Como nasceu o RenovaBio

O decreto de regulamentação será rígido quanto à punição às distribuidoras de combustíveis fósseis que não mitigarem emissões e deve trazer com clareza prazos para que metas coletivas e individuais sejam atingidas. A ideia é que essas metas sejam anunciadas até 1º de julho de 2019 e vigorem a patir de 24 de dezembro do próximo ano. Tudo para que o Brasil reduza, até 2030, as emissões de poluentes na atmosfera em 37% abaixo dos níveis de 2005, meta assinada na 21ª Conferência das Partes - Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP21), em 2015, na França.
Quem emite gases causadores do efeito estufa paga a conta e quem retira carbono da atmosfera é remunerado e incentivado a reduzir ainda mais por meio de investimentos em aumento de produção de biocombustíveis. Como um programa tão simples se tornou realidade? Quem teve essa ideia?
Era outubro de 2016. O secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério das Minas e Energia (MME), Márcio Félix, pediu ao novo diretor do Departamento de Biocombustíveis, Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, o desenho de um projeto de incentivo à retomada na produção do setor, paralisada desde o início da década por falta de incentivo. O Brasil precisaria do etanol, principalmente, e do biodiesel para cumprir as metas assinadas na COP21.
O secretário lembrou-lhe que até Bill Gates já quis investir na produção de etanol no Brasil, George Soros investiu de fato, gigantes como Shell e BP também aportaram bilhões de dólares aqui, e que esse tempo precisaria voltar. Inspirado em programas globais de fomento ao uso dos renováveis e em artigos da Embrapa de onde veio para assumir o cargo no MME, o diretor de Biocombustíveis desenhou a tal proposta. Três nomes foram sugeridos e o filho de Miguel Ivan escolheu o RenovaBio.
A equipe do MME, "muito boa", segundo ele, aparou as arestas, acertou detalhes técnicos e o programa foi apresentado ao secretário, "que se assustou no início, mas mandou tocá-lo em frente". Reuniões com o setor produtivo foram feitas para adaptações e sugestões. O embrião do RenovaBio se transformou em um estudo de 300 páginas. O documento foi batizado de "Renovabíblia".
O resto é história já conhecida. Audiências públicas foram feitas, resistências foram contornadas e um projeto de lei foi desenhado. A proposta chegou ao Congresso Nacional um ano depois de ter sido idealizado por Miguel Ivan e, em menos de dois meses, virou lei.
Se Temer assinar a regulamentação da lei nesta quarta-feira, em um evento em Ribeirão Preto (SP), Miguel Ivan, "o pai" do RenovaBio, não estará na plateia e nem no palco. Ele continua em viagem ao Exterior, defendendo ideias do programa ou representando o Brasil em algum evento do setor. Mas quem o conhece sabe que ele não se importará em estar presente.
Gustavo Porto