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Conferência: A caminho do B10


Edição de Dez 2010 - 15 dez 2010 - 13:56 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:19
Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba com fotos de Sergio Kanazawa

Quando surgiu, em 2005, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) era o início da formação de uma nova indústria no país. Nos dias 27 e 28 de outubro, o resultado de cinco anos de trabalho pôde ser visto na Conferência BiodieselBR, o maior evento empresarial do setor de biodiesel no país. Centenas de representantes de usinas, fornecedores, distribuidoras, entidades de classe e governo se encontraram para discutir o próximo passo: o uso do biodiesel em teores maiores que 5%.

Naqueles dois dias o que se viu foi um resumo dos desafios que o Brasil irá enfrentar a caminho do B10. De um lado há uma empolgação da indústria com a perspectiva de dobrar a demanda por esse combustível no país. De outro, governo e distribuidoras se preocupam com a qualidade e a viabilidade desse novo salto. Entre os dois lados, no entanto, houve consenso: a chegada do B10 e do B20 é inevitável. O que falta é estabelecer os passos até lá.


Cautela


O Brasil adiantou em três anos a meta de tornar obrigatória a adição de 5% de biodiesel ao diesel. Para as usinas, esse é um sinal claro de que é preciso antecipar também outras misturas para absorver a fantástica capacidade de produção instalada no país nos últimos anos. Para o governo, distribuidoras e fabricantes de veículos, o momento é de cautela. Para eles, é hora de aproveitar os ganhos do programa e parar para avaliar o que deu certo e o que precisa ser ajustado.

Nessa discussão, a primeira questão a ser levantada é sobre a soja. Ela é a solução ou o grande problema do biodiesel brasileiro? Para Denilson Ferreira, coordenador geral de agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o fato de o país precisar incentivar outras oleaginosas não é sinal de que a soja seja a vilã do programa. “O investimento na cadeia poderá fortalecer todo o ciclo de disponibilidade dos óleos”, afirmou. “A própria soja passou por esse fortalecimento com o biodiesel. Antes do programa se falava do óleo como subproduto. Agora já há quem fale em co-produto”, apontou. Ferreira aposta que no longo prazo o papel da soja no setor de biodiesel não deve mudar, mas é possível aumentar a disponibilidade de outros óleos.

O desafio é estimular a formação de cadeias produtivas para outras matérias-primas, como o algodão, a canola, o sebo e o dendê. “Temos que mudar essa terminologia da dependência [do programa de biodiesel] da soja. Temos que deixar de olhar isso sob a ótica da quantidade do biodiesel produzido e ver o aumento da oferta de óleos”, complementou Ferreira.

Sinal disso, aponta, é o programa de estímulo à canola promovido pela BSBios no Sul do país. A iniciativa foi apresentada por Erasmo Battistela no evento. A meta da companhia, como ele contou, é chegar a 200 mil hectares em 2020. “Parece uma meta pequena em comparação com a soja, mas é um grande passo para o programa”. A planta, defendeu, não disputa espaço com o trigo ou a soja. “É a soja de inverno”, comparou. Com isso, o investimento na canola permite que o agricultor diversifique sua renda.

O combustível feito de canola e soja está sendo testado em Curitiba. Doze ônibus do transporte coletivo da cidade rodam com B100 da BSBios. O projeto tem o apoio da Volvo e da Scania e já apontou redução nas emissões de gases causadores do efeito estufa.

Mas o mercado, afirmou César Abreu, diretor industrial da JBS Biodiesel, não precisará depender só da ampliação da oferta de óleos vegetais para crescer. Abreu aposta que o sebo bovino, que representa hoje 15% do biodiesel produzido no país, pode sim ampliar sua participação. A produção de gordura animal depende do crescimento da demanda interna e das exportações de carne, e evolui lentamente. Mas Abreu prevê que as barreiras para as exportações da carne brasileira vão diminuir, estimulando o aumento da produção de sebo. “Dessa forma, a participação dessa importante matéria-prima na matriz energética brasileira deverá crescer”, analisou.