Cinco anos do biodiesel
No início do ano a legislação
sobre a inclusão do biodiesel
na matriz energética
brasileira completou cinco
anos. A lei 11.097 foi sancionada
pelo presidente da República em
14 de janeiro de 2005.
Ao lançar o PNPB, o governo
criou também o selo
Combustível Social. Esse instrumento
deveria ser o salvador
da agricultura familiar na produção
de biodiesel, mas desde
que foi lançado recebeu críticas
de todos os lados. O MDA levou
mais de três anos para promover
as primeiras alterações. Quando
elas vieram, mostraram-se muito
tímidas e mais uma vez não
atenderam as necessidades reais
de inclusão.
O Proálcool começou da
mesma forma: previa a inclusão
de milhões de pequenos agricultores
na produção de cana,
minidestilarias seriam construídas
aos milhares. Após 35 anos
de Proálcool, o que vemos hoje
são grandes plantios de cana e
grandes destilarias. O biodiesel
repetiu, ao menos por enquanto,
o erro do Proálcool na questão
de inclusão social.
Mas ainda há tempo para
corrigir. O governo já tem e poderá
criar outros instrumentos de
incentivo à agricultura familiar,
além de aprimorar os mecanismos
de avaliação. Depende apenas
de vontade e decisão política.
A palma, além de ser a oleaginosa
que mais produz óleo
por hectare, precisa de mão-deobra
em todo o seu ciclo de vida,
atendendo o objetivo de inclusão
social do PNPB. Mas essa planta
ainda não recebeu a devida atenção
do governo, mesmo com o
exemplo concreto de sucesso da
Agropalma no cultivo integrado
com pequenos agricultores.
A iniciativa privada está fazendo
sua parte, embora de forma
lenta, de acordo com sua capacidade
de gerar recursos. Nos
próximos cinco anos a área com
dendê no Estado do Pará deverá
triplicar, saindo dos cerca de 70
mil hectares atuais para 200 mil
até 2015. Parece bastante, mas
é muito pouco para o potencial
brasileiro. O ideal seria chegarmos
em 2015 com 1 milhão de
hectares de dendê. Para isso o
governo precisa se mexer, estabelecer
metas, criar incentivos
e alocar recursos. O plano do
governo para o dendê, pensado
junto com a Embrapa, ainda não
mostrou que pode efetivamente
atender esse potencial.
A Petrobras está investindo,
e muito, na agricultura familiar
no entorno de suas três usinas.
Mamona e girassol são as prioridades
por enquanto.
No centro-sul do Brasil, a
soja é plantada também pelo pequeno
agricultor. Visando inicialmente
esta cultura, a Copel,
empresa de energia do Paraná,
com apoio do governo estadual,
vai construir uma usina com capacidade
para 5 mil litros/dia de
biodiesel integrada a uma fábrica
de 200 toneladas/dia de ração
animal. O projeto será implantado
no sudoeste do Estado, no
município de São Jorge d’Oeste,
em parceria com cooperativas da
região, e contará com a integração
dos pequenos agricultores
para a produção de soja e milho
e o consumo do biodiesel e da
ração animal. O objetivo desse
investimento será provar que
pode-se produzir biodiesel de
forma viável e sustentável através
da agricultura familiar.
Quando o PNPB foi lançado,
a principal bandeira não era
o apelo ecológico, mas o apelo
social. Passados esses cinco anos,
apesar de a inclusão social (ainda)
não ter funcionado, o Brasil
saiu do zero para uma produção
mensal de 200 milhões de litros.
Sem dúvida, um sucesso.
Univaldo Vedana é analista do setor de biodiesel