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5 problemas da mamona


BiodieselBR.com - 15 mar 2010 - 13:40 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 10:42
Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba

Imagine as principais forças de um mercado atuando na mesma direção, com grandes investimentos, e o próprio presidente da República colocando seu nome como garantia de que tudo vai funcionar. Tem que dar certo, não? Ou, melhor dizendo, se não der certo com todo esse apoio, parece difícil que a aposta esteja correta. Pois é. É exatamente esse o caso da produção de biodiesel a partir de óleo de mamona no Brasil. Tudo estava indicando uma mesma direção. O governo federal disse que acreditava plenamente no potencial da mamona, e o próprio presidente Lula fez campanha pelo uso da planta, acreditando que as usinas comprariam material de pequenos agricultores e beneficiariam milhares de pessoas de baixa renda em áreas pobres do Nordeste brasileiro.

As usinas ganharam o incentivo do selo social, que lhe daria vantagens tributárias caso elas aderissem à mamona (ou a outras plantas compradas de pequenos agricultores). A maior empresa privada do setor no período investiu pesado na compra do material e na formação de uma rede de fornecedores de mamona. A gigante Petrobras também investiu. E qual foi o resultado de tudo isso até o momento? Muito pouco, para não dizer quase nada. A Brasil Ecodiesel se viu obrigada a recuar e passou a investir, como quase todas as usinas, em óleo de soja. A mamona não aparece em nenhuma estatística importante do setor. E cada vez mais os técnicos insistem que usar mamona para fazer biodiesel é um desperdício. Praticamente a única a continuar apostando de forma significativa na mamona é a Petrobras. Mas nem ela conseguiu resolver todos os problemas existentes.

Fica difícil continuar acreditando que a oleaginosa será a origem do combustível do futuro no Brasil. Veja a seguir os cinco motivos mais importantes para a descrença.

1) Usinas ignoram a mamona

Os números não mentem, diz a sabedoria popular. Pois então, a melhor maneira de se saber como vai o desempenho da mamona, que foi a menina dos olhos do programa de biodiesel brasileiro, é dar uma olhada nas estatísticas oficiais de produção de óleo no país. Quem mantém os registros é a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). E esses números não deixam ninguém muito confiante. Atualmente, a soja domina soberana o mercado de biodiesel. Entre 70% e 80% da matéria-prima utilizada pelas indústrias, dependendo do mês, é óleo de soja. Em segundo lugar vem o sebo bovino, que costuma ficar com cerca de 15% do bolo. Em terceiro, o algodão, que tem perto de 5% do mercado. E nos últimos boletins da ANP, essas são as únicas matérias-primas que aparecem discriminadas. As outras, juntas, não vão muito além de 2%. Separadas, nem se fala.

E cadê a mamona? Eis uma boa pergunta. No início de 2008, a planta ainda aparecia no relatório da ANP, mas com uma proporção mínima: 0,2% da produção nacional. Isso quer dizer que para cada 500 litros de biodiesel feitos no país, apenas um era de mamona. E, depois, nem mesmo isso. A partir de fevereiro de 2008, o índice da mamona aparece zerado nos boletins.

2) Quem já apostou perdeu

Nos primeiros anos do PNPB, a Brasil Ecodiesel foi a empresa privada brasileira que mais investiu na produção de biodiesel a partir de óleo de mamona no Brasil. E adivinhe o que aconteceu? A empresa quase foi a pique. Certo, não foi apenas a mamona a responsável, mas a aposta na matéria-prima teve peso importante no tombo da gigante.

Logo de início, a Brasil Ecodiesel investiu na criação de uma rede de produtores que pudesse abastecê-la com óleo de mamona suficiente para mover suas usinas e garantir os contratos que ela, vez após vez, vinha ganhando nos leilões públicos para fornecimento de combustível. A empresa tentou montar uma rede de mais de 100 mil agricultores e se deu mal. As lavouras tinham baixo rendimento e os produtores, mesmo tendo contrato com a empresa, acabavam vendendo para quem pagava mais. A Brasil Ecodiesel se viu sem condições de atender todos os seus compromissos.

Em entrevista recente, o novo diretor-presidente da empresa Mauro Cerchiari disse que “a razão principal é que, do ponto de vista logístico, as condições são desvantajosas para o fornecimento de matéria-prima”. Disse mais: que os estudos feitos no Brasil até o momento sobre a mamona e sobre o pinhão-manso (outra aposta de matéria-prima que ainda não decolou) “não foram realizados de forma correta” e que os dois óleos não deram o resultado esperado.

A verdade é que a Brasil Ecodiesel, por esse e por outros fatores, viveu dias difíceis até o ano passado. Agora, depois de uma fase de reestruturação, a empresa tenta ganhar credibilidade e inicia uma fase de retomada. Mas quem disse que é a mamona que vai mover suas usinas? Nada disso. A empresa parece ter aprendido uma lição e agora vai apostar no certo: as usinas estão operando com óleo de soja.