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Preço do biodiesel dispara e pode elevar diesel nas bombas


Folha de S.Paulo - 27 ago 2019 - 08:23

O preço do biodiesel no país disparou e deve impactar o preço final do óleo diesel vendido nos postos brasileiros. No último leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o biodiesel foi vendido, em média, a R$ 2,857, 22,6% acima do verificado no leilão anterior.

A alta ocorre logo após a elevação, de 10% para 11%, do percentual mínimo obrigatório de adição biodiesel ao diesel vendido nos postos, o que amplia o impacto final. O setor alega que a escalada é fruto da elevação da cotação internacional da soja.

Por lei, distribuidoras são obrigadas a adicionar biodiesel no diesel de petróleo antes da venda aos postos. As compras são feitas por meio de leilões organizados pela ANP a cada dois meses.

O último leilão foi realizado no dia 19 de agosto, 13 dias após a autorização para elevação do percentual mínimo para 11%. O leilão movimento 1,14 bilhão de litros, ao preço médio de R$ 2,857 por litro – nos três leilões anteriores, o valor situava-se em torno dos R$ 2,30.

Segundo estimativa do consultor Luis Henrique Sanches, com o aumento da mistura a valores mais elevados, as distribuidoras estão pagando R$ 0,05 a mais por litro de diesel com biodiesel. O repasse aos postos, porém, depende de políticas comerciais das empresas.

A conta considera o preço do diesel de petróleo em R$ 2,15 por litro (valor vigente no Rio). Assim, considerando impostos, o preço do diesel já com a adição do biocombustível pode chegar a R$ 3,10 nas distribuidoras com atuação no estado, contra R$ 3,05 no mês anterior.

O aumento ocorre em um momento de relativa estabilidade do preço do diesel de petróleo, após um início de ano conturbado, como ameaças de nova greve de caminhoneiros como a que paralisou o país por duas semanas em maio de 2018.

O último reajuste no preço do combustível foi promovido pela Petrobras no dia 1º de agosto, com alta de 3,74%. Antes, em 19 de julho, havia reduzido o valor em 2,15%.

O presidente do conselho de administração da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Erasmo Carlos Battistella, alega que o aumento de preços segue o mercado internacional e que no último leilão da ANP os valores estavam baixos.

"Durante esses últimos dois ou três meses, houve um aumento significativo nas matérias primas, com a valorização do câmbio e dos prêmios em cima da principal matéria prima, em função da guerra comercial entre Estados Unidos e China e da quebra da safra norte-americana por problemas climáticos", diz ele.

Battistella afirma ainda que o atraso na implementação do novo percentual de mistura, decorrente de estudos adicionais feitos pelas montadoras, também impactou. "A gente defende que elevações de mistura ocorram na safra, entre março e abril, que o período em que as empresas estocam e os preços estão mais baixos."

Ele defende, porém, que mesmo com o alto preço, o aumento da mistura é benéfico ao país, já que o biodiesel substitui diesel importado, que não gera empregos no Brasil. A regra atual permite que distribuidoras misturem até 15% de biodiesel ao produto vendido nos postos.

Embora a Aprobio acredite que percentuais maiores devem ser praticados no Centro-Oeste, onde está concentrada a produção de biodiesel, em outros estados as distribuidoras devem cumprir os requisitos mínimos para minimizar repasses mais elevados ao preço final.

O país vem elevando a mistura de biodiesel em um ponto percentual por ano. O cronograma prevê que, em 2023, a mistura vendida nos postos tenha no mínimo 15%. Battistella diz que a capacidade instalada dará conta do mercado.

O Brasil tem hoje capacidade de produção de 8,8 bilhões de litros de biodiesel por ano e a estimativa de consumo para 2019 é de 5,9 bilhões de litros. "Não significa que daqui a 60 dias o preço ficará nesse patamar, ele pode recuar. Nosso preço efetivamente é a mercado, quando a matéria-prima baixa, ele também baixa", afirmou.

A ANP diz que o aumento no preço do biodiesel foi provocado pela aproximação entre oferta e demanda. "A demanda se elevou, em função do aumento da mistura obrigatória, enquanto a oferta não se elevou na mesma medida", afirmou a agência, em nota.

O órgão regulador disse ainda que os preços são livres no mercado e que o impacto final para o consumidor ainda não pode ser avaliado, pois depende de questões de mercado.

Nicola Pamplona – Folha de S.Paulo