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Governo precisa se preparar para aumentar mistura de biodiesel


BiodieselBR.com - 25 mar 2022 - 12:21

O mercado global de combustíveis está passando por uma grande crise como reflexo das sanções contra a Rússia iniciadas como retaliação à invasão da Ucrânia. Essa nova crise deu o empurrão que faltava para fazer os preços internacionais do petróleo – que já vinha subindo em função do rebote no consumo resultante do relaxamento das políticas de enfrentamento da COVID-19 – decolarem. No Brasil, o aumento foi ainda mais sentido do que lá fora pois veio acompanhado de valores mais elevados do dólar.

Com a guerra na Ucrânia, contudo, a situação está ganhando uma nova proporção. O problema passou a não ser mais apenas o preço, mas a própria disponibilidade do produto. Quem negocia diesel e gasolina mundo afora já está sentindo dificuldade de encontrar os produtos para comprar. E esse é só o começo do problema. Continuando a guerra e os embargos a situação tende a piorar muito.

No Brasil, a escassez de produto já é percebida em muitos pontos. Os relatos de distribuidoras e postos são cada vez mais constantes. Algumas distribuidoras já não entregam aos postos a quantidade de combustíveis que estes precisam, mas fazem uma cotização da quantidade de diesel disponível e enviam essa cota para cada posto. E, repito, esse é o começo da crise.

Com petróleo na casa dos US$ 110 era de se esperar uma redução no consumo dos derivados o que levaria a uma pressão menor sobre os preços e a oferta. Mas diversos países – Brasil incluso – vêm anunciando subsídios para seus cidadãos. Isso tende a fazer com que a demanda não caia com a força que se esperava sustentando a alta nos preços do petróleo.

Cotações acima de 150 dólares por barril já são dadas como como certas ano pelos analistas desse mercado para este ano. Há quem já fale em US$ 200. Nesses patamares, não vai ter subsídio no mundo que consiga segurar uma escalada nos valores finais do diesel e da gasolina.

Desabastecimento

Mas pior que pagar caro no combustível é simplesmente não ter combustível nenhum. E isso pode acontecer no Brasil e em outros países do mundo. E cada país terá que achar a sua solução para o problema.

O programa de etanol no Brasil foi criado na década de 1970 como resposta aos preços altos do petróleo. Hoje, o etanol praticamente elimina o risco de um colapso total na oferta gasolina no Brasil. No momento, é a falta de óleo diesel que assombra a todos.

Uma resposta para pelo menos reduzir a turbulência é o biodiesel. Hoje, o produto está representa 10% do diesel vendido nos postos. Sem esse percentual, a crise de oferta seria bem maior.

E o biodiesel pode ajudar ainda o país a passar por esta crise sem muitos ferimentos. Nos últimos anos, o setor ampliou sua capacidade de produção confiante de que em março deste ano teríamos a chegada do B14 e, no ano que vem, o B15. Os aumentos estavam previstos por uma resolução do CNPE de 2018. O país já tem capacidade mais que suficiente para atender ao B15 caso o governo precisasse do biocombustível para não deixar faltar diesel nos postos.

O problema seria a matéria-prima para atender a este salto na produção. O Brasil sofreu uma quebra grande da safra de soja e as indústrias não tinham qualquer motivo para esperar um aumento na mistura. Com isso, as empresas estão exportando mais soja em grão do que exportariam se o cronograma do B14 tivesse sido cumprido. Uma decisão de aumentar a mistura de biodiesel tomada daqui a dois meses teria um impacto no preço interno da matéria-prima muito maior do que se ela fosse tomada agora. Ou, pelo menos, comunicada agora.

É claro que aumentando a mistura de biodiesel para B14 ou B15, as margens de lucro das usinas tenderiam a subir. E aí entra a liberação da importação de biodiesel. A Argentina bloqueou a exportação de grão, farelo e óleo de soja, mas está com as exportações do biodiesel liberadas. Os produtores do país vizinho vão fazer o possível para exportar para cá assim que o governo brasileiro permitir. Com B10, nuestros hermanos têm pouca chance uma vez que as margens das usinas brasileiras estão quase inexistentes tonando o produto nacional mais barato. Mas, com o B14, os fabricantes tupiniquins teriam que limitar suas margens ao preço dos competidores externos.

E, se o governo estiver preocupado para valer com o preço do diesel B nas bombas, ele tem ainda outra ferramenta que pode usar. Em tempos de guerra e de crise de oferta de commodities, taxar ou fechar as exportações não é visto como algo fora de propósito. Cada país está preocupado em proteger sua população, seja dos preços altos ou da falta de alimentos. Taxar a exportação de soja em grão, farelo e óleo de soja seria uma alternativa para reduzir a pressão inflacionária interna e, também, para garantir um diesel mais barato nos próximos meses.

Sabemos que o ministro da economia tem uma visão ultraliberal que privilegia o livre comércio, mas essa guerra mostrou que os países têm que balancear suas prioridades e não podem aderir a ideais a qualquer custo. Especialmente ao custo do bem-estar de sua população.

O governo tem na próxima reunião do CNPE uma boa oportunidade para fazer o Brasil passar por essa crise de combustíveis com menos sofrimento do que precisa. A data é perfeita para preparar o mercado para começar o 3º bimestre com uma mistura maior de biodiesel. O governo agora precisa ter uma visão de mais longo prazo, imaginar os cenários que podem vir a acontecer e estar preparado para eles.

Só não pode é guardar para si as possibilidades, pois não vai ser sozinho que ele vai resolver o problema.

Miguel Angelo Vedana – BiodieselBR.com