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Pesquisa: O que falta


Edição de Jun / Jul de 2011 - 25 jul 2011 - 14:42 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:16

O que falta

Mas nem todo mundo está tão satisfeito. Cláudio Mota, professor do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do grupo de trabalho de coprodutos, diz que vem sentindo uma diminuição nos encargos da rede de dois anos para cá. “Nos últimos anos, as reuniões foram esporádicas. A rede como um todo não tem mais sido consultada sobre a abertura de editais de financiamento para o biodiesel. Ficamos praticamente restritos aos congressos da rede”, reclama.

Mesmo admitindo que se trata mais de uma intuição pessoal, Mota também sente que nos dois últimos anos houve uma limitação dos recursos voltados para a área. “O fomento não parou, mas ficou muito mais restrito a ações via CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]”, diz. O problema, segundo ele, é que as linhas do CNPq colocam mais ênfase na pesquisa em nível de bancada realizada pelas universidades. “Claro que isso é importante, mas, até onde consigo lembrar, não tivemos nenhum edital pela Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] com verbas para projetos mais ambiciosos nesse últimos anos”, critica.

Um levantamento das chamadas públicas feitas pela Finep atesta que a memória de Mota está boa. Em 2005 e 2006, a Finep publicou duas Chamadas Públicas Transversais que, somadas, garantiram R$ 8 milhões para projetos ligados a biodiesel, mas depois disso o biocombustível foi perdendo espaço. A última chamada pública da Finep a mencionar textualmente o biodiesel foi publicada em 2009.

Apesar de confirmar que a Finep não teve temas ligados ao biodiesel no ano passado, o secretário técnico de energia e biocombustíveis da entidade, Laércio de Sequeira, garante que o assunto não está sendo ignorado. Primeiro porque, segundo ele, ações de outros anos ainda estariam em desenvolvimento, mas, principalmente, porque nem tudo passa pelas chamadas públicas. “Nossos recursos são classificados em dois grandes blocos. Temos os recursos não reembolsáveis e que, normalmente, são para instituições de pesquisa e estão ligados às chamadas, mas também temos recursos reembolsáveis que as empresas podem pedir para financiar suas atividades de P&D”, explica, acrescentando que nesse segmento a Finep atua um pouco como banco, fornecendo empréstimos sob condições facilitadas.

Na falta de recursos federais, há as organizações de fomento estaduais que podem cobrir algumas dessas carências. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) conta, inclusive, com um Programa de Pesquisa em Bioenergia (Bioen) que tem ações específicas para a área de biocombustíveis. O professor do curso de engenharia química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rubens Maciel Filho, é membro da coordenação do Bioen e conta que, embora o projeto tenha sua imagem mais ligada ao etanol, o biodiesel recebe “o mesmo grau de importância”. O próprio Maciel trabalha num projeto na área microalgas que tem um pé na produção de biodiesel.

Uma pesquisa simples no site da Fapesp revela que a entidade tem 29 projetos de pesquisa e 67 bolsas de estudo em andamento na área de biodiesel. Para fins de comparação, a mesma pesquisa por etanol retorna 75 projetos e 162 bolsas. Considerando a relevância do álcool para a economia paulista, essa divisão não deixa de ser um alento.

Segundo Maciel Filho, recursos para a área existem. O que às vezes falta aos pesquisadores é saber como acessá-los, uma vez que o grosso dos financiamentos feitos pela Fapesp sai em resposta à demanda espontânea dos pesquisadores. “Os bons projetos não estão deixando de ser apoiados, o que faltam são projetos qualificados”, diz ele, destacando que apesar de relativamente pequena a demanda do biodiesel tem aumentado. “O assunto bioenergia tem crescido nos últimos anos e o biodiesel segue um padrão similar”, completa.

Fica fácil perceber esse crescimento se tomarmos os Congressos da RBTB como parâmetro. No primeiro deles foram inscritos 130 trabalhos científicos, enquanto no do ano passado eles chegaram a 930. É um sinal bem claro de que a pesquisa de biodiesel está se estruturando e crescendo.