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Entrevista com Décio Gazzoni: Pinhão-manso


BiodieselBR - 11 nov 2007 - 13:23 - Última atualização em: 20 dez 2011 - 11:19

Revista BiodieselBR Em abril, a engenheira química cubana Neyda Om Tapanes defendeu na UFRJ a primeira tese de doutorado no país sobre o potencial do pinhão-manso, cujo óleo tem custo de US$ 280 por tonelada, contra US$ 580 do óleo de mamona e US$ 450 do óleo de soja. E com uma produção até 6,6 vezes maior. O senhor acredita que pode estar aí o pulo do gato na questão do biodiesel?

Décio Gazzoni A Embrapa está começando a trabalhar com o pinhão- manso agora. O que a pesquisa dela diz é correto sim, mas ainda precisamos avançar para uma escala maior, comprovando isso tudo que ela descobriu e desenvolvendo variedades do pinhão-manso, porque só temos uma espécie. Além disso, há a necessidade de se elaborar um sistema de produção industrial e um eficiente controle contra pragas. Para mim, o pinhão-manso é, sem dúvida, uma excelente opção e precisamos desenvolver tecnologia para isso. O Ministério de Minas e Energia está nos dando recursos razoáveis para buscarmos essas alternativas.

Revista BiodieselBR
O senhor acha que o cultivo do pinhãomanso poderia ser a resposta definitiva do Brasil para esse embate entre alimentos e biocombustíveis?

Décio Gazzoni
Temos que analisar o pinhão-manso com muito cuidado, até porque temos exemplos de outras saídas viáveis. A usina Santa Elisa, uma das maiores produtoras de álcool do país, viu uma grande oportunidade de produzir o sucessor do diesel a partir da cana-de-açúcar. Daí se vê que apontar uma solução definitiva é algo arriscado porque a ciência é muito dinâmica. Estamos sempre abrindo novas janelas.

Revista BiodieselBR O país poderia criar cinturões agrícolas, tal como os EUA, para cultivo de alimentos e produção de óleo para biocombustível?

Décio Gazzoni
Não precisamos copiar o modelo deles porque temos muito mais recursos naturais e podemos nos dar o luxo de quintuplicar a área para produção de alimentos e energia sem nenhum problema. Mas temos que encontrar uma maneira de integrar tudo isso aos aspectos sociais e ambientais, porque o mundo nos cobra isso. Não sei se vamos chegar aos cinturões, mas me preocupa mais resolver problemas de logística e de ordem tributária.

Revista BiodieselBR
Quanto à produção de alimentos, qual deve ser a política brasileira para que não haja conflito de interesses entre comida e biodiesel?

Décio Gazzoni Se pudesse sugerir ao governo, eu diria que seria preciso trazer cabeças muito boas para planejar o futuro e políticas agrícolas gerais para produção de flores, fibras, bioenergia e produtos medicinais. Precisamos saber tudo isso e quanto crédito precisaríamos para desenvolver esse negócio, onde implantar hidrovias e portos, e deixar o setor privado produzir, estimando taxas de juros e fazendo uma política agrícola para o médio prazo. É preciso haver um planejamento estratégico para uns 20 ou 25 anos. Sem isso, não há como falar em política agrícola.

Revista BiodieselBR O ministro Mangabeira Unger, do Longo Prazo, não poderia ajudar a resolver esse entrave?

Décio Gazzoni
O Mangabeira? Sinceramente, não sei para que ele serve para além do discurso. Ele me parece um grande enganador, mas caiu nas graças do vice-presidente. Ele não me engana não. Ele me parece que escreve e fala muito, mas sem capacidade para produzir fatos e conseqüências.

Revista BiodieselBR O Brasil possui terras, água, luz solar, mãode- obra e até megapoços de petróleo e gás natural. O país não estaria com a faca e o queijo nas mãos para ditar a sua política energética para o mundo e tirar proveito disso através da exportação do biocombustível?

Décio Gazzoni Sim, mas isso não depende só de nós. O pessoal lá fora não vai abrir o mercado doméstico de jeito algum. O liberalismo vale onde o primeiro mundo é extremamente competitivo. Quando é o inverso, apelam para mil e um artifícios. O Lula está bem assessorado, mas sozinho é um Dom Quixote numa luta encarniçada. Ele já está dando canelada lá fora, mas não dá para usar luvas de pelica nessa briga.