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Política

Alta do petróleo aumenta pressão sobre Jean Paul Prates no governo e no mercado


Fábio Rodrigues - 03 ago 2023 - 10:51

A alta no valor do barril de petróleo colocou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sob pressão. No governo, a cobrança é para que a companhia continue segurando os preços da gasolina e do diesel. De outro lado, agentes de mercado e representantes de acionistas querem que ela comece a diminuir a diferença entre o valor internacional da commodity e o praticado no Brasil, sob pena de começar a registrar perdas com o subsídio aos combustíveis.

Por enquanto, Prates está cedendo à pressão do governo.

De acordo com fontes da Petrobras e do ministério de Minas e Energia, circula no governo um cálculo segundo o qual a empresa ainda teria uma pequena margem para segurar os preços sem ter prejuízo – de R$ 0,06 por litro de gasolina e R$ 0,03 no diesel.

Não é o dado com que trabalha a cúpula da petroleira e nem a estimativa do mercado, mas é o discurso que vem sendo feito no entorno do presidente Lula.

Numa reunião com Prates na semana passada em Brasília, foi repetido o argumento de que a Petrobras não pode ficar "alheia à situação econômica do país".

A preocupação maior, naquele momento, era que um aumento no preço da gasolina e do diesel às vésperas da reunião do Conselho de Política Monetária, o Copom, que começou nesta terça-feira, pudesse afetar a esperada decisão de diminuir a taxa de juros.

Na discussão da semana passada, em Brasília, também foi batido o martelo a respeito da redução dos dividendos a serem pagos em 2023 aos acionistas da Petrobras – incluindo o próprio governo federal. Prates chegou para a reunião com os ministros com a proposta, definida na diretoria, de cortar o dividendo dos atuais 60% do fluxo de caixa livre para 50%.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, era favorável à proposta de Prates para os dividendos, mas, diante da pressão dos ministros Rui Costa e Alexandre Silveira, das Minas e Energia, o presidente da Petrobras teve ceder, baixando o dividendo para 45% do fluxo de caixa livre. Com isso, os R$ 30 bilhões distribuídos sobre os resultados de 2022 devem cair para cerca de R$ 20 bi sobre 2023.

Interlocutores de Prates com quem conversei confirmam que houve mudança no dividendo após a reunião com os ministros, mas negam que ele esteja sofrendo pressão para segurar preços. Já no Palácio do Planalto ministros e assessores afirmam que Lula considera Prates muito permeável à pressão do mercado.

O único ministro a defendes o presidente da Petrobras no entorno do presidente é Fernando Haddad, que teme os efeitos de uma deterioração das finanças da companhia sobre as expectativas dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil.

Em entrevista nesta terça-feira, depois de uma reunião de toda a diretoria com Lula em Brasília, Prates disse que não falou sobre preços com o presidente, pelo contrário. Afirmou que a empresa está "confortável' com o que chamou de volatilidade dos preços do petróleo e disse que “se o preço se estabelecer em outro patamar, vamos ponderar e fazer o reajuste necessário”.

O barril de petróleo está em alta desde maio, e já aumentou 14% desde o início de julho, passando de US$ 74,90 para US$ 85 no fechamento de ontem.

De acordo com a associação dos importadores de combustíveis, a Abicom – que na prática reúne concorrentes da Petrobras no mercado privado –, a Petrobras está vendendo gasolina e diesel a um preço 20% menor do que o praticado no mercado externo.

Na cúpula, porém, trabalha-se com uma estimativa menor, de cerca de 10% de defasagem. Isso porque o cálculo da empresa é pela média anual e, de acordo com o último dado apresentado ao conselho em meados de julho, a "gordura" acumulada nos tempos em que o valor do barril estava caindo e o preço por aqui era estável foi eliminada e a conta agora está no zero a zero.

Como desde então o preço do barril continuou subindo, calcula-se na cúpula da companhia que a Petrobras em breve não terá alternativa a não ser subir o preço da gasolina e do diesel. Do contrário, estará subsidiando os combustíveis – e, temem os importadores, começará a quebrar os concorrentes, que pagam o preço praticado no mercado internacional pela gasolina e o diesel vendidos no Brasil.

Publicamente, Prates afirma que não existe a diferença apontada pelos importadores na comparação com o mercado internacional porque a Petrobras "é mais eficiente" do que os concorrentes.

Malu Gaspar – O Globo