PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Produção e consumo

Adiar paradas em refinarias ajuda suprimento de diesel mas não resolve o problema


Valor Econômico - 27 jun 2022 - 11:24

Com o cenário apertado para o suprimento global de combustíveis este ano, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) consultou operadores de refinarias no Brasil para verificar se eventuais paradas programadas para manutenção nas unidades no segundo semestre podem impactar o abastecimento do diesel nacional. Especialistas apontam que, apesar de não haver muito espaço para aumento na produção de combustíveis, adiar manutenções pode ajudar no cenário de escassez mundial atual, desde que não interfira nas boas condições de operação das plantas.

Há receio de escassez de diesel no mundo no segundo semestre, reflexo do aumento do consumo global e das sanções à Rússia, um dos maiores exportadores de petróleo e derivados do mundo.

Hoje, cerca de 30% do consumo brasileiro de diesel dependem de importações e 70% são supridos pelas refinarias nacionais. A ANP consultou a Petrobras, que opera a maior parte do parque de refino do Brasil, e a Acelen, que é responsável pela Refinaria de Mataripe (BA).

A Petrobras informou que conduz análises internas sobre a possibilidade de postergar manutenções nas unidades que produzem diesel. “A Petrobras está analisando o pedido, levando em conta a legislação aplicável e as condições operacionais e de integridade das unidades”, disse a empresa em comunicado.

Já a Acelen afirma que as paradas programadas para este ano não vão impactar no abastecimento de diesel S10 ao mercado atendido pela empresa.

Para o chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, a maioria das paradas programadas em refinarias pode ser adiada, desde que não existam grandes riscos operacionais identificados. “Dependendo da unidade, isso pode ser significativo num cenário de escassez de diesel como o atual”, afirma.

Ele ressalta, no entanto, que a mudança nas datas das manutenções pode levar a custos extras, com contratos de mobilização e desmobilização de empreiteiras, e lembra que, eventualmente, as paradas vão ter que ser realizadas.

O analista da consultoria S&P Global, Felipe Perez, aponta também que há riscos associados a uma demora nas manutenções. “Manter refinarias num alto nível de utilização por muito tempo é uma receita para possíveis acidentes”, alerta.

Perez não vê espaço para que grandes volumes ajudem a ampliar de maneira significativa a produção mundial de derivados. “Os refinadores estão fazendo o melhor possível para atender ao mercado. Não há uma tendência de segurar a produção para fazer o preço do combustível subir, é a demanda que está puxando os preços”, diz.

O cenário para o refino se agravou depois que uma parte da capacidade global de processamento de petróleo deixou de operar nos últimos anos. Os investimentos nesse segmento se retraíram, com a redução do consumo durante a pandemia e as expectativas da transição mundial para novos combustíveis, menos poluentes.

Entretanto, houve um aumento da demanda global por combustíveis depois do relaxamento das restrições para conter a crise sanitária. Isso levou, inclusive, a um aumento mais acentuado dos preços do diesel do que do barril de petróleo nos últimos meses.

Operadores de refinarias em todo o mundo têm optado por manter as unidades com alto nível de utilização para atender ao crescimento no consumo.

Segundo informações do Dow Jones Newswires, com base em dados do Departamento de Energia dos Estados Unidos, as refinarias americanas chegaram a operar próximas ao limite, com 94,2% de utilização no começo de junho.

No Brasil, a Petrobras operava com um fator de utilização nas refinarias de 93% no início de maio, segundo os dados mais recentes divulgados pela estatal. O índice indica o volume de petróleo que é de fato processado nas refinarias em relação à capacidade total da unidade.

A ANP afirma que monitora continuamente o mercado para se antecipar a riscos. “A agência vem mantendo contato com os agentes do mercado e não recebeu informação de falta de produtos em nenhuma região. A ANP está dedicada a acompanhar a situação e a propor as medidas que se mostrarem necessárias para garantir a oferta do produto”, disse em nota.

Gabriela Ruddy – Valor Econômico