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Alexandre Parker: Futuro


Edição de Dez 2010 / Jan 2011 - 15 dez 2010 - 09:46 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:11
O trabalho de preparação para o S10 e o S50 pode adiar a implantação de novas misturas de biodiesel?
Alexandre Parker
Acho que é um fator a mais que tem que ser avaliado. A qualidade do diesel vai mudar. A gente sabe que o diesel com menor enxofre tem uma lubricidade um pouquinho pior. Nisso o biodiesel pode ajudar a melhorar. Tem coisas que podem até ajudar na introdução desse combustível. Mas o que tem que ver é que o preço da soja varia de uma forma diferente do preço do petróleo. Às vezes é bom ter o B5, e às vezes é ruim. Aí, se aumenta a mistura, fica pior ainda. Por isso é que, como país, temos que encontrar a melhor solução. Não só as montadoras, o governo ou as usinas, mas todos juntos.

No início do programa nacional de biodiesel a Anfavea defendia que esse biocombustível fosse o mais próximo possível do diesel. Hoje a indústria já fala em desenvolver produtos que aproveitem melhor o combustível renovável. Há a possibilidade da criação de um motor biodiesel? Ou que aproveite melhor a mistura diesel/biodiesel?
Alexandre Parker
Acho que hoje o biodiesel é uma realidade, e não só no Brasil. Hoje já se pensa em fazer o desenvolvimento de motores já vendo algum percentual de biodiesel. Esses motores teriam uma melhor eficiência no aproveitamento da mistura.

Em relação aos testes localizados com B10, B20, quais são os resultados que a indústria está tendo que preocupam e quais resultados são animadores?
Alexandre Parker
Ainda não dá para dizer. Ainda é cedo. O positivo é que, como em todos os países, inclusive o Brasil, as montadoras também estão preocupadas em oferecer um produto que aceite misturas maiores. Depende muito da montadora, porque uma ou outra tem disponibilidade menor de recursos. E hoje há um foco muito grande que está sendo dado para atender a Euro 5, para desenvolver produtos para essa norma. Então, não é o momento para trabalhar essa questão do aumento da mistura de biodiesel no diesel, porque está todo mundo focado nesse outro padrão. Acho que depois disso vai haver mais espaço para um programa efetivo com o governo para estudar mudanças na mistura. Acredito que isso vai ser viável a partir de janeiro de 2012.

Há um marco regulatório do setor de biocombustíveis que está tramitando no Senado e que prevê o uso de óleo vegetal em máquinas e veículos agrícolas. Como a Anfavea vê essa possibilidade?
Alexandre Parker
Estamos atentos a isso. A princípio, não vemos como a melhor saída técnica. Sob o aspecto técnico talvez não seja a melhor opção para o país. O biodiesel é um combustível muito próximo das características do diesel. Por que você gasta dinheiro para transformar o óleo num combustível mais próximo do diesel mineral? Porque esse é o caminho natural para os motores diesel de hoje. O óleo vegetal refinado não tem as características que o motor diesel precisa para queimar. Então, é previsível que esse uso vá gerar depósitos com seqüelas para esse motor. Ele não é adequado para queimar esse óleo vegetal.

Mas existe aí essa proposta para uso em máquina agrícola.
Alexandre Parker
Sinceramente, não acreditamos que venha a aprovação disso sem uma discussão técnica, sem uma avaliação com teste. Não acredito que vá sair. Em algum momento a indústria de motores e de veículos vai ser ouvida. Vai ter a oportunidade de defender a necessidade de se realizar mais testes. A questão do combustível alternativo extrapola o desejo de só uma parcela da sociedade. Não adianta eu dizer que desenvolvi um motor que funciona à base de água sem pensar em toda logística e infra-estrutura que um novo combustível demanda. A sociedade como um todo tem que chegar à conclusão de que aquele combustível alternativo é a melhor opção dentro das necessidades que se apresentam. Hoje, por exemplo, nós não temos o gás. Mas vamos ter gás em abundância com o Pré-sal. Talvez as montadoras tenham que desenvolver produtos para atender a essa demanda que essa reserva de gás vai gerar. O desenvolvimento de motores para um novo combustível pode ser rápido, mas a introdução de uma nova matriz energética demanda toda uma infra-estrutura para mudar essa matriz do país. É uma decisão muito maior do que só um lado da sociedade.