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COP28: carta aponta oposição de petroestados a recomendação de eliminação de fósseis pela COP28


Um Só Planeta - 11 dez 2023 - 09:59

Uma carta da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para sua associação irmã, a Opep+, que inclui outras nações produtoras do combustível fóssil, revelada na sexta-feira (08) pela imprensa internacional, expôs as conversas em torno dos rumos possíveis da COP28 e seu impacto neste setor, que apesar das críticas segue sendo parte importante da economia mundial.

O documento referia-se ao rascunho do texto final da COP28, publicado pelo órgão climático da ONU na terça-feira (05). Um rascunho diferente foi publicado na sexta-feira.

As discussões da COP são tradicionalmente contempladas nos rascunhos da declaração final de cada cúpula do clima, e neste ano há uma série de opções que atingem o petróleo, desde concordar com uma “eliminação progressiva dos combustíveis fósseis de acordo com a melhor ciência disponível” (phase out), até à eliminação progressiva dos “combustíveis fósseis não abatidos” (phase down), que favorece opções como a captura de carbono do ar, e ainda, uma opção na mesa de negociações é não incluir qualquer texto sobre os combustíveis fósseis.

“Parece que a pressão indevida e desproporcional contra os combustíveis fósseis pode atingir um ponto de inflexão com consequências irreversíveis, uma vez que o projeto de decisão ainda contém opções sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis”, afirma a carta, obtida pela agência Reuters.

O documento instava as delegações ligadas à Opep na COP28 a “rejeitar proativamente qualquer texto ou fórmula que vise a fonte de energia, ou seja, combustíveis fósseis em vez de emissões”.

"Embora os países membros da Opep e os países não pertencentes à Opep que participam na Carta de Cooperação levem a sério as alterações climáticas e tenham um histórico comprovado em ações para o clima, seria inaceitável que campanhas com motivação política colocassem em risco a prosperidade e o futuro do nosso povo", complementa o documento, alinhando-se a declarações feitas anteriormente pelo atual presidente da COP28, o sultão Ahmed Al Jaber, que preside a companhia de petróleo dos Emirados Árabes.

Cartas idênticas, assinadas por Haitham al-Ghais, o executivo petrolífero do Kuwait e secretário-geral da Opep, foram enviadas aos 13 membros da organização, que inclui Arábia Saudita, Irã, Iraque e Nigéria. Estes países possuem 80% das reservas mundiais de petróleo e produziram cerca de 40% do petróleo mundial na última década, relata o jornal The Guardian.

“Eles estão em pânico”

Especialistas e políticos ouvidos pela agência AP reagiram ao movimento do setor petroleiro. “Acho que eles estão em pânico”, afirmou Alden Meyer, analista do think tank climático E3G. “Talvez os sauditas não consigam fazer sozinhos o que [membros da Opep] vêm fazendo há 30 anos, e bloquear o processo”.

A ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, disse: “Eles estão com medo. Acho que eles estão preocupados. Me dá esperança.” Robinson, copresidente do grupo de líderes aposentados The Elders, é conhecida pelo ativismo climático. Foi em conversa com ela que o sultão Al Jaber deu as declarações se recusando a reconhecer a necessidade do fim do uso de combustíveis fósseis para evitar um colapso do clima, o que lhe custou dores de cabeça durante esta COP em Dubai.

Também na cúpula do clima deste ano, o Brasil foi convidado a integrar a Opep+, o que gerou críticas ao que seria uma hipocrisia brasileira em advogar por um futuro verde enquanto participa do clube dos petro-estados. O governo Lula prontamente afirmou que, se entrar na organização, o Brasil terá um papel de defender uma transição energética dentro da instituição.