máximos de referência estabelecidos pela ANP a cada leilão de biodiesel. Por determinação do MME os preços do biodiesel nos leilões têm que ser diferentes para as usinas com Selo e sem Selo.
Essa diferença é uma medida para o custo médio de cada região com o Selo. O valor é repassado à ANP pelo MDA. Pelo menos é isso que foi determinado.
Assumindo que o MDA e a ANP estão fazendo o que foi determinado, em 2014 o custo médio do Selo para cada m³ entregue às distribuidoras foi de R$ 38. Assim, para cada litro de biodiesel consumido na mistura com o diesel, o consumidor está pagando 3,8 centavos a mais.
O Nordeste consumiu em 2014, pouco mais de 10 bilhões de litros de diesel. Considerando os valores mensais e as diferentes misturas de biodiesel no ano, isso se traduz em 581,9 milhões de litros de biodiesel. Multiplicando pelo custo do Selo temos um dispêndio da região Nordeste de R$ 22,2 milhões em 2014.
Assim a região mais pobre do país contribuiu com o fomento ao Selo Social com 22,2 milhões. Olhando só para esse montante podemos calcular que R$ 29,6 mil ficaram para os agricultores familiares do Nordeste e o restante foi enviado para os das outras regiões.
Os da região Sul receberam R$ 17,8 milhões captados da população nordestina.
Assim, com uma receita de R$ 4,3 milhões e uma despesa de R$ 22,2 milhões, o Selo deixou a região deficitária em R$ 17,8 milhões em 2014. Esse é mais um motivo que torna correta a afirmação de que o selo combustível social aprofunda as desigualdades regionais do país.
Prapequepss
Apesar de ter a melhor das intenções, o Selo fracassa em alcançar seus objetivos mais fundamentais. A mudança radical já deveria ter sido feita anos atrás. Hoje o Selo existe por que dá poder aos sindicados, federações e confederações de agricultores familiares e por que serve como barreira para a entrada de novas empresas na produção de biodiesel, e não porque inclui socialmente. Como o governo se beneficia do apoio dos representantes da agricultura familiar e não é criticado pelos fabricantes de biodiesel o Selo segue.
Ou alguém apoiaria um programa que visa arrecadar dinheiro de toda a nação para dar assistência técnica para produtores rurais que plantam soja no sul?
É isso que faz o programa do Selo. É claro que existem exceções, mas o custo é muito grande e elas são poucas.
Se for para continuar com o programa do Selo é preciso ser honesto e mudar o nome para algo que reflita melhor o que ele realiza. Minha sugestão é Programa de Auxílio ao Pequeno Produtor de Soja do Sul. A abreviação poderia ser PrAPequePSS, que está bem alinhada com o destino da inclusão social e da diminuição das desigualdades regionais.
Miguel Angelo Vedana - BiodieselBR.com