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Petrobras volta a praticar prêmio no preço do diesel


Valor Econômico - 03 jul 2019 - 10:06

O aumento de 3,9% praticado na segunda-feira (01) pela Petrobras nos preços do diesel, nas refinarias, aproxima a companhia da paridade internacional, depois da escalada na cotação do petróleo ao longo das últimas semanas. A expectativa do mercado se volta agora para a gasolina, que já acumula três semanas sem reajustes e opera, neste momento, com defasagem em relação aos preços internacionais.

A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), que representa os principais concorrentes da Petrobras no abastecimento ao mercado brasileiro, calcula que a estatal está praticando preços para o diesel com um ligeiro prêmio (de R$ 0,01 e R$ 0,02 o litro) nos pontos de suprimento de Santos (SP) e Aratu (BA) e com uma defasagem de R$ 0,02 e R$ 0,03 em Suape (PE), Araucária (PR) e Itaqui (MA).

Na gasolina, a defasagem é maior, varia de R$ 0,07 a R$ 0,18 o litro, dependendo da região. A Abicom considera, em seus cálculos, as despesas para internalização dos combustíveis até o porto, e acrescenta a esses valores os custos com as taxas portuárias e de armazenagem, além das despesas de frete até o ponto de entrega do combustível.

A Petrobras, por sua vez, leva em consideração o preço de paridade internacional, margens para remuneração dos riscos inerentes à operação e o nível de participação no mercado. O PPI calculado pela companhia estima o custo de potenciais competidores, simulando uma importação por terceiros em cada ponto de venda. A Petrobras costuma alegar, contudo, que o PPI não se trata de um "valor absoluto" e que os reais valores de importação variam de agente para agente, dependendo de aspectos como as relações comerciais existentes, o acesso a infraestrutura logística e a escala de atuação.

Quando considerados os custos até o porto somente, a Petrobras vem praticando um prêmio de 1% nos preços do diesel e um desconto da ordem de 10% na gasolina, de acordo com um analista que monitora a política comercial da petroleira, mas que prefere manter o anonimato. Na avaliação da fonte, essa defasagem tem como pano de fundo a perda de mercado da gasolina para o etanol, dentro de uma estratégia de recuperação de participação de mercado. A Petrobras não atualiza os valores do combustível, nas refinarias, desde 11 de junho.

Já no caso do diesel, o aumento anunciado na segunda-feira foi o primeiro desde que a companhia pôs fim a periodicidade fixa em seus reajustes, em 13 de junho. A alta ocorre num momento em que os preços do litro estão em queda nos postos. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que o preço do derivado, nas bombas, recuou pela quinta semana consecutiva, no período entre 23 a 29 de junho.

Para o presidente da Abicom, Sérgio Araújo, o reajuste é positivo para as importadoras, que nas últimas semanas vinham mantendo suas atividades reduzidas, frente ao congelamento dos preços nas refinarias.

"O mercado vai acompanhar de perto os movimentos da Petrobras", afirma Araújo, em referência ao programa de desinvestimentos da estatal no setor de refino.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, destaca que o aumento dos preços do diesel ocorre dias após a empresa abrir oficialmente o processo de venda de quatro de suas refinarias. Segundo ele, o mercado acompanhará com uma lupa os reajustes da estatal, já que a prática de preços competitivos será o principal fator de atração de investidores para os ativos de refino.

"O Brasil possui bons sinais econômicos para a atração de investidores para o refino. Tem um mercado consumidor na direção do crescimento e uma expectativa de aumento da produção de petróleo. Se considerado esse cenário, vai ter comprador para as refinarias. O que perturba esse cenário é o aspecto regulatório e esse desafio está hoje nas mãos da Petrobras. Daqui para a frente, a Petrobras vai precisar mostrar para o mercado que ela é uma empresa que trabalha alinhada com a paridade internacional", afirma Pires.

André Ramalho – Valor Econômico