O poder das flores
Estudos apontam o girassol como uma das mais promissoras oleaginosas para produção de biodiesel
Raquel Marçal, de Curitiba
O campo brasileiro está mais florido em 2007. De olho nas oportunidades oferecidas pela indústria do biodiesel, produtores de grãos do país apostaram no cultivo de girassol. Segundo César de Castro, pesquisador da Embrapa Soja, em Londrina (PR), a área plantada no Brasil deve saltar de cerca de 100 mil hectares para 200 ou até 300 mil hectares já na próxima safra. “Com base nessa projeção, entre as oleaginosas, apenas a soja e o algodão teriam uma área cultivada maior do que o girassol no país”, constata.
No final dos anos 90 o girassol apareceu como uma alternativa rentável para a entressafra de culturas como soja e milho. A planta não exige muitos cuidados e pode ser colhida usando as mesmas máquinas e mão-de-obra empregadas na colheita principal. “A lavoura de girassol é simples, de pouco custo”, revela Allan Guerra, presidente da Cooperativa Agroindustrial do Parecis (Coapar), que produz biodiesel de girassol em Campos de Júlio (MT) (leia mais sobre a cooperativa no quadro na página 25). Outro ponto a favor do uso da oleaginosa na safrinha é o fato de a planta diminuir a incidência de pragas, doenças e ervas daninhas e poder ser incorporada ao solo como adubo.
Mas a adesão dos produtores à Helianthus annuus L., nome científico da planta, só tomou força graças a estudos recentes que apontam o girassol como uma das mais promissoras oleaginosas para a produção do biodiesel. Com um teor de óleo que pode oscilar entre 38 e 48%, dependendo do solo, do clima e do tipo de adubação usada, rende cerca de 600 quilos de óleo por hectare, contra 450 quilos, em média, obtidos com a soja.
Os pesquisadores descobriram que ele também tem vantagens frente a outras alternativas, como a mamoma. “A mamona, assim como o amendoim, tem teor médio de 47% de óleo e é uma planta interessante”, afirma César de Castro, da Embrapa Soja. “Mas a mamona tem baixa produtividade de grãos por hectare”, ressalta.
Embrapa desenvolve genótipos de girassol que além do elevado teor de óleo, têm ciclo precoce ou semi-precoce e uma imensa capacidade de adaptar- -se a diferentes estados brasileiros. Um desses estudos é feito em Boa Vista (RR) desde o ano 2000. Com o uso de adubação nitrogenada, os pesquisadores conseguiram resultados animadores.
A produtividade ficou entre 1,4 e 3,4 toneladas por hectare, ou seja, chegou a superar o dobro da média nacional de 1,5 tonelada por hectare. Os teores de óleo obtidos atingiram 55%.
Outra vantagem importantíssima atestada pelos pesquisadores é a resistência à seca. Embora precise de um nível de chuvas entre 500 e 700 milímetros por ano, a raiz da oleaginosa alcança cerca de dois metros no subsolo, o que possibilita o cultivo até no semi-árido brasileiro, onde o índice pluviométrico anual freqüentemente fica abaixo de 500 milímetros.
Com tantas boas notícias, osusineiros intensificaram as parcerias com pequenos e médios produtores, que recebem treinamento, sementes e garantia de compra da produção a preços pré-fixados. A ordem agora é aumentar a oferta da matéria-prima, que está longe de ser suficiente para suprir a demanda vinda não só das usinas de biodiesel como também do setor alimentício. Segundos os especialistas, somente a falta de grãos pode impedir o girassol de ser usado em maior escala nas usinas.
Se de um lado os usineiros tentam garantir a matéria-prima, de outro, existe a preocupação com a venda da produção. Por enquanto, a venda do biodiesel é feita principalmente por meio de leilões promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que estipula a quantidade a ser vendida e o preço máximo.
O valor oferecido pela ANP – R$ 1.904,51 por metro cúbico no último leilão – desagrada. “Não compensa”, avalia José Silva Carreiro, proprietário da Biocar, usina que entra em operação neste segundo semestre em Dourados (MS), utilizando o girassol, entre outras matérias-primas. “Nesse cenário, prefiro vender óleo para a indústria alimentícia a produzir biodiesel”, afirma Carreiro (veja a cotação do óleo de girassol na página 24).
Já o glicerol é usado principalmente na indústria de cosméticos. “Essa venda (dos subprodutos) é significativa”, avalia Allan Guerra, da Coapar. Segundo ele, é a venda do farelo, a R$ 150 a tonelada, e do glicerol, a R$ 2 o litro, que paga os custos da cooperativa.
De acordo com o engenheiro agrônomo Gilberto Grando, da empresa Helianthus do Brasil, produtora de híbridos de girassol, o mercado paga até R$ 350 por tonelada de farelo.
Grando só vê um inconveniente: apesar de tudo, o mercado ainda prefere o farelo da soja. “Os especialistas em alimentação animal, em geral, desconhecem as qualidades do farelo de girassol”, afirma o especialista. “No entanto, a Rússia produz mais de seis milhões de toneladas desse farelo por ano e mesmo tendo um plantel de animais menor do que o do Brasilnão tem problema para comercializar o produto.”
O óleo foi testado puro em tratores com motor de injeção indireta (com antecâmara de combustão) durante 700 horas. Já os tratores com motor de injeção direta rodaram por até 1.000 horas com uma mistura composta por 30% de óleo de girassol natural, 65% de óleo diesel e 5% de gasolina comum. A mesma mistura foi usada em um caminhão Mercedes-benz 1313, durante 6.000 quilômetros. Segundo Denucci tanto no teste com o óleo puro quanto no realizado com a mistura nenhum problema ocorreu nos motores durante o período de testes, e tiveram desempenho e consumo considerados excelentes.
Agora, os técnicos começam a testar o uso do óleo vegetal puro em um trator com motor de injeção direta. Nesse caso, foi preciso instalar um kit de pré-aquecimento do óleo, que faz a partida e a finalização do trabalho com diesel comum, para contornar o problema de alta viscosidade. “Os óleos vegetais utilizados por nós são em média dez vezes mais viscosos que o diesel, o que dificulta a completa combustão desses óleos”, explica Sylmar. Nos motores de injestão direta isso provoca a deposição de resíduos que podem causar danos graves ao motor.
A cooperativa absorve toda a produção, transforma em combustível e o devolve aos cooperados. “A expectativa é que os cooperados possam usar o biodiesel em todos os processos produtivos: na lavoura, no frete da semente, no frete do fer tilizante, na entrega do grão”, diz Allan Guerra, presidente da Coapar. “Dessa forma vão diminuir enormemente seus custos”, completa. Segundo ele, a economia é grande. O biodiesel custa ao produtor R$ 1 o litro, enquanto pelo diesel de petróleo paga-se R$ 2,10 o litro.
O objetivo é que em cinco anos a produção chegue a 12 milhões de litros. Até lá, a área de girassol destinada ao biodiesel – que hoje é de seis mil hectares – deve aumentar para 20 mil hectares.
A previsão é fechar 2006/2007 com 105,9 mil toneladas. • Argentina, Rússia, Ucrânia e União Européia são os maiores produtores mundiais de sementes de girassol.
Raquel Marçal, de Curitiba
O campo brasileiro está mais florido em 2007. De olho nas oportunidades oferecidas pela indústria do biodiesel, produtores de grãos do país apostaram no cultivo de girassol. Segundo César de Castro, pesquisador da Embrapa Soja, em Londrina (PR), a área plantada no Brasil deve saltar de cerca de 100 mil hectares para 200 ou até 300 mil hectares já na próxima safra. “Com base nessa projeção, entre as oleaginosas, apenas a soja e o algodão teriam uma área cultivada maior do que o girassol no país”, constata.
No final dos anos 90 o girassol apareceu como uma alternativa rentável para a entressafra de culturas como soja e milho. A planta não exige muitos cuidados e pode ser colhida usando as mesmas máquinas e mão-de-obra empregadas na colheita principal. “A lavoura de girassol é simples, de pouco custo”, revela Allan Guerra, presidente da Cooperativa Agroindustrial do Parecis (Coapar), que produz biodiesel de girassol em Campos de Júlio (MT) (leia mais sobre a cooperativa no quadro na página 25). Outro ponto a favor do uso da oleaginosa na safrinha é o fato de a planta diminuir a incidência de pragas, doenças e ervas daninhas e poder ser incorporada ao solo como adubo.
Mas a adesão dos produtores à Helianthus annuus L., nome científico da planta, só tomou força graças a estudos recentes que apontam o girassol como uma das mais promissoras oleaginosas para a produção do biodiesel. Com um teor de óleo que pode oscilar entre 38 e 48%, dependendo do solo, do clima e do tipo de adubação usada, rende cerca de 600 quilos de óleo por hectare, contra 450 quilos, em média, obtidos com a soja.
Os pesquisadores descobriram que ele também tem vantagens frente a outras alternativas, como a mamoma. “A mamona, assim como o amendoim, tem teor médio de 47% de óleo e é uma planta interessante”, afirma César de Castro, da Embrapa Soja. “Mas a mamona tem baixa produtividade de grãos por hectare”, ressalta.
Embrapa desenvolve genótipos de girassol que além do elevado teor de óleo, têm ciclo precoce ou semi-precoce e uma imensa capacidade de adaptar- -se a diferentes estados brasileiros. Um desses estudos é feito em Boa Vista (RR) desde o ano 2000. Com o uso de adubação nitrogenada, os pesquisadores conseguiram resultados animadores.
A produtividade ficou entre 1,4 e 3,4 toneladas por hectare, ou seja, chegou a superar o dobro da média nacional de 1,5 tonelada por hectare. Os teores de óleo obtidos atingiram 55%.
Outra vantagem importantíssima atestada pelos pesquisadores é a resistência à seca. Embora precise de um nível de chuvas entre 500 e 700 milímetros por ano, a raiz da oleaginosa alcança cerca de dois metros no subsolo, o que possibilita o cultivo até no semi-árido brasileiro, onde o índice pluviométrico anual freqüentemente fica abaixo de 500 milímetros.
Com tantas boas notícias, osusineiros intensificaram as parcerias com pequenos e médios produtores, que recebem treinamento, sementes e garantia de compra da produção a preços pré-fixados. A ordem agora é aumentar a oferta da matéria-prima, que está longe de ser suficiente para suprir a demanda vinda não só das usinas de biodiesel como também do setor alimentício. Segundos os especialistas, somente a falta de grãos pode impedir o girassol de ser usado em maior escala nas usinas.
Se de um lado os usineiros tentam garantir a matéria-prima, de outro, existe a preocupação com a venda da produção. Por enquanto, a venda do biodiesel é feita principalmente por meio de leilões promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que estipula a quantidade a ser vendida e o preço máximo.
O valor oferecido pela ANP – R$ 1.904,51 por metro cúbico no último leilão – desagrada. “Não compensa”, avalia José Silva Carreiro, proprietário da Biocar, usina que entra em operação neste segundo semestre em Dourados (MS), utilizando o girassol, entre outras matérias-primas. “Nesse cenário, prefiro vender óleo para a indústria alimentícia a produzir biodiesel”, afirma Carreiro (veja a cotação do óleo de girassol na página 24).
Lucro certo
Além do óleo, os subprodutos da prensagem, como o farelo e o glicerol, trazem lucros. Resultado da prensagem a frio dos grãos, o farelo é rico em proteínas e assim como o subproduto da soja pode ser vendido para fabricantes de ração para gado, aves e suínos, entre outras criações.Já o glicerol é usado principalmente na indústria de cosméticos. “Essa venda (dos subprodutos) é significativa”, avalia Allan Guerra, da Coapar. Segundo ele, é a venda do farelo, a R$ 150 a tonelada, e do glicerol, a R$ 2 o litro, que paga os custos da cooperativa.
De acordo com o engenheiro agrônomo Gilberto Grando, da empresa Helianthus do Brasil, produtora de híbridos de girassol, o mercado paga até R$ 350 por tonelada de farelo.
Grando só vê um inconveniente: apesar de tudo, o mercado ainda prefere o farelo da soja. “Os especialistas em alimentação animal, em geral, desconhecem as qualidades do farelo de girassol”, afirma o especialista. “No entanto, a Rússia produz mais de seis milhões de toneladas desse farelo por ano e mesmo tendo um plantel de animais menor do que o do Brasilnão tem problema para comercializar o produto.”
Óleo de girassol nos motores
Há seis anos, uma equipe de técnicos do interior de São Paulo investiga como o óleo vegetal pode ser usado puro em veículos sem causar danos aos motores. Por causa da disponibilidade, o óleo de girassol foi o escolhido para os testes, realizados em tratores da fazenda Ataliba Leonel, em Manduri, e em outra propriedade da cidade vizinha, Águas de Santa Bárbara. “Os resultados são animadores”, comemora um dos responsáveis pelo estudo, o engenheiro agrônomo Sylmar Denucci, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.O óleo foi testado puro em tratores com motor de injeção indireta (com antecâmara de combustão) durante 700 horas. Já os tratores com motor de injeção direta rodaram por até 1.000 horas com uma mistura composta por 30% de óleo de girassol natural, 65% de óleo diesel e 5% de gasolina comum. A mesma mistura foi usada em um caminhão Mercedes-benz 1313, durante 6.000 quilômetros. Segundo Denucci tanto no teste com o óleo puro quanto no realizado com a mistura nenhum problema ocorreu nos motores durante o período de testes, e tiveram desempenho e consumo considerados excelentes.
Agora, os técnicos começam a testar o uso do óleo vegetal puro em um trator com motor de injeção direta. Nesse caso, foi preciso instalar um kit de pré-aquecimento do óleo, que faz a partida e a finalização do trabalho com diesel comum, para contornar o problema de alta viscosidade. “Os óleos vegetais utilizados por nós são em média dez vezes mais viscosos que o diesel, o que dificulta a completa combustão desses óleos”, explica Sylmar. Nos motores de injestão direta isso provoca a deposição de resíduos que podem causar danos graves ao motor.
Coapar: Somando Resultados
O potencial do girassol desperta o interesse de pequenos e médios produtores rurais pelo país. No Mato Grosso, um grupo de 33 agricultores resolveu unir forças em 2005 para criar a Cooperativa Agroindustrial do Parecis (Coapar), localizada no munícipio de Campos de Júlio, oeste do estado. Investiram R$ 2 milhões de reais na construção de uma usina, que começou a funcionar em maio de 2007, e vão produzir neste ano três milhões de litros de biodiesel de girassol.A cooperativa absorve toda a produção, transforma em combustível e o devolve aos cooperados. “A expectativa é que os cooperados possam usar o biodiesel em todos os processos produtivos: na lavoura, no frete da semente, no frete do fer tilizante, na entrega do grão”, diz Allan Guerra, presidente da Coapar. “Dessa forma vão diminuir enormemente seus custos”, completa. Segundo ele, a economia é grande. O biodiesel custa ao produtor R$ 1 o litro, enquanto pelo diesel de petróleo paga-se R$ 2,10 o litro.
O objetivo é que em cinco anos a produção chegue a 12 milhões de litros. Até lá, a área de girassol destinada ao biodiesel – que hoje é de seis mil hectares – deve aumentar para 20 mil hectares.
Fatos
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil produziu 93,6, mil toneladas de grãos de girassol na safra 2005/2006.A previsão é fechar 2006/2007 com 105,9 mil toneladas. • Argentina, Rússia, Ucrânia e União Européia são os maiores produtores mundiais de sementes de girassol.