[Atualizada] Caramuru vai processar governo por problemas na Tietê-Paraná
A Caramuru Alimentos, uma das maiores processadoras de grãos de capital nacional, planeja entrar com uma ação na Justiça contra o Estado de São Paulo e a União pelos prejuízos que tem contabilizado com a interrupção das operações na hidrovia Tietê-Paraná, em função da severa estiagem que atinge o Sudeste do país.
"Não conseguimos transportar nem 200 mil toneladas pela via este ano", diz César Borges de Sousa, vice-presidente do conselho de administração da Caramuru. No ano passado, a companhia - maior operadora da Tietê-Paraná - movimentou um milhão de toneladas pela hidrovia e pretendia alcançar ao menos 1,2 milhão de toneladas este ano. A soja (em grão e em farelo) era o produto mais transportado pela empresa por meio desse modal, seguida pelo milho.
Nos últimos anos, cerca de 90% das exportações da Caramuru vinham sendo feitas pelo sistema hidroferroviário, e os 10% restantes seguiam pela combinação entre hidrovia e rodovia. Em 2014, encurralada pelos efeitos do clima, a companhia estima que 80% do volume que movimenta utilizará caminhão de ponta a ponta e apenas 20% das exportações serão escoadas pelo sistema intermodal.
Conforme Sousa, os cálculos para dimensionar o tamanho das perdas da Caramuru com a paralisação da Tietê-Paraná ainda estão não estão concluídos. Na ação judicial, a empresa avalia incluir também um pedido de reparação por danos à imagem, tendo em vista que se promoveu nos últimos anos como ambientalmente correta - dentre outras coisas, por investir pesadamente em sistemas alternativos de transporte, menos poluentes (caso da hidrovia).
Desde 1996, a Caramuru investiu em torno de R$ 100 milhões para viabilizar a Tietê-Paraná. Pela hidrovia, a processadora encaminha grãos de São Simão (GO) a Pederneiras (SP), onde então a carga é transbordada para a ferrovia e levada até o porto de Santos (SP). A companhia, que completa 50 anos em 2014, faturou R$ 3,3 bilhões no ano passado, 10% acima de 2012.
Nas contas do Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo, a seca que prejudica a Tietê-Paraná já provocou a demissão de cerca de mil trabalhadores, diretos e indiretos. De acordo com a entidade, a Caramuru foi responsável pela maior parte das dispensas, mas outras companhias, como ADM e Louis Dreyfus também cortaram funcionários.
O calado normal da hidrovia é de 3,3 metros no trecho menos profundo, mas atualmente essa profundidade não passa de um metro perto da eclusa de Nova Avanhandava, no município de Buritama (SP), o que impossibilita a navegação. Com a forçada mudança de modal, estima-se um aumento nos custos de transporte de 20% a 30%, o que reduz a competitividade logística - um comboio de soja na hidrovia transporta um volume equivalente ao de 160 caminhões.
Atualização em 20 de agosto às 16h20 – A Secretaria Estatual de Logística e Transportes divulgou nota na qual rebate as reclamações da Caramuru. Segundo o texto, o governo do estado tem feito o possível para manter as condições de navegabilidade Hidrovia Tietê-Paraná como a redução do peso máximo transportado nas balsas e a realização de ondas de vazão – manobra que aumenta temporariamente o fluxo de água para que as embarcações consigam passar pelos trechos mais problemáticos do rio. O órgão também diz que tem levado sugestões nesse sentido para a Agência Nacional da Águas (ANA) e o Operardor Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Contudo, até o momento nenhuma solução pôde ser pactuada entre os diferentes órgãos.
Mariana Caetano - Valor Econômico