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Biodiesel

Álcool e Biodiesel: trapaças e espertezas ‘energéticas’


O Estado de Minas - 28 mai 2007 - 17:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Brasil é lider mundial do desenvolvimento de alternativas ao combustível fóssil. E também em tramóias e trapaças energéticas

Outro dia eu conversava com um engenheiro da área automobilística que se mudou para os EUA há alguns anos e é diretor de uma grande empresa fabricante de motores a diesel. Quando morava no Brasil, ele participou ativamente do desenvolvimento dos primeiros motores a álcool, na década de 70.

Falávamos sobre os biocombustíveis e ele ficou espantado ao saber que nossos carros flex ainda usam o tanquinho de gasolina para ajudar a partida nas manhãs mais frias.

“Ainda tem aquilo até hoje?”

Tive então que lembrá-lo de que os norte-americanos foram mais inteligentes que os brasileiros ao estabelecer, nos EUA, um percentual de 15% de gasolina no álcool, ao contrário do nosso, que é puro. O etanol lá é chamado de E-85 exatamente por conter esse pequeno percentual de gasolina que elimina a necessidade do famigerado tanquinho.

E seu espanto continuou quando soube de algumas tramóias e picaretagens que surgiram em paralelo com os combustíveis alternativos.

Contei do “posto flex”. Ou seja, o grande volume de carros “flex fuel” facilita a picaretagem da bomba de gasolina batizada com um percentual enorme de álcool. Muito mais do que os 23% estabelecidos atualmente pelo governo. Esta trapaça é possível hoje porque os motores flex não engasgam nem tossem mesmo com a gasolina excessivamente ‘alcolizada’. Afinal, foram projetados exatamente para isso, ao contrário do motor a gasolina, que começa a falhar assim que é abastecido com um percentual de álcool acima de 25% ou 30%.

Como o motor flex não protesta, o motorista só percebe que foi trapaceado se fizer as contas do consumo cada vez que abastecer. Caso contrário, vai continuar pagando gato por lebre a vida toda.

O engenheiro custou a acreditar que a trapaça atinge também o álcool ‘puro’, que recebe generosas adições de água. E o que é pior e quase inacreditável: já foi comprovada, em postos do litoral, a adulteração feita com água do mar, pois o sal ajudou a corroer todo o sistema de alimentação e injeção do automóvel.

Mas a ‘esperteza’ não se restringe a distribuidoras e postos desonestos: tem também muito motorista desenvolvendo sua própria ‘solução’ energética alternativa no caso do diesel. Como?

O biodiesel vem sendo maciçamente divulgado pela imprensa. E explicado que já está sendo adicionado ao diesel e que é obtido a partir de óleo vegetal produzido com soja, amendoim, dendê, girassol, pinha, etc. Pois não deu outra: já tem muito ‘esperto’ adicionando óleo de soja ao diesel e quase destruindo a bomba injetora do seu motor.

O biodiesel é obtido a partir do óleo vegetal, mas esse é submetido a um processo químico (chamado de transesterificação) para retirar a glicerina presente nos oleaginosos. É exatamente essa glicerina que provoca enormes estragos no tanque, na tubulação, na bomba injetora, nos bicos e até dentro do motor.

O Brasil desenvolve os mais importantes projetos de combustíveis alternativos do mundo. Mas o governo deve prestar atenção e reforçar a fiscalização, pois o país vem se revelando também campeão mundial das trapaças e espertezas ‘energéticas’.

Por Boris Feldman
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