Rio Grande do Sul volta ao segundo lugar na soja
Com paisagens forradas de lavouras de soja ainda “lourando”, bem diferente do horizonte visto no Cerrado, onde boa parte da soja já foi substituída pelas plantações de milho e algodão, a produção do Rio Grande do Sul deverá ser a segunda maior da história do Estado nesta safra 2018/19. O feito levará os gaúchos à segunda posição na produção nacional, atrás de Mato Grosso.
Devido ao ciclo mais tardio que Mato Grosso e Paraná, a colheita ainda engatinha no Estado, mas os primeiros hectares colhidos são motivos de comemorações. “A média das lavouras é de 80 sacas [de 60 quilos] por hectare. Mas, eu não gosto nem de falar, teve talhão que tirei 91 sacas”, disse Henrique Matias Hummes, produtor de Carazinho, no noroeste do Rio Grande do Sul.
Como não está morto quem peleia, pela primeira vez em 24 anos – desde a safra 1994/95 – a produção de soja no Estado será maior que a do Paraná. Isso se o clima não der novos sustos até o fim da colheita do ciclo 2018/19, prevista para meados de abril. A produção deve chegar a 18,5 milhões de toneladas, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul). A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) calcula 18,7 milhões de toneladas.
Mas nem tudo são flores. No início da safra muitas áreas ao norte do Rio Grande do Sul tiveram de ser replantadas em decorrência do excesso de chuvas. Na região sul, houve alagamentos em áreas de várzea, tradicionais na produção de arroz. Ainda assim, mesmo com perdas estimadas em 1 milhão de toneladas no Estado, a produção gaúcha deverá ser maior que a do Paraná.
“O Paraná, normalmente, tem condições climáticas melhores que o Rio Grande do Sul, que é uma área subtropical sujeita a intempéries”, disse Antonio da Luz, economista da Farsul. Neste ciclo, porém, o Paraná foi mais castigado pela estiagem e deve apresentar quebra de 15% ante as primeiras estimativas para a safra.
“Vamos ultrapassar o Paraná porque o clima derrubou a produção deles, mas a produção aqui no Rio Grande do Sul nunca parou de crescer”, lembrou Luz. Segundo o economista, há seis safras o Estado vem registrando bons resultados.
O agricultor Norberto Cult Willig, com 210 hectares de soja semeados em Não-Me-Toque, enfrentou problemas com fungos e teve que replantar 30 hectares. “Teve umidade e temperaturas muito baixas. Mas a safra não está ruim. Vamos chegar a 75 sacas por hectare”, afirmou.
Emilson Guadagnin, por sua vez, chegou a semear três vezes uma mesma área. “E ainda acho que teremos muita falta de planta por metro quadrado”, disse. Contudo, o produtor acredita em produção média de 80 sacas por hectare nos 250 hectares semeados com soja. A produtividade média do Estado é prevista em 53,9 sacas por hectare.
Como o clima costuma ser o algoz no Estado, os produtores acabam investindo mais em insumos. O pesquisador e ex-professor da Universidade de Passo Fundo Carlos Alberto Forcelini estima que as lavouras do Rio Grande do Sul recebam quatro aplicações de fungicidas em anos de clima normal, enquanto a média nacional é de três aplicações. “Na metade sul do Estado, a média sobe para seis”, contou.
Sem a ajuda de um clima mais favorável à soja, como ocorre em Mato Grosso, o agricultor do Rio Grande do Sul acaba investindo mais na produção. “Não é à toa que uma feira do tamanho da Expodireto acontece aqui, numa cidadezinha chamada Não-Me-Toque”, brincou Luz, da Farsul. Como diria um bom gaúcho, para forrar o poncho – lucrar – é preciso gastar. A Expodireto é organizada pela cooperativa Cotrijal e a estimativa é que os 534 expositores tenham efetivado R$ 2 bilhões em negócios na feira que termina nesta sexta-feira.
A área da produção gaúcha de soja também tem crescido. Desde o ciclo 2014/15, aumentou 10,1%, para 5,8 milhões de hectares. Segundo Luz, a produção tem avançado sobre áreas de arroz e pecuária de corte mais ao sul do Estado. Desde o ciclo 2014/15, a área de produção de arroz caiu 10,6%, para 1 milhão de hectares.
“As regiões ao sul demandam mais investimento e ainda produzem menos, mas é nelas que veremos maior crescimento”, disse Luz.
“Estamos pensando em ampliar a produção para a fronteira oeste”, acrescentou Hummes, produtor de soja no noroeste gaúcho. A fronteira oeste fica na metade sul do Estado e necessita de maiores investimentos, mas o agricultor confia no investimento. “A soja é a cultura que tem dado maior liquidez para a gente”, disse.