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Selo Biocombustível Social

Um fundo financeiro para o selo social - Ailton Braga [AgriBio]


BiodieselBR.com - 08 ago 2012 - 09:41 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
Ailton Braga Domingues - Agribio
Ailton Braga apresentou a palestra “Um fundo financeiro para o selo social” no Congresso AgriBio, realizado no início do mês passado. Até há pouco tempo, o palestrante ocupava o cargo de diretor-presidente da Bioverde. Durante sua trajetória na empresa, Braga tornou-se um fervoroso defensor da ideia de criação de um fundo com recursos da indústria do biodiesel que investisse em projetos da agricultura familiar. Para os adeptos desta ideia, isso poderia ser mais eficaz do que o Selo Combustível Social.

Economista de formação com um histórico profissional ligado principalmente ao mercado financeiro, Ailton Braga, descobriu seu gosto pelo setor de biodiesel ao se envolver com o projeto que levaria à criação do IPO da Brasil Ecodiesel. “Ao fazer o roadshow da Ecodiesel, vi que o setor de biodiesel tem um interesse muito grande na agricultura familiar”, relembrou, apontando que ele tem uma visão um pouco distinta em relação à média do empresariado da área.

“Eu acho que temos uma amarra muito forte chamada Selo Combustível Social da qual precisamos nos libertar”, atacou o palestrante quase no começo de sua fala. Ele apontou sua perplexidade com o fato do crescimento das vendas das indústrias de biodiesel não ser acompanhado mais de perto pelo crescimento das vendas de oleaginosas da agricultura familiar. “Eles não caminham a par”, reclamou, ressaltando que é preciso desamarrar os investimentos.

Dependência da soja
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Segundo ele, o maior entrave está no fato de que as demandas criadas pelas regras do Selo Combustível Social empurram o setor para o imediatismo da soja. Além disso, não é eficaz quando o assunto é projetos alternativos de longo prazo. “Temos projetos muito interessantes de plantio de dendê irrigado no Sudeste, mas isso levaria anos até amadurecer e temos um modelo que nos leva a ficar correndo atrás da soja que precisamos para o próximo trimestre”, critica.

Isso não apenas desvia recursos de projetos de diversificação como inflaciona os preços da soja. Nesse sentido, Ailton qualifica a prática de pagamento de bônus sobre a soja da agricultura familiar como um engodo. “Não existe essa coisa de bônus, o nome disso é ágio”, indignou-se. Ele apontou que todo mercado que conviveu por muito tempo com esse tipo de prática acabou “em desastre”.

Embora tenha ressaltado que sua crítica não seja voltada aos projetos de fomento à soja em si, Ailton alerta que a produção de biodiesel deverá crescer 40% quando o governo finalmente aprovar o aumento da mistura obrigatória dos atuais 5% para 7%. A incerteza neste caso é se a produção de soja, referente aos agricultores familiares, vai conseguir acompanhar o mesmo ritmo.

É nesse contexto que Ailton defende a criação de um fundo no qual as empresas do setor poderiam aportar recursos proporcionalmente às suas vendas. Em sua opinião, um fundo bem gerenciado que selecionasse projetos promissores e os financiasse seria mais eficaz do que as metas de aquisição mínimas de matéria-prima produzida pela agricultura familiar e determinadas pelo selo social.

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Na visão do palestrante uma vantagem-chave do fundo seria justamente o fato dele selecionar os projetos a serem financiados. Com critérios mais apurados e uma gestão profissionalizada que garantisse os resultados, os usineiros seriam cotistas desse fundo e poderiam resgatar seus investimentos de tempos em tempos, tanto em dinheiro quanto na forma de matéria-prima.

“Ao invés de eu pegar meu dinheiro e gastá-lo mal em projetos que nem entendo direito, eu colocaria meu dinheiro num fundo gerido por gente da área de agricultura”, comentou. Ainda segundo Ailton, esse projeto seria uma salvaguarda contra fraudes. “Se estou investindo meu dinheiro e sou cotista, vou querer projetos de fato que deem resultados e lucro e não apenas notas fiscais que justifiquem meu selo”, diz.

Os projetos financiados pelo fundo também precisariam transferir conhecimentos para os agricultores. Para Ailton, precisa ficar claro que nem os empresários estão fazendo um favor para os agricultores e nem os agricultores para os empresários. “Isso é um negócio e queremos ter resultados”, resumiu.

O fundo teria uma vantagem adicional ao aumentar a flexibilidade do mercado. Com o modelo atual, os produtores têm suas vendas limitadas à quantidade de oleaginosas da agricultura familiar que conseguem adquirir, isso pode limitar a capacidade das usinas de fazerem vendas maiores de forma ocasional. “Com o fundo bastaria transferir mais dinheiro para continuar enquadrado no selo”, avalia.

Por fim, seria possível até diversificar para outras cadeias que não apenas as de oleaginosas. “Por que eu preciso financiar sempre matéria-prima? E se eu receber um projeto excelente para a produção de alimentos na caatinga, não posso investir?”, provocou.

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com
Tags: Agribio