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Univaldo Vedana

As muitas Oleaginosas e o Biodiesel no Brasil


Univaldo Vedana - 07 ago 2006 - 20:49 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Um país continente, com cinco macro regiões definidas, com solos, clima e regime de chuvas específicos, agronomicamente seria imprudente definir uma oleaginosa para o Brasil inteiro.

A soja produz em todas as regiões, em algumas mais em outras menos, mas produz. Então vamos produzir soja para biodiesel no Brasil inteiro!?

Vamos aos números: Produzimos 50 milhões de toneladas de soja, que rendem nove milhões de tons de óleo que transformado em biodiesel seriam cerca de oito milhões de tons de biodiesel. Consumimos atualmente 40 bilhões de litros de diesel mineral por ano, esta produção de biodiesel de soja serviria apenas para um B20. E nós brasileiros voltaremos a consumir banha suína e outras gorduras.

Para uma mistura entre B2 e B10 poderíamos utilizar somente a soja, acima disto estaremos continuando com os problemas da monocultura da soja alem de subutilizar nossas imensas áreas agrícolas.

Concordamos com alguns especialistas que para garantir o bom funcionamento e durabilidade dos motores deveríamos ter um biodiesel único, padrão nacional, e isto só seria possível utilizando uma única matéria prima, de norte a sul do Brasil, pois como se comportaria um caminhão que abastece em Porto Alegre com biodiesel de soja, reabastece em Curitiba com biodiesel de girassol, em Belo Horizonte com biodiesel de sebo e no nordeste com biodiesel de pinhão manso? Sem dúvida, se este caminhão estivesse rodando com B100 talvez tivesse algum problema, com misturas entre B2 e B20 seguramente as vantagens superam em muito os problemas.

Portanto, para os próximos 20 anos vamos produzir todas as oleaginosas que tenham rendimentos, respeitando a vocação agrícola de cada região, e até lá seguramente nossos engenheiros terão desenvolvido motores que atendam esta miscelânea de especificações de biodiesel.

Não seremos a Arábia Saudita do petróleo verde se optarmos apenas pela soja para biodiesel.

Não podemos subestimar a competência de nossas empresas, engenheiros, pesquisadores que nas últimas décadas fizeram verdadeiras revoluções tecnológicas e industriais na construção de motores e periféricos. Não vamos longe. O álcool no seu inicio foi só problemas: hoje uma solução.
Engenheiros desenvolveram motores bi ou tricombustivel, poderão desenvolver motores de ciclo diesel adaptados para biodiesel oriundo de diversas oleaginosas.

Não podemos esquecer também que pequenas e médias usinas de biodiesel regionais, construídas por cooperativas, grupos de produtores em regiões agrícolas, que farão biodiesel para ser consumido entre associados e parceiros poderão usar uma oleaginosa que melhor se adapte na sua região e melhor remunere o produtor e a indústria e seguramente não será a soja, mas sim uma cultura subseqüente.

Nos próximos anos produziremos muito biodiesel de soja, mas esta produção deverá diminuir ao longo dos anos desde que os produtores entendam que podem produzir outras oleaginosas utilizando as mesmas áreas, sem estarem amarrados por cabrestos pelo poder econômico das multinacionais da soja. Afinal, se produzirem leguminosas além da safra de verão para biodiesel não precisam autorização e nem financiamento para tal, mas somente garantia de compra do que podem produzir.

Univaldo Vedana é especialista em biodiesel e responsável pela primeira fábrica de biodiesel do país abrangendo todo o processo de produção.