Bunker One testará biodiesel em embarcações no Brasil em 2022
A Bunker One, multinacional de origem dinamarquesa que atua no fornecimento de combustíveis marítimos, pretende iniciar, em janeiro, testes com biodiesel em parte de sua frota de navios no Brasil. A ideia é adicionar o biocombustível no óleo diesel marítimo, na proporção de 7% (B7), em dois rebocadores que a companhia opera no Rio de Janeiro.
A empresa firmou uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para estudar a viabilidade da mistura. Os testes durarão oito meses e demandarão investimentos iniciais de R$ 250 mil a R$ 300 mil da trading de combustíveis marítimos.
O presidente da Bunker One no Brasil, Flavio Ribeiro, afirma que a experiência se insere no contexto da corrida da indústria mundial de navegação por combustíveis menos poluentes. A Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) trabalha com uma meta de redução de emissões de carbono de ao menos 50% até 2050, na comparação com níveis de 2008.
A longo prazo, nesse cenário, a Bunker One quer se posicionar como fornecedora global da mistura de biodiesel nos combustíveis marítimos. Ribeiro conta que o objetivo dos testes, neste momento, é, antes de mais nada, contribuir para a homologação internacional do biocombustível e para que o Brasil se consolide, no futuro, como exportador do produto.
Ele explica que a Organização Internacional para Padronização (ISO, na sigla em inglês) já reconhece que o biodiesel pode ser misturado ao diesel marítimo, no teor de 7%, sem que haja perda de qualidade ou de especificação. O uso do biocombustível em escala comercial ainda depende, contudo, de ajustes na norma da IMO que impõe limites de emissões de óxidos de nitrogênio (NOx). A expectativa é que o assunto seja pautado em 2022 na organização.
O executivo conta que uma mistura B7 no óleo combustível marítimo representa um potencial de demanda global de 14 milhões de toneladas/ano de biodiesel. No caso da mistura ao diesel marítimo, esse potencial é de 3,7 milhões de toneladas por ano.
Ribeiro destaca que a introdução do biodiesel na indústria de navegação abre um novo mercado para as usinas brasileiras, sobretudo num momento em que os produtores operam com capacidade ociosa. O governo reduziu o percentual de mistura do biodiesel no diesel, no setor de transporte rodoviário, para 10% em 2022 - o mandato atual é de 10%.
“Há um potencial de muito crescimento [para a produção nacional de biodiesel] que está sendo totalmente esquecido, não está na pauta... Exportamos matéria prima in natura, é um contrassenso. Há um potencial de geração de riqueza do qual abrimos mão para exportar grão de soja”, comentou.
Questionado se os preços elevados do biodiesel brasileiro podem comprometer a viabilidade econômica do uso do biocombustível pela indústria de navegação, Ribeiro afirmou que os cálculos serão devidamente feitos nos testes. Segundo ele, no entanto, a tendência é que à medida em que a capacidade ociosa das usinas seja reduzida, o preço do biodiesel também caia. “Se a infraestrutura de produção de biodiesel está ociosa, o custo [dessa ociosidade] é carregado no preço final. Se otimizamos esse ganho de escala [do uso do biodiesel no transporte marítimo], conseguimos otimizar esses custos.”
A indústria mundial de navegação está, hoje, numa corrida por soluções de descarbonização. O uso do gás natural liquefeito (GNL) e a eletrificação dos navios são algumas das alternativas sobre a mesa. Ribeiro acredita que o biodiesel possui como diferencial o fato de ser consumido sem necessidade de troca de maquinário.
André Ramalho - Valor