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Coluna: Palmas para a palma


BiodieselBR.com - 19 nov 2007 - 14:54 - Última atualização em: 19 dez 2011 - 17:33

Recentemente, no meu blog, tenho escrito sobre várias oleaginosas. Dediquei um texto inteiro ao caso da soja, em que afirmei que não se trata da melhor alternativa, mas que muitos aspectos positivos merecem destaque. Após minha participação em Aracaju (SE) no 1º Encontro Nacional da Moringa (Enam), destaquei algumas vantagens dessa opção. E em outro texto, mencionei que em palestras e seminários recebo com muita freqüência perguntas do tipo: “Professor, se o senhor tivesse dinheiro para investir na produção de matérias-primas para biodiesel, qual seria a sua opção?” A cada dia que passa, minha opção preferencial aponta para o dendê. Essa opção é vitoriosa, palmas para a palma.

Desde 2003, quando estive na Agropalma pela primeira vez, fiquei impressionado com o dendê. Não apenas pela beleza de suas árvores ou pelos seus números de produtividade de óleo por hectare, mas por ter visto de perto o impacto que essa cultura possui sobre a renda das famílias envolvidas. Destaquei em meu site uma das reportagens sobre o tema (“A Revolução Social do Dendê”*), que tratava do aumento de renda de pequenos produtores em convênio com a Agropalma. De lá para cá, muita coisa tornou o cenário para o dendê ainda melhor.

Em 2006, estive pela primeira vez na empresa ASD, na Costa Rica. Visitei plantios comerciais e experimentais, viveiros e pré-viveiros, acompanhei o processo de cruzamento inteligente entre diversas espécies coletadas no mundo inteiro, vi clones das espécies compactas e todo o processo de preparação das sementes, que são exportadas para o mundo inteiro, sobretudo para Malásia e Indonésia. Fiquei impressionado com essas variedades compactas (espécie de “dendê-anão”), já produzindo comercialmente na casa de 6 a 9 toneladas de óleo por hectare, além de serem bem precoces. Embora eles digam que os primeiros frutos surjam cerca de 18 meses após o plantio das mudas, pude ver frutos em árvores com menos de um ano de plantio. É muito bom ver uma empresa de um país latino ser a líder mundial em um setor que demanda tecnologia e (muita) paciência no seu desenvolvimento.

Depois disso, estive visitando inúmeros experimentos na Colômbia, na Malásia e na Indonésia. Quando eu falava para técnicos desses países da disponibilidade de terras e do programa de biodiesel no Brasil, alguns deles achavam que dificilmente qualquer empreendimento conseguiria implementar mais que 2 ou 3 mil hectares de novos plantios por ano. A maior dificuldade é o treinamento de uma mão-de-obra apta a trabalhar em tão grande extensão de terra. Ao contrário da soja, quase tudo na palma é feito manualmente. A produção de óleo é mais de dez vezes superior à da soja, mas exige-se um investimento inicial também bem maior.

Pouco tempo depois, já temos números aqui do Brasil. O consórcio Biopalma-Vale conseguiu plantar cerca de 5 mil hectares em um ano, e agora a previsão é de 12 mil novos hectares por ano, um novo recorde. Uma oportunidade fantástica para o Estado do Pará, que possui cerca de 20 milhões de hectares devastados.

Novos empreendimentos no plantio de dendê, como os da Petrobras, Brasil Bio Fuels e outras empresas, também seguem em ritmo acelerado, não apenas no Pará, mas também em Roraima, Rondônia e Amazonas, entre outros Estados, sempre seguindo os cuidados ambientais necessários e certamente gerando muito mais renda do que qualquer outro empreendimento atualmente desenvolvido na região.

Como diria o meu amigo Sílvio Maia, grande autoridade na matériaprima, temos que ter cuidado para não transformar o dendê em uma nova mamona. O modelo da Agropalma trouxe grandes benefícios para o pequeno agricultor porque existe toda a infra-estrutura para que isso ocorra. A agricultura familiar vem conseguindo excelente produtividade com o dendê, mas graças a assistência técnica, convênios com bancos para garantir renda antes da primeira colheita, garantia de compra dos cachos e vários outros itens que o projeto da Biopalma-Vale vem também adotando. Não há muito o que “inventar” nessa questão. O projeto de agricultura familiar funciona como um “apêndice” de um projeto principal que coordene toda a cadeia, incluindo na medida certa os pequenos produtores e trazendo benefícios para todos.

*A reportagem pode ser acessada em: www.u.nu/393e3

Donato Aranda é professor de engenharia química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui o título de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.