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Política energética: Entraves


BiodieselBR.com - 05 jun 2010 - 09:40 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 10:36


Entraves

Passar da teoria à prática, no entanto, não é tão simples assim. É importante ressaltar que o Brasil está longe de ser auto-suficiente na produção de óleo de dendê. Para que a oferta deste produto chegue a patamares que atendam o novo mercado de biocombustíveis serão necessários investimentos no desenvolvimento genético e em programas que remunerem o produtor, uma vez que as indústrias alimentícia, cosmética e oleoquímica são as que pagam melhor pelo produto.

Pesquisas revelam que o dendezeiro é uma planta que necessita de temperaturas acima dos 15ºC e muita água para se desenvolver. Dessa maneira, o desafio dos estudos no momento está concentrado em novas plantas com tolerância a climas mais amenos, associado ao uso de lavouras irrigadas.

Alysson Paulinelli, engenheiro agrônomo, ex-ministro da Agricultura e também entusiasta do dendê, afirma que experimentos genéticos com a palmácea estão em fase acelerada na divisão de Agroenergia da Embrapa, empresa cuja criação contou com seu apoio. “Já temos uma excelente notícia, que poderá gerar bons resultados nos próximos meses. A Embrapa trouxe uma espécie de dendê das Filipinas, colocou no cerrado e está irrigando. É um experimento fantástico. Digo isso porque as médias de temperatura têm sido de 11ºC e teoricamente a planta não sobreviveria com menos de 15ºC”, informa.

Gazzoni acredita que é possível viabilizar a produção em larga escala, mas pondera que, por se tratar de uma cultura perene, o resultado definitivo das experiências com o dendê só serão obtidos dentro de quatro anos.

Considerando seus 5 mil quilos de óleo por hectare (dez vezes mais que a produtividade da soja), é inegável o potencial dessa cultura para o setor de biodiesel. Mas também não dá para tirar da conta a participação da soja, uma vocação nacional que responde hoje por 80% da matéria-prima do biocombustível. Atualmente, no Brasil, está na casa dos 6 milhões de toneladas a produção de óleo de soja, que por ser considerado um subproduto do grão não deixará de ter importância na fabricação do biodiesel. Outra importante vocação é o sebo bovino, graças à robustez do rebanho do país, segundo maior produtor mundial. Dados do IBGE e da Scot Consultoria informam que a produção anual de sebo bovino em 2008 foi de 525,2 mil toneladas. Praticamente a metade desse volume foi destinada à fabricação de biodiesel.


Luz ao debate

José Bautista Vidal, físico e um dos elaboradores do programa Proálcool, afirma que a única forma para acelerar o desenvolvimento de novas fontes energéticas seria por meio da criação de uma empresa de economia mista, cujo funcionamento se daria nos mesmo moldes da Petrobras, porém sem o ônus de ter que se preocupar com a produção. Dessa maneira, prossegue, a empresa administraria os recursos obtidos com o pré-sal e apoiaria a produção dos pequenos agricultores. “Esta jazida de petróleo é uma alternativa interessante para conseguirmos gerar recursos e investir em outras energias, como é o caso do dendê”, completa. Porém, Vidal lamenta o que ele mesmo chama de omissão do governo, uma vez que o Brasil é o único lugar no mundo que possui clima e terra suficientes para desenvolver novas matrizes de energia limpa. “Mas os investimentos não seguem este potencial”, critica.

Alysson Paulinelli acredita que os biocombustíveis e o petróleo continuarão sendo utilizados em conjunto, a exemplo do álcool misturado à gasolina. “Desde quando implantamos o programa, sempre enxerguei o álcool combustível como um importante carburante e oxigenador da gasolina. Mesmo após todo este tempo penso do mesmo jeito. No caso do biodiesel é a mesma coisa. O diesel é o maior problema que a Petrobras enfrenta hoje, pois é preciso importar para suprir a demanda interna. Sendo assim, acredito que os recursos do pré-sal serão investidos no desenvolvimento de energias que possam ser utilizadas em conjunto com o diesel fóssil, como o biodiesel de dendê, de macaúba e de outras oleaginosas”, diz o ex-ministro.

Décio Gazzoni faz questão de ressaltar que não é contra a exploração dos recursos do présal. “Temos que agradecer a Deus pelas duas alternativas. O que me chateia é que as referências para programas de energia limpa desapareceram, e eu quero reintroduzir esta discussão”. E é por meio desse debate que o Brasil vai definir qual herança quer deixar para o século 21.