Embrapa: aumento da produção de biodiesel exige novas matérias-primas
A diversificação de biomassa foi apontada pelo chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza Júnior, como elemento chave para garantir o futuro do programa brasileiro de biodiesel. Souza falou sobre o tema durante o 7º Congresso Internacional de Bioenergia que aconteceu em São Paulo até a quinta-feira passada (01).
Dados apresentados pelo pesquisador mostraram que, em 2011, o setor de transportes foi responsável por quase um terço do consumo de energia no Brasil. A necessidade de combustíveis desse segmento tende a aumentar, haja vista o crescimento econômico e o consequente aumento da frota de veículos no País. Mesmo que a proporção de biodiesel adicionada ao óleo diesel continue em 5% (B5), será necessário ampliar em mais de 50% a produção até 2020. De acordo com Souza, garantir matéria-prima é um dos desafios para que isso aconteça.
Atualmente, cerca de 80% do biodiesel brasileiro é produzido a partir de óleo de soja. Considerando o incremento de produção esperado para essa oleaginosa, é possível que ela consiga atender às indústrias até 2020, se continuar em vigor o B5. No entanto, num cenário em que a adição seja de 10% (B10), como pretende o governo brasileiro, começarão a surgir dificuldades para abastecer o mercado com uma dependência tão grande dessa cultura. “Um aumento de 30% na produtividade da soja poderia garantir o B10, mas não o B20”, alerta o chefe-geral da Embrapa Agroenergia.
Inserir outras biomassas na cadeia produtiva do biodiesel não é apenas uma questão de atender ao mercado, mas também um fator essencial para regionalizar a produção, hoje concentrada no Centro-Sul do País. Além disso, a demanda por biocombustíveis para aviação deve acirrar a disputa por óleos.
Alternativas
Para permitir a diversificação de matérias-primas, a Embrapa Agroenergia está investindo em pesquisas com plantas com potencial de alto rendimento de óleo. Uma delas é a palma-de-óleo (dendê). Embora seja cultivada há décadas no Brasil, a produção ainda é muito baixa. Souza conta que atualmente o País importa 60% do óleo de dendê que consome, embora disponha de uma grande área apta para o cultivo. Estudos da Embrapa apontam que existem mais 07 milhões de hectares de terras brasileiras em que a palma-de-óleo poderia ser cultivada sem necessidade de irrigação tampouco comprometendo regiões de proteção ambiental.
“Temos terras e tecnologia disponíveis para produzir dendê. O que falta são sementes e estudos de genética”, ressalta Souza, informando que o Brasil importou 15 milhões de sementes nos últimos dois anos. As pesquisas também estão concentradas no aproveitamento dos seis resíduos já identificados da produção de dendê.
Outras culturas com potencial de utilização na produção de biodiesel que estão sendo estudadas pela Embrapa Agroenergia são o pinhão-manso e palmeiras nativas do Brasil como a macaúba. Essas ainda não dispõem de pacotes tecnológicos com o dendê. “Estão em processo de domesticação”, explica o pesquisador.
Além da palestra de Manoel Souza, a sessão sobre Biodiesel e Bioquerosene do Congresso contou com a apresentação da professora Fátima Bento, da Universidade Federal do Rio de Grande do Sul, que falou sobre os desafios de controle da qualidade do biodiesel. Por sua vez, a pesquisadora Deusa Portela da Ponte, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostrou os trabalhos com microalgas para produção de biocombustíveis desenvolvidos na instituição. De acordo com Deusa, tem sido possível obter alta produtividade de óleo e boa qualidade tanto do biodiesel quanto do bioquerosene com ele produzidos.
Durante a Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustível – que aconteceu de forma paralela ao Congresso – a Embrapa Agroenergia apresentou as tecnologias para a produção de briquetes e pellets (“lenha ecológica”) a partir de resíduos.