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Alysson Paulinelli: Embrapa


BiodieselBR.com - 17 jun 2007 - 08:53 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:48
Revista BiodieselBR Como o senhor, que acompanhou a criação e o desenvolvimento da Embrapa, vê a atuação dela hoje?

Alysson Paulinelli Em um grande esforço de país subdesenvolvido – e o Brasil acertou nisso – foi criada uma instituição que teve autonomia administrativa, técnica e financeira. Até certa época, porque hoje ela não tem mais. Hoje ela está quase igual ao Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPEA). O que se buscou, na época, foi acabar com essa história de ser um país importador de tecnologia, porque as tecnologias importadas não eram compatíveis com nosso clima, eram de regiões temperadas. A Embrapa pôde fazer um trabalho excepcional, contratar e treinar profissionais e montar projetos de interesse nacional. Com seus 16 centros nacionais iniciais, 12 em produtos de importância para o Brasil e quatro em função de regiões, ela conseguiu criar em 30 anos uma nova agricultura no mundo, a chamada agricultura tropical competitiva. E foi ela que iniciou essa revolução para o Brasil. Agora, na hora de montar um Centro Nacional de Agroenergia, a Embrapa não recebe o apoio que precisava ter. Isso é um erro muito grande.

A grande bandeira do governo com o biodiesel foi a inclusão social, mas os resultados foram duvidosos. Como o senhor vê esta questão?

Alysson Paulinelli
Eu sou absolutamente a favor da inclusão social, mas quem deve fazer isso são os órgãos públicos [hoje a assistência rural fica a cargo das usinas]. O governo precisava melhorar sua participação na pesquisa e na transferência da tecnologia, que estão muito aquém da necessidade. Se não for feito isso para o pequeno produtor, ele não vai produzir. Acho até que a empresa pode e deve ajudar, mas na forma de organização da produção e não com a responsabilidade de fazer a assistência rural. O governo faria isso com muito mais eficiência, porque ele não ia montar um esquema de assistência técnica para um projeto, ele monta para vários.

Como acelerar o desenvolvimento de oleaginosas alternativas à soja?

Alysson Paulinelli Novamente, primeiro a pesquisa, para melhorar nossa capacidade de produção agrícola e industrial. E eu não estou vendo isso. Eu ouço muito discurso de que vão fazer isso e aquilo, mas os pontos fundamentais não estão sendo atacados. O Brasil é potencialmente o maior produtor de óleo do mundo. Temos a maior diversidade de palmáceas, fora as outras oleaginosas. A jatropha, por exemplo, é de origem brasileira. Ela teve que ir lá para fora para poder ser melhorada. Por que não melhoramos aqui? Porque não houve decisão política para isso. No entanto, estamos usando a soja, que é uma commodity cara, com preços que tornam o óleo quase inviável. Segundo, é preciso estímulo, mesmo que no início haja necessidade de subsídio.

O Brasil poderia ser auto-suficiente em canola, dendê e girassol. No entanto, hoje importamos esses óleos. Onde o governo está errando?

Alysson Paulinelli Nós estamos pecando na base, e com isso estamos perdendo tempo. Eu tive um medo tremendo porque houve um determinado momento em que se falava em criar sete instituições de pesquisa nessa área. Ora, se já existe uma eficiente instituição, reconhecida no mundo inteiro, que é a Embrapa, por que criar outras tantas, dispersando recursos? A Embrapa foi criada para justamente evitar duplicações. Aquele modelo que nós montamos na década de 70 era um modelo cooperativo de pesquisa, que se transformou no Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), um esforço conjunto do governo federal, universidades e iniciativa privada. Quando se acabou com a Embrater, quase que acabaram também com a Embrapa. Quer dizer, nós estamos andando para trás. A Embrapa está hoje muito mais burocratizada e amarrada.