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Natureza

Carbono-Moeda - Limitado, mercado afasta pequenos


Folha de S. Paulo - 12 fev 2007 - 07:25 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Fazer parte da cadeia produtiva é uma das formas de lucrar com a venda de carbono

A velocidade do aquecimento global hoje é semelhante à do aquecimento pelo qual devem passar algumas empresas.  Isso porque o aumento de temperatura do planeta -que, pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, pode chegar a 4,5 C até 2100- foi um dos responsáveis pelo surgimento de um novo mercado: o de créditos de carbono.

Com direito a negociação em bolsa, ganham as companhias que conseguem evitar a liberação de gases causadores do efeito estufa.  Na outra ponta, estão corporações incapazes de reduzir a emissão desses poluentes.

Os volumes negociados nessas transações dão a idéia do tamanho desse mercado -o CO2 é negociado em toneladas.

Com essa ordem de grandeza, as primeiras empresas beneficiadas foram as grandes, como as nacionais Sadia e Klabin.

Mas há quem diga que esse mercado -ainda em solidificação- também pode comportar pequenas e médias empresas.  O coordenador de Mudanças Globais de Clima do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Domingos Miguez, é um deles.  Segundo ele, "qualquer projeto que reduza a emissão [de poluentes] pode participar".

Os empresários, no entanto, esbarram em quatro barreiras que os impedem de ir além.  O primeiro é o custo do projeto.

O segundo é a injeção de recursos necessários para fazer as adaptações na companhia; o terceiro, a falta de escala.  Fabrício Brollo, chefe do Departamento de Agronegócios da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), aponta o quarto impedimento para que essas firmas ingressem nesse mercado: o desconhecimento.

Um dos indícios para a afirmação está na baixa procura pelo Programa de Apoio a Projetos do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), lançado em dezembro pela Finep.

Até a semana passada, apenas uma firma, de médio porte, enviara projeto para o programa, que financia o desenvolvimento de soluções e estudos.

Maturação

José Domingos Miguez, do MCT, diz haver alternativas para facilitar o ingresso de pequenas empresas.  Uma delas é a união de firmas em um projeto -o que permitiria a divisão de custos, como no caso dos APLs (arranjos produtivos locais).

É a maneira como pequenos produtores rurais são inseridos em um processo de produção de biodiesel, explica o professor da Coppe-UFRJ (órgão da Universidade Federal do Rio de Janeiro) Emílio La Rovere.

Os agricultores, considera, não teriam de arcar com os gastos gerados pela produção do projeto de mecanismo de desenvolvimento limpo.  Mas a forma como essa renda seria distribuída também ficaria sob a responsabilidade da refinaria.

"Tudo dependerá do contrato.  Os valores da venda de créditos de carbono podem estar embutidos no valor da produção", exemplifica La Rovere.

Além do agronegócio, ele elenca médias empresas, especialmente as do setor de transporte, como possíveis beneficiárias desse novo mercado.

O professor, no entanto, aconselha: "O crédito de carbono não deve ser determinante para implementar o MDL.  É preciso fazer o cálculo de custo/benefício para determinar se a mudança é vantajosa".

Números

210 é o número de projetos de MDL brasileiros aprovados, o que coloca o país em terceiro lugar em número de aprovações, depois da Índia e da China, de acordo com o MCT

2,7 toneladas de CO2 é o volume liberado com a combustão de 1.000 litros de óleo diesel, segundo aponta Emílio La Rovere, da UFRJ

Instituições auxiliam empresários

O seqüestro de poluentes não é a única forma de lucrar com o mercado de crédito de carbono.

É o que o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) apresenta no documento "Mercado de Crédito de Carbono e Oportunidade de Geração de Pequenos Negócios", que será lançado em breve.

Além de enumerar projetos de pequena escala, como a geração de energia por biomassa florestal e programas de eficiência energética e de reflorestamento, a cartilha apresentará áreas em que é possível fazer parceria com grandes empresas.

"É um mercado ainda restrito para pequenas empresas, mas há oportunidades que podem ser exploradas", diz Juarez de Paula, gerente de área de agronegócios do Sebrae.

Outras entidades também estão propagando as oportunidades geradas pela captação de carbono.  É o caso do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), que promove palestras e seminários.

"Recebemos missões de outros países em busca de créditos de carbono", diz Mario Hirose, do Departamento de Meio Ambiente.

Apesar de listar vantagens desse mercado, Hirose recomenda cautela.  "É um investimento de médio e longo prazos."

RAQUEL BOCATO

NA INTERNET:
www.ciesp.org.br
www.sebrae.com.br