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Tucumã na produção do biodiesel amazônico


A Crítica - 16 abr 2012 - 09:11
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Pouca gente sabe, mas o tucumã nosso de cada dia --- vedete do café da manhã dos amazonenses no delicioso x-caboquinho --- poderia ser utilizado também como uma alternativa energética capaz de ajudar a população do interior do Estado que sofre com a falta de energia.

Mas, no Ano Internacional de Energia Sustentável, instituído pela Organização das Nações Unidas(ONU) --- no qual se discute a falta de acesso à energia, principalmente nas regiões mais distantes como a Amazônia --- o caroço ou a amêndoa do fruto amazônico, que poderia ser convertido em biodiesel para geração de eletricidade para abastecer geradores do interior do Estado, vai parar invariavelmente na lata do lixo ou no fundo dos igarapés de Manaus.

Em alguns casos, o caroço do tucumã é utilizado pelos moradores que residem nas imediações dos igarapés para “aterrar” trechos do leito d’água e evitar enchentes nas casas. É o que acontece com os moradores do beco Greenville, no bairro da União, bem em cima do igarapé do Bindá.

Extração
O caroço e a amêndoa do tucumã correspondem a 60% do fruto. Da amêndoa extrai-se de 25% a 50% de óleo que contém acidos graxos de cadeia saturada, impróprio para a alimentação humana. Mas, para a área energética é um achado porque possui estabilidade oxidativa.

Quantidade
Outra vantagem é o aproveitamento: com um quilo de amêndoa de tucumã é possível se obter meio litro de biodiesel.

Descascam a fruta e jogam fora o caroço
Sem consciência sobre a riqueza energética que têm nas mãos, os moradores do beco Greenville, que ganham a vida como descascadores de tucumã, aterraram parte do igarapé com caroços da fruta para impedir a subida das águas.

Na área que concentra as residências dos descascadores de tucumã, o solo é repleto de caroços, misturado com lixo e dejetos de animais.

“Isso tudo era água. Na verdade começou a secar depois que lançaram os caroços de tucumã. Nós colocamos para aterrar aqui porque quando enche o igarapé, a água sobe para as casas. Agora, com os caroços de tucumã, a situação melhorou muito”, disse a comerciária Rilzalina Saraiva.

“Não sei se é certo ou errado. Mas, eu acho imundo, porque ficam esses caroços jogados aí, as crianças andam por cima, dá bicho. Mas, o pessoal que descasca tucumã joga aqui, né”, completou.

Com poucos recursos para sustentar a família, que inclui os netos de 4 a 6 anos de idade, a aposentada Izanilde da Silva Assis trabalha como descascadora de tucumã.“Quando a gente termina de descascar joga aqui mesmo, porque não tem onde jogar. Mas, tem gente que vem aqui comprar o caroço e paga R$ 1 por saca. A gente ganha um dinheirinho descascando o tucumã, dá para ajudar em casa”, disse a aposentada.

Amêndoa é boa para produzir biodiesel
Enquanto no bairro da União o caroço é jogado no lixo, o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia(Inpa) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) elegeram o Astrocaryum aculeatum - nome científico do tucumã - como uma das espécies de oleaginosas amazônicas mais propensas à produção de bioenergia.

Ao lado do Dendê -- considerado a principal palmeira oleífera capaz de gerar biodiesel -- o tucumã apresenta alto teor de oléo, que pode ser extraído de forma sustentável e usado na produção de biodiesel pela via etílica , capaz de abastecer geradores de energia em substituição ao diesel.

Segundo os pesquisadores que participam do projeto “Cadeia Produtiva Sustentada do Tucuma do Amazonas”, o tucumã é estudado com fins de bioenergia desde 2004.

O pesquisador do Inpa Sérgio Nonomura explica que um dos pontos positivos do uso da amêndoa do tucumã é que o fruto é produzido em grandes quantidades no Estado do Amazonas.

Por meio deste projeto, financiado pelo Fundo de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), o estudo confirmou o potencial do tucumã como fonte de óleo para produção de biodisel e, consequentemente, abriu a possibilidade possivel de ser utilizado na produção de biocombustível.

Criar tecnologia é o desafio
Na pesquisa empreendida no projeto “Cadeia Produtiva Sustentada do Tucumã do Amazonas”, o óleo da fruta foi extraído por dois processos. No primeiro, por prensagem mecânica, o óleo teve um rendimento de 20%. No segundo método, a extração sólido-líquido, com hexano, através da utilização da aparelhagem Soxhlet, o aproveitamento chegou a 40%.

O resultado da pesquisa revelou que os óleo da amêndoa do tucumã possui preponderantemente cadeias hidrocarbônicas saturadas e curtas, podendo ter tanto índices de acidez relativamente baixos e altos. Mas, é possível sua utilização na produção de biodiesel pela via etílica, nos dois casos.

“Mas é preciso investimento. O nosso grupo de pesquisa domina toda a cadeia produtiva: coleta, processamento dos caroços, extração do óleo das amêndoas, producao de biodiesel. Um dos entraves para a implementação a curto prazo é a existência de equipamentos para o processamento do tucumã. O pesquisador Roberto Figliuolo desenvolveu alguns protótipos que podem ser utilizados no desenvolvimento de máquinas no processamento das amêndoas”, disse Sérgio Nonomura.

Advertência
“Mas, por si só, o alto teor de óleo extraído da amêndoa do tucumã poderia corroer os geradores de energia, motores automotivos. Por isso a necessidade de converter o óleo vegetal em biodiesel”, adverte o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia Sérgio Nonomura.

Maria Derzi - A Crítica