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Apesar do anúncio de venda, Usina Quixadá tem futuro incerto


Diário do Nordeste - 27 jul 2020 - 12:08

Inaugurada em 2008 com a proposta de elevar o patamar da Petrobras no segmento de combustíveis verdes, a usina de biodiesel em Quixadá (CE) pouco atingiu seu objetivo. Logo nos primeiros anos da implantação, observou-se que a colheita da mamona na região do sertão central cearense não era suficiente para produzir o biodiesel em larga escala.

Com a confirmação da baixa rentabilidade da Usina, que custou R$ 76 milhões aos cofres públicos, o Conselho de Administração da Petrobras Biocombustível optou por encerrar a produção em 2016. Quatro anos depois, a indústria segue com futuro incerto.

Neste mês de julho, uma sinalização de avanço. A estatal anunciou a oportunidade de venda de 100% das ações da empresa subsidiária Petrobras Biocombustível (PBio), que inclui três plantas: Quixadá (CE), Candeias (BA) e Montes Claro (MG). Um dos pré-requisitos para aquisição é ter tido receita líquida superior a R$ 400 milhões no ano de 2019.

O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Quixadá, Ítalo Beethoven Correia, revela que a expectativa é de retomada do empreendimento que gerou mais de 200 empregos diretos e centenas de indiretos. "O processo de venda traz uma nova esperança de ativação da indústria, geração de emprego e renda", pontuou. No entanto, apesar da torcida, a concretização deste cenário ainda parece distante.

Não há, até agora, investidores concretos para aquisição da Usina, que tem capacidade de produzir, segundo estudos da Petrobras, 109 milhões de litros de biodiesel, além de glicerina e subprodutos, anualmente.

Integrante do Centro de Defesa Ambiental da Petrobras, Silvano Lima revela que um investidor até mostrou interesse na aquisição da PBIO, mas as negociações ainda não avançaram. O que pode pesar em favor da compra do conglomerado é a unidade de Candeias, "que tem elevada produção e capacidade de processamento de 220 milhões de litros por ano", acrescenta.

Deste modo, com a baixa rentabilidade, mesmo que um investidor adquira a Usina Quixadá, não há nenhuma garantia de que ela permaneça aberta. "Se ela não for reativada, a gente espera que, pelo menos, a unidade funcione como centro de distribuição e armazenamento de combustíveis, uma vez que tem capacidade de mais de 100 mil m³".

Em 2016, tão logo a Petrobras anunciou a paralisação das atividades, a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) realizou estudo técnico para identificar a viabilidade do Estado comprar a usina de Quixadá. Mas, em nota, a Adece informou que "os dados mostraram que não havia viabilidade".

O economista Klériston Medeiros Monte avalia, no entanto, que o momento pode ser propício para a venda da usina. Devido à pandemia, ele considera que os preços praticados estarão mais baixos. "Será ruim para quem vende e bom para quem vai comprar", considera. Para o futuro, Medeiros aponta que os combustíveis verdes terão boa procura. "O setor de biocombustível tende a ser valorizado ante o crescimento da demanda por produto que traz benefícios ao meio ambiente e ao setor social".

Impactos

Essa inatividade, que já se arrasta por quase meia década, causa impacto negativo na economia da região. Há quatro anos, com o fim da operacionalidade da usina, além das demissões, a agricultura também foi prejudicada.

Conforme dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Quixadá, 2.177 agricultores de base familiar de 16 municípios produtores de mamona passaram a ter o escoamento do fruto prejudicado. Só na safra seguinte (2015/2016), estima-se prejuízo de R$ 300 mil. Com tanto dinheiro sem circular, a economia de Quixadá teve retratação. "Não há estudo que mensure o montante, mas a cidade perdeu muito", diz Ítalo.

André Costa e Honório Barbosa – Diário do Nordeste