Retrospectiva 2009: biodiesel no Brasil
Na segunda temporada de biodiesel obrigatório nas bombas, o Brasil passou do B3 à confirmação da antecipação do B5, bateu recordes de produção e formulou novas políticas públicas para a área. Houve problemas, é claro. Mas não há como negar que o saldo do ano é extremamente positivo
Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba
Não há dúvidas de que 2008 foi um ano tremendamente importante para a história do biodiesel no Brasil. Afinal de contas, foi o primeiro ano dessa história ou, melhor dizendo, foi o primeiro ano em que o uso do combustível se tornou obrigatório, e com isso o país viveu uma explosão de produção, vendas e consumo. Apesar de alguns percalços no meio do caminho, não há como negar que os avanços foram grandes. Passado o início do programa, porém, é preciso ver como ele se desenvolve. Agora que 2009 vai se aproximando de seu fim, a pergunta que fica no ar é: quando alguém ligado à área de biodiesel olhar para trás, como se lembrará desse ano: com lamentos ou saudades? Foi um ano bom ou um ano para se esquecer? A BiodieselBR fez essas e outras perguntas para especialistas de várias áreas do mercado. E a conclusão é uma só: os percalços continuam existindo, mas isso não impediu que 2009 tenha sido um ano ótimo para o biodiesel nacional.
Começar a explicar isso não é difícil. Basta falar em números. O Brasil começou janeiro com 3% de biodiesel acrescentados ao diesel mineral. No meio do ano, antecipou mais uma meta e passou a usar o B4. E em outubro o presidente Lula fez questão de anunciar pessoalmente, não sem certo orgulho, que o país estava se adiantando novamente no calendário e antecipando a chegada do B5.
Apesar do B5 só começar no dia 1º de janeiro de 2010, as usinas terão que estar prontas antes dessa data. Pode parecer pouco ter 5% de biodiesel no tanque. Mas é preciso lembrar que 24 meses atrás não havia nada lá. E mesmo pensando exclusivamente em 2009: do B3 para o B5 são 60% de aumento na demanda. São 60% a mais de matéria-prima, 60% a mais de esmagamentos, 60% a mais de combustível produzido, 60% a mais de compras de combustível em leilões, 60% a mais de biodiesel distribuído e rodando pelas estradas do país. Ainda parece pouco?
É indiscutível que o aumento da produção – ligado diretamente à chegada do B4 e à preparação para o B5 – foi uma das grandes notícias do ano para quem trabalha na área. Foram fabricados 1,16 bilhão de litros de biodiesel em 2008, e a estimativa para este ano é que a produção chegue a 1,6 bilhão de litros. “Estamos atingindo um novo patamar”, afirma Fábio Trigueirinho, secretário da Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove), resumindo o momento da indústria no Brasil.
Ranking
O patamar alcançado pelo Brasil está levando o país não só a bater seus próprios recordes de produção, como aconteceu em vários meses de 2009, mas a superar também a produção de outros países. Em 2008, depois de uma revisão de dados da Argentina, a produção brasileira de biodiesel se tornou oficialmente a quarta maior do mundo, perdendo apenas para a de gigantes como Alemanha, Estados Unidos e França. E a produção brasileira vem crescendo rapidamente, enquanto a desses três países está em queda em função do aumento de impostos, da baixa do petróleo e de barreiras antidumping.
“Brasileiro gosta dessa coisa de ranking, de dizer que somos maiores”, diz em tom bem-humorado o diretor do Departamento de Energias Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Ricardo Dornelles. Ele acredita que no ano que vem, com o B5, o país poderá se tornar o segundo maior produtor mundial, e que isso só é possível graças ao tamanho do mercado interno brasileiro, que dá suporte para um crescimento rápido e uma produção nesses moldes. “Mas o importante é que isso traduz o esforço da sociedade brasileira para que o biodiesel dê certo”, complementa.
De qualquer maneira, os recordes de produção empolgaram a indústria, que resolveu propor ao governo a idéia do B20 metropolitano. O projeto prevê aumentar mais rapidamente a adição de diesel verde nas regiões mais populosas do Brasil, começando com 8% em 2011 e chegando a 20% em 2018.
O governo anotou a proposta e promete estudá-la. “Temos problemas a resolver antes de decidir pela adoção dessa política”, diz Dornelles. “O B20 implicaria mais custos, certamente. Por outro lado, reduziria a poluição e, por conseqüência, diminuiria gastos com saúde. É uma equação difícil e que ainda temos que botar direitinho no papel para que seja possível tomar essa decisão”, comenta.
Na verdade, as usinas brasileiras aumentaram tanto a sua capacidade de produção que, no primeiro semestre, enquanto não chegava o B4, ficaram com até 70% de sua capacidade ociosa. Para resolver esse problema e acelerar o andamento do programa, o governo acertou ao antecipar os níveis de adição de biodiesel, na avaliação de Juan Diego Ferrés, diretor da Granol. “Até porque o único mercado existente no país hoje para o setor é o da adição de biocombustível ao diesel, que é obrigatória. A antecipação das metas estabelecidas por lei demonstra não apenas consolidação do setor como a correta administração do programa por parte do governo”, elogia.
Para Ferrés, o biodiesel ganhou a simpatia da população, o que facilitou o trabalho de convencimento do governo. “Assim como o governo, a sociedade tomou consciência dos benefícios do programa em diferentes aspectos, que vão dos benefícios ambientais à promoção da agricultura familiar, passando por inúmeros benefícios econômicos e sociais”, defende.
O governo, por sua vez, minimiza o problema do descompasso ocorrido na primeira metade de 2009. “A demanda de biodiesel para a mistura obrigatória é de amplo conhecimento e o mesmo ocorre com a capacidade instalada. Assim, estão dadas as condições essenciais para consolidar progressivamente o setor produtivo, como vem ocorrendo. E esta é a melhor forma de corrigir e evitar possíveis desequilíbrios”, afirma José Honório Accarini, assessor da Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República.
Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba
Não há dúvidas de que 2008 foi um ano tremendamente importante para a história do biodiesel no Brasil. Afinal de contas, foi o primeiro ano dessa história ou, melhor dizendo, foi o primeiro ano em que o uso do combustível se tornou obrigatório, e com isso o país viveu uma explosão de produção, vendas e consumo. Apesar de alguns percalços no meio do caminho, não há como negar que os avanços foram grandes. Passado o início do programa, porém, é preciso ver como ele se desenvolve. Agora que 2009 vai se aproximando de seu fim, a pergunta que fica no ar é: quando alguém ligado à área de biodiesel olhar para trás, como se lembrará desse ano: com lamentos ou saudades? Foi um ano bom ou um ano para se esquecer? A BiodieselBR fez essas e outras perguntas para especialistas de várias áreas do mercado. E a conclusão é uma só: os percalços continuam existindo, mas isso não impediu que 2009 tenha sido um ano ótimo para o biodiesel nacional.
Começar a explicar isso não é difícil. Basta falar em números. O Brasil começou janeiro com 3% de biodiesel acrescentados ao diesel mineral. No meio do ano, antecipou mais uma meta e passou a usar o B4. E em outubro o presidente Lula fez questão de anunciar pessoalmente, não sem certo orgulho, que o país estava se adiantando novamente no calendário e antecipando a chegada do B5.
Apesar do B5 só começar no dia 1º de janeiro de 2010, as usinas terão que estar prontas antes dessa data. Pode parecer pouco ter 5% de biodiesel no tanque. Mas é preciso lembrar que 24 meses atrás não havia nada lá. E mesmo pensando exclusivamente em 2009: do B3 para o B5 são 60% de aumento na demanda. São 60% a mais de matéria-prima, 60% a mais de esmagamentos, 60% a mais de combustível produzido, 60% a mais de compras de combustível em leilões, 60% a mais de biodiesel distribuído e rodando pelas estradas do país. Ainda parece pouco?
É indiscutível que o aumento da produção – ligado diretamente à chegada do B4 e à preparação para o B5 – foi uma das grandes notícias do ano para quem trabalha na área. Foram fabricados 1,16 bilhão de litros de biodiesel em 2008, e a estimativa para este ano é que a produção chegue a 1,6 bilhão de litros. “Estamos atingindo um novo patamar”, afirma Fábio Trigueirinho, secretário da Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove), resumindo o momento da indústria no Brasil.
Ranking
O patamar alcançado pelo Brasil está levando o país não só a bater seus próprios recordes de produção, como aconteceu em vários meses de 2009, mas a superar também a produção de outros países. Em 2008, depois de uma revisão de dados da Argentina, a produção brasileira de biodiesel se tornou oficialmente a quarta maior do mundo, perdendo apenas para a de gigantes como Alemanha, Estados Unidos e França. E a produção brasileira vem crescendo rapidamente, enquanto a desses três países está em queda em função do aumento de impostos, da baixa do petróleo e de barreiras antidumping.
“Brasileiro gosta dessa coisa de ranking, de dizer que somos maiores”, diz em tom bem-humorado o diretor do Departamento de Energias Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Ricardo Dornelles. Ele acredita que no ano que vem, com o B5, o país poderá se tornar o segundo maior produtor mundial, e que isso só é possível graças ao tamanho do mercado interno brasileiro, que dá suporte para um crescimento rápido e uma produção nesses moldes. “Mas o importante é que isso traduz o esforço da sociedade brasileira para que o biodiesel dê certo”, complementa.
De qualquer maneira, os recordes de produção empolgaram a indústria, que resolveu propor ao governo a idéia do B20 metropolitano. O projeto prevê aumentar mais rapidamente a adição de diesel verde nas regiões mais populosas do Brasil, começando com 8% em 2011 e chegando a 20% em 2018.
O governo anotou a proposta e promete estudá-la. “Temos problemas a resolver antes de decidir pela adoção dessa política”, diz Dornelles. “O B20 implicaria mais custos, certamente. Por outro lado, reduziria a poluição e, por conseqüência, diminuiria gastos com saúde. É uma equação difícil e que ainda temos que botar direitinho no papel para que seja possível tomar essa decisão”, comenta.
Na verdade, as usinas brasileiras aumentaram tanto a sua capacidade de produção que, no primeiro semestre, enquanto não chegava o B4, ficaram com até 70% de sua capacidade ociosa. Para resolver esse problema e acelerar o andamento do programa, o governo acertou ao antecipar os níveis de adição de biodiesel, na avaliação de Juan Diego Ferrés, diretor da Granol. “Até porque o único mercado existente no país hoje para o setor é o da adição de biocombustível ao diesel, que é obrigatória. A antecipação das metas estabelecidas por lei demonstra não apenas consolidação do setor como a correta administração do programa por parte do governo”, elogia.
Para Ferrés, o biodiesel ganhou a simpatia da população, o que facilitou o trabalho de convencimento do governo. “Assim como o governo, a sociedade tomou consciência dos benefícios do programa em diferentes aspectos, que vão dos benefícios ambientais à promoção da agricultura familiar, passando por inúmeros benefícios econômicos e sociais”, defende.
O governo, por sua vez, minimiza o problema do descompasso ocorrido na primeira metade de 2009. “A demanda de biodiesel para a mistura obrigatória é de amplo conhecimento e o mesmo ocorre com a capacidade instalada. Assim, estão dadas as condições essenciais para consolidar progressivamente o setor produtivo, como vem ocorrendo. E esta é a melhor forma de corrigir e evitar possíveis desequilíbrios”, afirma José Honório Accarini, assessor da Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República.