PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
021

Esmagadoras: demanda aquecida


Edição de Fev / Mar de 2011 - 03 mar 2011 - 12:55 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:55

Demanda aquecida

Se a exportação de óleo e farelo deixou de ser competitiva por conta da política tributária, a indústria de esmagamento está tendo no mercado interno o estímulo que precisava. Amaral, da Abiove, destaca o aumento da produção de carnes no Brasil, especialmente de frango e suínos, tanto para exportação como para o mercado interno. “Isso gera uma demanda maior para que seja processada a soja internamente para produção de farelo. O farelo, na verdade, é o driver do processamento; é a maior parte das receitas das indústrias processadoras”, diz o economista, acrescentando que a demanda de farelo vem aumentando mais que a demanda por óleo.

Somado a isso há uma crescente procura por óleo no mercado interno, estimulada principalmente pelo setor de biodiesel. O resultado foi o aumento do esmagamento em determinadas regiões do país onde antes a atividade não valia muito a pena. É o caso do Rio Grande do Sul. “Várias plantas estão voltando a operar, aumentando a capacidade, incentivadas em parte pela demanda de óleo para biodiesel. Nesse ponto de vista, o biodiesel está ajudando a melhorar o processamento interno de soja no Brasil”, diz Amaral.

Na próxima safra, segundo a Abiove, deverão ser colhidas cerca de 8,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul. O Estado possui a terceira maior capacidade de esmagamento, com 17,2% da capacidade total do país, atrás do Mato Grosso (17,7%) e do Paraná (20,7%).

O biocombustível tem ajudado a incrementar as receitas das esmagadoras que optaram por construir usinas. A Camera Agroalimentos, uma das maiores processadoras e comercializadoras de soja do Rio Grande do Sul e recém-chegada ao setor de biodiesel, já prevê um aumento de 32% no faturamento da companhia em 2011, calculado em R$ 350 milhões, por causa da usina.

Dependendo dos preços dos leilões e do mercado de óleo refinado, as empresas têm a vantagem de poder escolher se produzem óleo refinado ou biodiesel. “Essa opção é uma vantagem. Mas não chega a compensar totalmente essas distorções tributárias que existem no Brasil. Você consegue tirar um pouco do prejuízo da Lei Kandir com o biodiesel. De fato ajuda, mas não resolve o problema”, analisa Amaral.


Expansão

O momento do setor no país é de construções e ampliações, tanto por parte das empresas genuinamente nacionais como das gigantes com atuação mundial. Entre as nacionais está a Camera Agroalimentos, que acabou de ampliar a fábrica de óleo bruto e refinado em Santa Rosa (RS). Foram investidos R$ 10 milhões para ampliar a capacidade de produção para 1.500 toneladas por dia, um aumento de 50%. A Granol está utilizando sua capacidade ociosa de processamento e tem planos de expandir as operações para o Estado do Tocantins, onde pretende construir quatro armazéns de soja e uma esmagadora, com capacidade para processar cerca de mil toneladas por dia. A unidade será instalada na cidade de Aguiarnópolis e tem o início das operações previsto para 2013.

Entre as multinacionais está a Bunge, que no final do ano passado anunciou a reativação de sua unidade de processamento em Ponta Grossa (PR). A unidade estava paralisada há um ano. Segundo a direção da empresa, antes a conjuntura econômica não estava favorável e as margens do esmagamento não compensavam as operações.

A multinacional Cargill ampliou a ocupação de suas unidades no Brasil e tem planos de expandir a capacidade de esmagamento. Segundo Sousa, o mercado está favorável para isso. “Vamos continuar crescendo na medida em que a produção de soja e a demanda do mercado doméstico crescem. O Brasil tem grandes vantagens comparativas na produção de carnes – o grande consumidor de farelo de soja – e tem um grande mercado de óleo de soja, tanto para consumo humano quanto uso industrial. O mercado doméstico para o óleo se tornou ainda mais forte e importante depois da implantação do programa de biodiesel”, diz. A companhia possui no país um parque industrial com capacidade para esmagar 16 mil toneladas de soja por dia, operando atualmente em 14 mil t/dia.

É na fábrica de óleos industriais de Mairinque que até o momento a Cargill está fazendo os testes de produção de biodiesel. A entrada da empresa no setor foi muito especulada nos últimos anos, mas sempre considerada como certa. No ano passado veio o anúncio simultâneo de investimentos em biodiesel no Brasil e na Argentina. “A Cargill esperou o que julgou ser o momento certo para entrar no negócio. Nossos investimentos na Argentina e no Brasil têm escopos distintos. No Brasil, o foco é 100% o mercado doméstico. Buscamos, antes de definir a localização de nosso primeiro investimento em usina exclusiva para biodiesel no Brasil, um local em que faça sentido produzir a partir de óleo de soja”, diz Sousa, deixando bem claro que se depender da empresa o biodiesel nacional continuará dependente do óleo de soja. A usina será construída em Três Lagoas (MS).

Esse primeiro investimento da Cargill no setor brasileiro levou em consideração a competitividade do negócio em um ambiente de mercado livre, sem leilões. “Nossos próximos investimentos em biodiesel (ou através de outros green-field ou aquisições) seguirão o mesmo raciocínio”, diz o executivo.