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Entidades do biodiesel rebatem (de novo) nota contrária a mistura


BiodieselBR.com - 10 mar 2023 - 11:55

Virou um jogo de pingue-pongue. Um lado publica uma nota e o outro responde com uma réplica. Nas últimas semanas, a cadeia de biodiesel está empenhada em mais uma de suas polêmicas periódicas. De um lado temos um consórcio de 9 entidades empresariais dos setores de distribuição e revenda de combustíveis; de transportes e logística; de máquinas e da indústria automotiva e, do outro, as principais associações de fabricantes de biodiesel – Abiove, Aprobio e Ubrabio.

Em sua montagem atual, a novela começou duas semanas atrás com uma nota na qual a CNT se posicionava contra a normalização do mandato do biodiesel no óleo diesel mineral – a mistura se encontra em níveis reduzidos desde maio de 2021.

Embora tenha sido anunciada pelo governo Bolsonaro como uma medida apenas temporária para evitar pressões inflacionárias, a redução foi prorrogada sucessivas vezes e está em vigor até hoje. Acontece que resolução que reduz a mistura de 15% para 10% perde a validade no final do mês e há expectativa de que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprove um cronograma prevendo a retomada na reunião que está marcada para a próxima sexta-feira (17).

A CNT é contra. Segundo a entidade ao aumento do teor de biodiesel não apenas aumentaria os custos dos fretes como prejudicaria o meio ambiente. No arrazoado da entidade, como o biodiesel tem uma densidade energética menor que o diesel de petróleo, o aumento de mistura levaria a um consumo maior e, portanto, a maior emissão de poluentes.

Réplica

A acusação irritou os fabricantes de biodiesel que publicaram uma réplica afirmando que a CNT praticava uma “estratégia de enganação da opinião pública”.

O texto reforçou que a substituição do diesel fóssil por biodiesel “reduz as emissões de particulados, monóxido de carbono e de hidrocarbonetos” além de emitir menos gases de efeito estufa. “[A nota da CNT] dispara inverdades e desdenha de fatos reconhecidos e demonstrados publicamente com base em vasta quantidade de documentos e informações precisas”, diz o texto que lista uma série de estudos científicos que apontam benefícios do uso de biodiesel para a saúde pública.

Tréplica

O terceiro ato veio na forma de uma nota publicada no começo da tarde de ontem (09) por uma coalizão de 9 entidade setoriais. Nela, o grupo acusa os fabricantes de biodiesel usarem as preocupações ambientais da sociedade de forma casuística para defenderem seus próprios interesses.

“Utilizando-se da urgência na atenção ao meio ambiente e à adoção de práticas sustentáveis – preocupação real de toda a sociedade –, esses agentes econômicos buscam acobertar seus reais interesses: garantir uma reserva de mercado”, acusa dando a entender que o setor de biodiesel venha agindo para postergar a entrada de outros biocombustíveis como o diesel verde no mercado brasileiro “Quem produz o biodiesel não quer o HVO. A verdade é que os atuais produtores de biodiesel não querem perder o lucro fácil e rápido do biodiesel de base éster, nem investir na modernização do processo industrial para produzir diesel verde”, especula.

Além de reiterar o argumento da CNT de que o biodiesel causaria mais e não menos poluição. Na tréplica das entidades, o uso de misturas maiores que a atual traria ainda prejuízos à diversos elos da cadeia – da formação de borras em distribuidoras e postos de combustíveis até danos aos veículos e máquinas.

“O tema do uso do biodiesel e a sua atual forma de produção no Brasil precisam ser revisitados. Isso implica a promoção de estudos para identificar os impactos em toda a cadeia produtiva do Brasil, dos motores dos ônibus e caminhões, passando pelo distribuidor e pelo revendedor do diesel, até o transportador”, cobra o texto.

Não é a primeira vez que um grupo de entidades empresariais soma esforços contra o biodiesel. Em 2021, um outro grupo – que já incluía muitas das atuais signatárias – travou uma polêmica com o setor de biodiesel.

Questão de preço

A resposta das entidades do setor de biodiesel viria ontem mesmo por meio de mais uma nota. No novo texto, elas voltam a afirmar que há uma tentativa de “confundir a opinião pública sem base em dados técnicos” e que as alegações de que o biodiesel seria a causa de uma série de problemas seriam infundadas. “Desde 2005, o setor do biodiesel no Brasil tem construído sua história baseada em pesquisas científicas, em evidências concretas e resultados comprovados pelo MME e ANP”, diz lembrando isso reflete um consenso internacional que órgão de diversos países incluindo a EPA (Agência de Proteção Ambiental) do governo dos Estados Unidos e EEA (Agência Europeia do Ambiente).

Mais do que isso, a última nota acusa o grupo de ser “contra a política de combustíveis renováveis iniciada em 2005” simplesmente por uma questão de custos. “O tema do preço do diesel B parece ser a única perspectiva dessas entidades que sempre defenderam a manutenção do status quo, que privilegia o combustível fóssil em detrimento dos biocombustíveis. (...) Trata-se de uma visão de equivocada e na direção contrária aos objetivos de construir um futuro mais sustentável”, prossegue.

Além dos fabricantes, os parlamentares da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio) também se manifestaram chamando os ataques ao biodiesel de “negacionismo técnico-científico”.

Segundo presidente da FPBio, deputado federal Alceu Moreira (MDB/RS), há uma campanha muito clara por parte de setores que não querem mudar suas práticas de negócios. “[Estes setores vêm] na mudança uma ameaça ao seu negócio, que, diga-se de passagem, é o mesmo desde quando foi implementada a indústria automotiva nacional. É a contramão daquilo que o mundo inteiro está buscando”, diz.

Em paralelo

Como observador histórico e independente da cadeia de biodiesel no Brasil – tanto em suas virtudes quanto em seus vícios –, BiodieselBR.com não se colocou à parte desse novo debate.

Na manhã de hoje, o colunista do portal Miguel Angelo Vedana publicou um longo artigo no qual analisa os argumentos – tanto os explícitos quanto os velados – da nota publicada pelo consórcio de entidades.

Em seu texto, Miguel conclui que ao querer reabrir discussões técnicas que já haviam sido pacificadas há anos soa como uma estratégia protelatória. “Querer trazer essa discussão de volta a mesa, da forma como essa nota coloca é querer achar formas de adiar o uso de um combustível menos poluente, mais sustentável e que traz mais benefícios econômicos para o país do que o diesel fóssil”, encerra.


Veja em ordem cronológica a íntegra das notas:

Nota da CNT;
1ª Nota das Entidades de Biodiesel;
Nota do Consórcio de Entidades;
2ª Nota das Entidades de Biodiesel;
Nota da FPBio;

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com