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Cinética: Reserva de mercado, venda entre usinas e a surpresa do leilão


Edição de Jun / Jul de 2011 - 21 jul 2011 - 07:38 - Última atualização em: 22 dez 2011 - 10:03

Por Miguel Angelo Vedana


Um leilão de concidências

O 22º leilão de biodiesel da ANP foi surpreendente em vários sentidos. Quando todos esperavam que o racha da Ubrabio fosse causar vendas com um preço baixíssimo, ocorreu o oposto: um deságio quase nulo no primeiro lote. E assim como aconteceu no leilão 20, várias pessoas que acompanham o setor em diversas empresas e órgãos governamentais começaram a se perguntar sobre a real capacidade das usinas, já que a disputa entre elas foi quase inexistente. Outra surpresa foram as coincidências de números. Dos 112 itens do primeiro lote, 33 fecharam com o mesmo preço de R$ 2,2529 e mais 25 fecharam por um preço quase igual, R$ 2,2528. Esses 33 itens foram vencidos por usinas dos mais variados tamanhos e localização, indo de Petrobras a Caibiense, passando por outras 16 usinas. A questão aqui é como explicar que empresas tão distintas tenham chegado ao mesmo custo. Alguém sabe explicar?


Reserva de mercado

Todos sabem que os leilões de biodiesel favorecem as grandes usinas. Uma usina de grande porte com selo pode participar de todo o certame, enquanto uma pequena pode participar apenas de uma fração do volume comercializado. No último pregão, uma usina do tamanho da Beira Rio só poderia participar de 3,64% do volume total ofertado. Apesar dessa disparidade, as pequenas e médias usinas não têm reclamado muito dessa divisão feita pela ANP e preferiram levar a discussão para outro ponto. Elas apresentaram uma proposta de leilões exclusivos para unidades de pequena e média capacidade, criando assim uma reserva de mercado. E essa proposta tem chance de virar realidade? Pelo que se ouve no Rio de Janeiro e em Brasília, é mais fácil termos um leilão com 3.500 itens de 200 mil litros do que um somente para pequenas usinas.


Leilões de estoque

Em maio foi realizado um leilão para repor os estoques da Petrobras que estavam baixos. Sempre que há leilões de estoque, o mercado fica agitado. Mas o que muita gente ainda não percebeu é que leilão de estoque é sinônimo de que algo não está andando bem. Pela regra, os leilões da ANP têm que suprir toda a demanda de mistura de biodiesel no diesel. Se é preciso repor os estoques da Petrobras, é porque está saindo mais biodiesel do que entrando. Os motivos podem ser vários, mas existem três mais prováveis. O primeiro joga a responsabilidade para o MME, que pode ter estipulado um volume abaixo do necessário para atender a demanda do trimestre. A segunda possibilidade fica com a Petrobras, que não estaria retirando o produto conforme o combinado. Na terceira possibilidade, a culpa cairia sobre as usinas, que estariam entregando o limite contratual de 90%, pois o biodiesel foi vendido por um preço muito baixo e quanto menos se entregar, melhor. Para cada uma dessas situações há uma medida preventiva diferente que pode ser tomada, e todas elas estão nas mãos do MME e da ANP, que em última instância são os responsáveis por tudo que acontece no setor, seja por ação ou por omissão.


Longe do consenso

Durante a reunião que selou o racha da Ubrabio, houve uma tentativa de conciliação. Depois de muita discussão, foi sugerido que durante meia hora permanecessem na sala apenas os seis vice-presidentes e o presidente do conselho de administração da Ubrabio. A ideia era negociar a situação para alcançar um consenso. Mas meia hora foi tempo demais. Em poucos minutos o presidente do conselho de administração já havia se retirado da sala sem que tivesse chegado a um acordo. O conteúdo das propostas é desconhecido, mas evidentemente as concessões estavam longe do esperado pelos dois lados.


Venda entre usinas

Depois da última edição da revista BiodieselBR, algumas usinas “descobriram” que a compra e venda de biodiesel entre usinas não pode ser feita livremente. É preciso informar a ANP, e o limite de compra é de no máximo 10% do volume vendido pela usina. Mas aparentemente a descoberta não atrapalhou os negócios. As corretoras continuam cotando o preço do biodiesel diariamente.

Miguel Angelo Vedana