[Análise] Alimento: participação dos biocombustíveis
"Dedos apontados contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e de carvão". Foi o que disse o presidente Lula na conferência da FAO na Itália ao falar sobre o aumento do preço dos alimentos. A fala foi reforçada com a divulgação de um estudo da Goldman Sachs sobre a utilização dos principais grãos e cana-de-açúcar para a produção de biocombustiveis. Veja os percentuais de cada produto com suas respectivas utilizações:
Trigo |
Milho |
Soja |
Canola |
Cana-de-Acúcar |
|
Consumo Humano |
81% |
26% |
31% |
33% |
85% |
Ração Animal |
17% |
67% |
68% |
57% |
0,40% |
Biocombustíveis |
1% |
7% |
1% |
10% |
14% |
Esses números mostram que a utilização de produtos agrícolas para a produção de biocombustíveis no mundo é muito pequeno e não podem influenciar sozinhos o preço dos alimentos. Esse número também reforça a idéia de que o biodiesel braileiro, feito em grande parte de soja, tem uma participação pequena no consumo mundial de soja, e consequentemente na formação do preço da soja.
Por outro ângulo, o professor de ciência política do Wellesley College de Massaschusetts, publicou um artigo mostrando que a alta do preços do alimentos não afeta tanto os países pobres como dizem. Na África subsariana apenas 16% dos alimentos são importados e no sul da Ásia 4%. Isto quer dizer que a comida básica dos países pobres não recebem tanta influência externa no preço dos alimentos que suas populações consomem.
O preço alto dos alimentos está dando vantagens para alguns setores importantes e consequentemente estes não tem interesse na baixa dos preços. É o lado cruel do sistema capitalista que busca lucros sempre, não importando quem pagará a conta.
A fome no mundo está mais relacionada a falta de renda do que de alimentos. O caso brasileiro serve muito bem para ilustrar. Enquanto exportamos mais de 50 milhões de toneladas, somente de grão e derivados, temos milhões de brasileiros passando fome. Sem contar outros milhões de toneladas exportadas de carne bovina, suína e de frango. Obviamente o aumento na fome do mundo no último ano tem relação direta com o preço dos alimentos. Pois o baixo poder aquisitivo fica menor ainda com essa subida de preço. Mas como está evidente, a maior parcela de culpa no aumento dos alimentos é do petróleo - não dos biocombustíveis.
A análise desta semana continua na página: