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Em reestruturação, Fiagril volta ao azul


Valor Econômico - 09 abr 2019 - 10:01

A mato-grossense Fiagril, distribuidora de insumos agrícolas, começa a colher os primeiros frutos da reestruturação. Controlada pela chinesa Dakang International desde 2016, a empresa voltou ao azul. No ano passado, lucrou R$ 52 milhões, resultado bem melhor que o de 2017, quando amargara um prejuízo líquido de R$ 10 milhões.

Como efeito colateral da reestruturação, que começou há oito meses, a companhia ficou menor. Em 2018, o faturamento da Fiagril diminuiu mais de 20%, passando R$ 3,4 bilhões a R$ 2,7 bilhões. A expectativa é que, este ano, as vendas se recuperem, somando R$ 2,9 bilhões. A abertura de lojas de insumos em Água Boa (MT) e Guaraí (TO) deve ajudar.

“Mas não estou preocupado com faturamento e, sim, com as margens”, afirmou, em entrevista ao Valor, o presidente da Fiagril, Luiz Gustavo Figueiredo Pereira da Silva.

Especializado em reestruturação, o executivo que já passou por Bombril e TAM foi contratado em junho do ano passado para colocar a Fiagril nos eixos que os chineses queriam. E parece que conseguiu. A empresa brasileira acaba de receber um aumento de capital de R$ 180 milhões dos sócios. Metade dos recursos será direcionado para a amortização da dívida e a outra parte para ampliar o negócio de distribuição de insumos. Com a capitalização, a dívida sai da casa dos R$ 1 bilhão e passa para algo em torno de R$ 850 milhões.

No processo de reestruturação conduzido por Silva, a Fiagril reduziu o escopo de atuação e enxugou despesas. “Tivemos uma redução de custos direto de cerca de R$ 25 milhões e também uma revisão do modelo. Reduzimos o negócio de grãos. Nosso negócio mesmo é a distribuição de insumos”, afirmou.

Dos 12 armazéns para soja e milho, a empresa vendeu dois e arrendou outros seis, ficando com apenas quatro armazéns próprios – com capacidade para 415 mil toneladas.

Segundo o presidente da Fiagril, a empresa utiliza parte da capacidade de quatro dos armazéns que foram arrendados. Essas unidades foram alugadas aos sócios minoritários da Fiagril – Marino Franz, que detém 20%, e Miguel Ribeiro, com 9%. “Utilizamos quase 30% desses armazéns arrendados para os sócios”, afirmou Silva.

Ao repassar os armazéns, a Fiagril praticamente deixou de atuar como uma trading. “Não podemos dizer que saímos totalmente da originação porque temos um sócio que se interessa em enviar soja para China, mas temos soja apenas originada em barter [operação de troca de insumo por grão]”, disse o executivo.

Segundo ele, há uma década havia uma vantagem competitiva em manter armazéns próprios. Mas isso não se aplica mais à realidade de Mato Grosso. “Hoje, é um pepino. Tem capacidade ociosa”, afirmou.

A reestruturação passou por demissões e troca do quadro de executivos da empresa. Antes do processo, eram 700 funcionários, e hoje são 450. “Na área de diretoria, eu trouxe muita gente nova. Os sócios hoje, Marino e Miguel, me passaram o bastão e estão apenas no conselho”, acrescentou Silva.

Para reduzir custos, a Fiagril abriu uma transportadora rodoviária para não depender de intermediários na contratação de caminhoneiros. “A gente tem a capacidade de contratar diretamente o autônomo. Para o mercado de grãos, 80% dos caminhoneiros são autônomos. Resulta numa economia de 13% dos custos. Para Fiagril, isso é cerca de R$ 3 milhões ao ano”, disse.

Nos transportes por ferrovia, a empresa não fecha contratos pagos independentemente do uso (take or pay), comum nesse tipo de serviço, evitando a necessidade de comprar grãos para cumprir contratos. “Está dando certo. Nosso custo logístico é menor que as ABCD [ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus]”, garantiu.

Na área financeira, a Fiagril também avançou, segundo o executivo. Recentemente, contratou uma linha de crédito rotativo de R$ 100 milhões, com validade de três anos. “Esse financiamento é direcionado única e exclusivamente para compra de insumos. Vamos conseguir pagar à vista os fornecedores”, afirmou ele.

Kauanna Navarro – Valor Econômico