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Óleo vegetal natural: um novo combustível?


BiodieselBR.com - 24 ago 2010 - 15:00 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 10:23
Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba

Que o biodiesel é um avanço tremendo no mundo dos combustíveis, ninguém duvida. Ao invés de perfurar um poço para retirar petróleo (a um custo altíssimo), pode-se simplesmente plantar a matéria-prima; ao invés de construir-se uma usina de refinamento (caríssima), extrai- -se o óleo da planta e monta-se uma usina que pode até ser pequena (e mais barata); além disso, o combustível resultante polui menos e ajuda no desenvolvimento da agricultura.

Agora, imagine só se você pudesse pular a parte do processo em que você ainda precisa da usina. Se fosse possível pegar a planta, extrair o óleo e usá-lo assim mesmo. Seria ainda melhor, não? Pula-se uma etapa cara do processo, a transesterificação do óleo, e obtém-se o mesmo resultado. Apesar de não ser simples, isso é possível.

O uso de óleo vegetal puro é defendido por muita gente. E não só por teóricos, mas também por pessoas que põem a mão na massa e fazem motores diesel funcionarem com material desse tipo. Agora, um projeto de lei em discussão no Congresso Nacional, de autoria do senador Gilberto Goellner (DEM-MT), prevê a liberação do uso do óleo vegetal em máquinas e equipamentos agrícolas, geradores de energia, veículos de transporte de pessoas, veículos do transporte rodoviário, hidroviário e ferroviário para produtos e insumos agropecuários e florestais, bem como no transporte público urbano. A proposta vai de encontro aos anseios de milhares de agricultores que já utilizam o óleo vegetal em veículos diesel, mas sem o respaldo legal que garantiria o aval da indústria de motores.

Voltando no tempo, os defensores do uso do óleo vegetal tentam provar que desde o início os motores diesel estavam destinados a operar com produtos desse gênero. “Rudolf Diesel declarou em 1912 que no devido tempo os óleos vegetais teriam a importância que o petróleo e o carvão mineral tinham naquela época”, diz Sylmar Denucci, engenheiro agrônomo do Departamento de Sementes Matrizes e Mudas da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral de São Paulo.

Os exemplos históricos são vários. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, óleos vegetais chegaram realmente a ser usados em motores diesel. Mais tarde, testes de longa distância mostraram que era possível fazer longos trajetos com o combustível sem problemas. Viagens pelo Brasil, de Belo Horizonte ao Recife e ao Rio de Janeiro, por exemplo, demonstraram a viabilidade.

Mais recentemente, houve quem defendesse a criação de um Pró-Óleo, nos mesmos moldes do Proálcool, do governo federal, que gerou todo o conhecimento sobre etanol que temos hoje no país. Mas a proposta não pegou e o programa foi por água abaixo. Agora, os defensores do óleo voltam à cena e pedem mais uma chance para o combustível.

Quais seriam as vantagens de se usar o óleo puro, ao invés do biodiesel processado que conhecemos hoje? “É mais barato, mais eficiente e mais fácil de fazer”, afirma Thomas Renatus Fendel, um pesquisador que se apresenta dizendo que tem mais de 300 mil quilômetros rodados com óleo de fritura e com suas misturas.

A parte do mais barato e mais fácil de fazer não exige muito esforço para ser entendida. Corta-se toda uma parte do processo que, embora esteja dominada tecnicamente no Brasil, é cara e exige conhecimento. A eficiência, diz Thomas, foi provada com os testes já realizados. Há motores adaptados, segundo ele, que consomem até 20% menos óleo vegetal do que diesel mineral para fazer o mesmo percurso.

Há também vantagens de cunho econômico. Os produtores da matéria-prima teriam um intermediário a menos no processo de compra e venda, e provavelmente sairiam ganhando com isso. O país eliminaria a necessidade de criar infra- estrutura de novas usinas, além de que o armazenamento desse tipo de combustível é mais barato.

Mas é claro que nem tudo são flores. Caso contrário, o óleo já teria dominado o mercado há décadas e o programa de biodiesel talvez nem existisse. Então, quais são os problemas a ser enfrentados?