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Competitividade do biodiesel: Viabilidade


BiodieselBR.com - 08 jul 2007 - 12:53 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:53
Viabilidade

De acordo com o estudo, somente o esgoto e a borra de ácidos graxos – e o óleo de fritura, no primeiro ano – permitem a fabricação de um biodiesel mais barato que o óleo diesel (veja gráfico). Entre os insumos cultivados, o dendê é um dos que permitem preços mais próximos aos estimados para o diesel mineral, seguidos de longe pela soja – apesar de esta ser a matériaprima mais utilizada na produção de biodiesel, com 85,37% de participação em março deste ano.

A produção de óleos vegetais atualmente é focada em atender aos mercados alimentício, químico e farmacêutico. Esta competição não é muito saudável para o setor de biodiesel. “O que forma o preço do óleo vegetal é, claramente, a indústria nutricional, que domina mais de 90% do mercado de óleos vegetais e consegue pagar preços mais altos do que a indústria de energia”, afirma o engenheiro agrônomo Décio Gazzoni, coordenador do plano estratégico para o setor do agronegócio, desenvolvido na Subsecretaria de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de 2007 para cá o aumento de preço do óleo diesel foi em torno de 15%. Já o óleo vegetal chegou a dobrar e a triplicar em alguns locais. As projeções da EPE não são nada animadoras para os novos insumos cultivados: os preços, atualmente elevados, continuarão crescendo, o que sinaliza a necessidade de um vigoroso estímulo à pesquisa agrícola e ao cultivo em grande escala.

Diante desses desafios a serem superados e de tantas matériasprimas possíveis para a fabricação do biodiesel, a questão é qual delas pode ser mais rentável e competitiva. Os especialistas divergem um pouco nessa questão. O esgoto chama a atenção pelo seu custo nulo, mas é consenso entre especialistas que ele ainda não pode ser considerado uma matéria-prima viável economicamente. “Surpreendeume a EPE ter incluído o esgoto no estudo. Do ponto de vista acadêmico, faz todo o sentido. É claro que é uma matéria-prima e existe tecnologia para transformar a gordura de esgoto em biodiesel. Mas o problema é a logística, quando estamos falando de centenas de milhões de litros”, contesta Gazzoni. O mesmo acontece com a fritura, segundo ele. “Imagine a logística que precisaria para coletar 100 ou 200 milhões de litros de óleo de cozinha usado”, questiona.

Luciano Basto, pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) e responsável pela patente da pesquisa que usa esgoto como matéria-prima para a produção de biodiesel, admite que o processamento do insumo ainda está em fase de aperfeiçoamento. “A tecnologia só vai poder ganhar escala depois que tivermos uma primeira usina, o que deve acontecer só em meados do segundo semestre. Mas sua competitividade financeira, que deve ser comprovada, nunca será suficiente para eliminar o mercado dos óleos vegetais, pois sua disponibilidade é limitada”, ressalva. Ele ainda vê outro problema: a alteração da especificação brasileira, que passou a exigir teor de ésteres em 2008. “Quando a patente do biodiesel de esgoto foi desenvolvida, não havia este requisito, que inclusive continua desprezado nos Estados Unidos. Para enquadrar o produto na especificação, estamos tendo algumas dificuldades, que representam aumento de custo de processo”, lamenta.

Enquanto os insumos graxos de menor custo (como o esgoto, a fritura e a borra) ainda enfrentam algumas dificuldades, especialistas têm feito suas apostas em outras oleaginosas, principalmente no dendê. “Certamente, em termos de óleo, o dendê é o que tem maior competitividade, pelo seu rendimento por área”, afirma Silvio Porto, diretor de Logística e Gestão Empresarial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O dendê tem um rendimento em óleo de até 5.000 quilos por hectare, enquanto a soja rende cerca de 400 a 800 kg/ha. “É importante ressaltar um projeto que começa a ser implantado na região Norte para o aumento significativo da produção de óleo de dendê – que é 25% mais barato que o óleo de soja no mercado internacional”, concorda Basto, se referindo ao programa do governo federal de incentivo ao plantio desta oleaginosa em áreas degradadas.

O dendê, na avaliação de Gazzoni, é a matéria-prima que tem condições de criar menos conflitos com o mercado nutricional. “Existem três motivos para isso: historicamente ele é o óleo vegetal mais barato; o Brasil tem a maior área em potencial para a produção de dendê; e principalmente pela alta taxa de rendimento por hectare plantado. Daqui a 20 anos, com o desenvolvimento da tecnologia, podemos chegar a nove toneladas por hectare”, prevê. De acordo com ele, estudos dão conta de que o Brasil teria até 30 milhões de hectares – o equivalente a sete vezes o Estado do Rio de Janeiro – de áreas próprias para o plantio de dendê.