Conferência: Qualidade e Concorrência
Qualidade
Que houve um avanço rápido do biodiesel na matriz energética brasileira, ninguém nega. Mas alguns setores defendem que, para que esse avanço continue, a hora é de pisar no freio e fazer uma reavaliação. “Se não seguirmos as regras de manuseio e armazenamento, preservando aí a qualidade do biodiesel, não adianta falar em B7, B10, porque o problema só vai se agravar”, disse o superintendente adjunto de abastecimento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rubens Cerqueira Freitas.
A fala da ANP faz coro com as reclamações já tradicionais das distribuidoras de combustíveis em relação à qualidade do biodiesel. A principal preocupação é com a formação de borras em tanques de armazenamento de combustíveis. Com o aumento do teor de biodiesel no diesel, dizem as distribuidoras, aumentou também o trabalho delas com a limpeza de caminhões e tanques.
Para o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), o país não pode nem pensar em aumentar a mistura sem antes fazer uma revisão criteriosa do PNPB. “O programa se desenvolveu de forma vigorosa, mas precisa ser reequacionado. Temos uma experiência riquíssima de três anos, mas certamente são necessários ajustes”, defendeu o vice-presidente do sindicato, Alísio Vaz.
A indústria de biodiesel reagiu às críticas das distribuidoras destacando que, em termos de qualidade, o diesel vendido no Brasil não é exatamente um exemplo. Mas antes que a discussão descambasse para uma troca de acusações, a ANP fez questão de frisar que a hora é de trabalhar por um objetivo em comum. “Não adianta jogar a culpa um para o outro”, disse Freitas. “Se denegrir a imagem do biodiesel, todos sairão perdendo: os produtores, que investiram e se esforçaram para entregar um produto de qualidade, as distribuidoras e os donos de postos”, completou.
Para resolver o problema, a ANP propõe a criação de pontos de controle de qualidade em todas as etapas de produção do combustível, uma solução que demandará investimentos em pessoal e estrutura. O gasto, no entanto, é necessário, uma vez que a qualidade é um empecilho à ampliação do uso do biodiesel no Brasil. Ainda assim, Freitas é otimista. “O etanol teve sérios problemas de qualidade no passado. Mas a curva de aprendizado do biodiesel será mais acelerada”, declarou.
Concorrência
Como substituto renovável do diesel, o biodiesel ainda não tem competidores. Mas, quando se trata de planejar o aumento do uso desse combustível no Brasil, a concorrência se chama S10 e S50, o diesel de baixo teor de enxofre. Pelo menos é o que defenderam na Conferência BiodieselBR o Sindicom e a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). É que os investimentos necessários para a implantação desses novos tipos de diesel no país até 2012 concorrem, segundo as entidades, diretamente com os gastos necessários para a ampliação do uso do biodiesel no diesel.
A indústria brasileira de biodiesel atendeu ao chamado do governo e correu para investir na ampliação da produção. O problema é que, enquanto a indústria tem espaço de sobra para produzir biodiesel, os demais envolvidos precisam de um tempo para fazer os investimentos necessários. Caso das distribuidoras, que haviam construído tanques e comprado equipamentos para dar conta da adição de até 5% de biodiesel ao diesel, alertou Vaz, do Sindicom. “As distribuidoras estão preparadas para o B5, que é o que a legislação previa até 2013. Qualquer ampliação nesse teor implicará certamente investimentos em tanques e dosadores”, apontou.
Reclamação semelhante faz a Anfavea. A indústria automobilística, diz a associação, investiu em motores e testes para o B5. Agora, precisa negociar com a indústria de biodiesel e o governo um novo programa de ampliação para que novos testes sejam feitos. “Não são todos os fabricantes de veículos que têm recursos para testar o B7 enquanto ainda trabalham no desenvolvimento de produtos para o S10 e S50”, explicou o vice-presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Anfavea, Alexandre Parker.
Mas não é só na bancada dos laboratórios que o B10 concorre com o S10 e o S50. Para Vaz, é nas estradas que se dará o embate mais duro entre os três combustíveis. É que o biodiesel, por ainda não ter um volume de produção grande o suficiente, não pode usar outros modais de transporte além do rodoviário. A situação é idêntica à do S10 e S50. Esses dois tipos de diesel deverão estar disponíveis em todo o país para abastecer veículos diesel vendidos a partir de 2012. “Os volumes desses combustíveis também não justificam o uso de outro modal de transporte que não o rodoviário”, explicou o vice-presidente do Sindicom.