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Análise da semana 04.mai.07


BiodieselBR - 04 mai 2007 - 16:48 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Análise Semanal 04.mai.07

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A previsão inicial de produção de biodiesel no Brasil em 2007 é de um bilhão de litros, contudo, a produção não alcançará este número, a não ser que ocorra uma reversão no preço do óleo de soja. Não havendo essa reversão (o que é mais provável), a produção de biodiesel deverá alcançar no máximo 500 milhões de litros.

Com isto teremos uma oferta de 50 mil toneladas de glicerina, muito acima do consumo nacional. A conseqüência natural dessa oferta extra é a queda ainda maior nos preços da glicerina, que já caíram 70% no caso da glicerina loira e 50% no caso da glicerina bidestilada desde 2004.

A queda de preço da glicerina deve ser considerada em uma análise de viabilidade de construção de uma refinaria de glicerina junto à usina de biodiesel. A análise deve levar em conta que o preço da glicerina no futuro deve ser menor do que o atual e poderá não compensar o alto investimento. Isso porque a produção de biodiesel deverá aumentar muito nos próximos anos e a produção de glicerina crescerá na mesma proporção, derrubando ainda mais o preço. A refinaria pode ser viável para uma grande usina, mas pequenas e médias não conseguirão equalizar os custos de uma refinaria.

Mesmo não tendo uma refinaria de glicerina, usinas de todos os tamanhos deverão se preocupar com a qualidade da glicerina produzida. Isso porque qualquer que seja a quantidade produzida e o uso dado para a glicerina, a qualidade dela influenciará na rentabilidade (financeira ou energética). Para que seja possível ter uma glicerina de qualidade, a usina de biodiesel deve ter um processo tecnológico que se preocupe com o co-produto e escolher bem o tipo de matéria-prima, pois algumas não produzem uma glicerina tão boa quanto outras e o processo tecnológico pode fazer com que o glicerol resultante da transesterificação tenha uma qualidade próxima da chamada glicerina loira (80% glicerina). Entretanto, as pequenas usinas hoje estão preocupadas apenas em produzir biodiesel que atenda as especificações, não se importando com o estado e o destino da glicerina.

Por não existir mercado para a glicerina produzida, algumas usinas de biodiesel estão utilizando como combustível para a geração de calor e energia queimando em suas caldeiras em substituição a lenha e outros combustíveis.

Diversas alternativas visando utilizações nobres e ecologicamente corretas estão sendo estudadas nos centros de pesquisas das universidades, mas demandam tempo para serem aplicadas no dia-a-dia das usinas. Entre os estudos de grande potencial, podemos citar o que está sendo desenvolvido na universidade americana do estado de Iowa, onde os pesquisadores estão misturando a glicerina na ração para suínos e aves na proporção de até 10%, com resultados preliminares animadores. Esta poderá ser a primeira nova utilidade para a glicerina a ser adotada em função de sua praticidade e grande consumo mundial de ração animal.

Outra pesquisa em andamento e já com resultados promissores é o estudo desenvolvido pela UFPR em Curitiba, transformando a glicerina em compósitos sólidos, ou seja, uma mistura de glicerina, amido e fibras vegetais são transformados em chapas sólidas que poderão substituir a madeira em móveis e materiais de construção. Da pesquisa à linha de produção teremos ainda muitos meses ou anos.

A empresa eTEC Business Development Ltd. sediada na Áustria, tem realizado com sucesso a utilização da glicerina como combustível em um motor gerador de eletricidade. Quando oferecido comercialmente, esses motores poderão gerar energia para as usinas de biodiesel e reduzir os custos de produção do próprio biodiesel.

A glicerina é um triálcool e pode ser transformada em etanol via processos químicos. O que está sendo analisado são os custos desta transformação e a escala de produção mínima. Outra grande possibilidade que está sendo vislumbrada para a glicerina é sua transformação em gás metano através de biodigestores. Neste caso a glicerina seria adicionada a matéria orgânica no biodigestor. As bactérias utilizariam a glicerina como alimento aumentando a produção de gás. Esta utilização depende ainda de estudos para definir percentuais de mistura e relação custo beneficio.

O grupo de pesquisa Co-produtos do Biodiesel (COBIO), apoiado pela SECTI –BA também está desenvolvendo soluções interessantes.


Exportação
Ouvimos com freqüência declarações entusiasmadas vindas de alguns empresários de biodiesel que falam em exportação, mas essas declarações não levam em consideração o lado ecológico do biodiesel. Os efeitos nocivos dos gases emitidos na queima de combustíveis não são regionais, mas sim globais, enviar biodiesel para a Europa ao invés de ser consumido aqui é ecologicamente um erro. Os ganhos ambientais se anulam, ou pode ser negativo quando o consumo do biodiesel ocorre longe de onde ele é produzido e a região produtora continua usando diesel mineral. Ecologicamente, o ideal é que a produção de biodiesel ocorra próxima ao consumo, evitando queimar mais combustíveis no transporte.

Porém, o capitalismo ainda falará mais alto, se os ganhos com a exportação forem maiores o usineiro não hesitará em exportar em detrimento ao mercado interno e ao meio ambiente. O que o mundo está buscando são soluções para diminuir as causas do aquecimento global e este passeio do biodiesel não ajudará em nada. Um passo importante foi dado pela Holanda, sugerindo à Comunidade Européia para que se crie uma barreira verde que servirá para identificar a origem do biodiesel, para saber se foi produzido em área de desmatamento ou se o balanço energético não é negativo. Esta iniciativa mostra que a real consciência ecológica está começando a tomar corpo e no futuro talvez tenhamos o lado ecológico ganhando mais terreno sobre o econômico.


Aquecimento global
O jornal New York Times, adiantou na edição de hoje alguns trechos do relatório que será divulgado por cientistas de mais de 100 países reunidos em Bancoc na Tailândia. A terceira parte do extenso levantamento efetuado pelos cientistas sobre o aquecimento global deixa claro que a redução da poluição poderá ser obtida nos próximos 25 anos utilizando as tecnologias conhecidas e mudanças nas políticas, mesmo assim necessitaria ser seguida por uma transição de um século na busca de novas fontes de energia que não causem impacto no clima. Em outro trecho o relatório afirma: "Nós não podemos mais apresentar a desculpa de que precisamos esperar por mais ciência, ou a desculpa de que precisamos esperar por mais tecnologias e conhecimento de políticas". A primeira parte do documento foi divulgada em janeiro em Paris e concluiu que o aquecimento global é causado pelo homem. A segunda etapa foi divulgada em Bruxelas e abordou os impactos do aquecimento global.

Em novembro os cientistas se reunirão em Valência na Espanha, para compilar as três partes do relatório em um documento somente sintetizando as conclusões do IPCC.


Alimento
E para os que ainda acreditam que os biocombustíveis afetarão a produção de alimentos, aí vão números divulgados pela FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura:
Área apta para agricultura no mundo: 1.862 milhões de hectares.
Área não utilizada: 917,7 milhões de hectares.
Ou seja, a humanidade está usando apenas metade de suas terras disponíveis para a produção de alimentos.


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27 abril

  • Os problemas da Soyminas
  • Óleo e farelo de soja
  • Lucros com a glicerina, sub-produto do biodiesel

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