Embrapa faz pesquisa para tornar óleo de soja mais saudável
Uma pesquisa que vem sendo desenvolvida pela Embrapa Soja, com sede em Londrina (PR), busca dar ao óleo de soja — normalmente utilizado para as frituras por imersão — propriedades semelhantes às do azeite de oliva.
“Todos os consumidores procuram a qualidade do azeite de oliva, que é o mais oleico e baixo saturado, o que o torna mais saudável para a alimentação humana. Estamos mexendo na composição química do óleo para deixá-lo tão benéfico quanto o azeite de oliva e transformá-lo em um óleo de soja nobre”, afirma o pesquisador Marcelo Fernandes de Oliveira, que integra a equipe que trabalha nas pesquisas de melhoramento de soja desenvolvidas na instituição.
Estudos vêm desde 2014
Considerado inferior se comparado também a óleos como os de canola e girassol —que da mesma forma que o azeite de oliva têm altos índices oleicos — o óleo de soja tem em sua composição, em média, 20% de ácido oleico.
As opções que fazem parte da categoria mais saudável, por sua vez, têm esses níveis acima de 70%. A meta dos pesquisadores da Embrapa é aumentar para até 80% os níveis de ácido oleico no óleo de soja, semelhante ao padrão do azeite de oliva.
Os estudos estão sendo feitos desde 2014, e as variedades do grão de soja com maior índice oleico devem estar no mercado dentro de três a quatro anos. Do campo para a indústria ainda há um caminho. Segundo o pesquisador, a ideia é fazer parcerias com empresas do setor privado para pesquisas de mercado e lançamento futuro do produto.
Para o consumidor, há vários benefícios no óleo de soja com maiores índices de ácido oleico. De acordo com a pesquisa da Embrapa, o novo produto resultará em uma composição com menos ácidos graxos saturados — aqueles que podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
Entre as vantagens está uma maior estabilidade ao calor, o que significa duas a três vezes mais tempo de frigideira, característica que pode ser vantajosa para feirantes, como o vendedor de pastel e as cadeias de fast-food.
O óleo em desenvolvimento poderá ter três vezes mais tempo de prateleira em alimentos embalados, sendo uma opção para eliminar conservantes artificiais. Outras características esperadas são sabor mais neutro e menor oleosidade, segundo Oliveira.
A pesquisa também aponta entre os benefícios a ampliação do uso do óleo de soja para alimentação, com excelentes propriedades de fusão para aplicações em panificação, por exemplo. Pode parecer algo secundário, mas o óleo de soja com tais características significa uma cozinha mais limpa.
“O objetivo é agregar valor no óleo por meio do programa de melhoramento de soja convencional, com a combinação de genes diferentes da própria soja”, explica o pesquisador.
O processo envolve a oleaginosa tradicional e utiliza o melhoramento clássico. Não há mudança genética.
O novo óleo tem vantagens em outras aplicações industriais e potencial para uso na química verde. No caso do biodiesel, o óleo de soja corresponde a 82% dos insumos usados na fabricação.
De acordo com os pesquisadores, o produto garante maior qualidade à combustão e melhor performance na indústria química fina, que inclui lubrificantes de motor e fluidos automotivos. Também há perspectiva de ampliação do uso nas indústrias farmacêutica e de cosméticos.
Carolina Mainardes – Globo Rural