Retaliação chinesa a Trump acentua queda das commodities
A guerra tarifária promovida pelo presidente americano Donald Trump escalou na última sexta-feira (04) e derrubou mais uma vez os preços futuros de produtos como soja, suco de laranja, café e algodão nas bolsas. O motivo foi a decisão da China, maior importadora global de commodities agrícolas, de impor taxas de 34% aos produtos americanos em resposta ao tarifaço de Trump.
Como resultado, o preço da soja na bolsa de Chicago teve a maior queda desde julho do ano passado. Os contratos para maio, os mais líquidos, recuaram 3,41%, para US$ 9,77 o bushel, para o menor nível do ano, segundo cálculos do Valor Data.
Para Ronaldo Fernandes, analista da Royal Rural, com a retaliação chinesa, o mercado entende que a demanda por soja dos Estados Unidos irá diminuir.
“Sem os EUA na jogada, o Brasil é um fornecedor natural de soja para a China, e deve mesmo abocanhar no curto prazo toda a demanda que seria direcionada para os americanos”, afirmou.
A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) também avalia que a soja brasileira vai ficar ainda mais presente no mercado chinês. “As novas taxações podem redirecionar parte da demanda chinesa para o Brasil, acentuando ainda mais a concentração das exportações nacionais nesse mercado”, disse a Anec, em nota.
O país asiático compra 75% da soja exportada pelo Brasil. No ano passado foram 77,5 milhões de toneladas, segundo a Safras & Mercado. Os Estados Unidos são o segundo principal fornecedor de soja dos chineses.
De acordo com Fernandes, muitos participantes do mercado ainda não têm clareza do impacto que as taxas chinesas terão sobre a soja dos Estados Unidos. “As tarifas dos EUA para a China podem chegar a 54%. Mas agora, eles [os chineses] impuseram taxas de 34%, e não está claro se elas se somam aos 10% já comunicados por eles no início de março”.
Mesmo em meio à disputa tarifária, Fernandes ainda vê chances de chineses e americanos costurarem um novo acordo, o que poderia mudar o rumo das cotações da soja na bolsa.
O impacto da retaliação chinesa se estendeu para alguns produtos na bolsa de Nova York. Isso aconteceu principalmente pela disparada do dólar, que torna essas commodities mais caras. Em relação ao real, a moeda americana se valorizou mais de 3% na sexta-feira, com investidores precificando o risco de uma recessão global.
A perspectiva de queda no consumo de produtos nos EUA pelo risco de recessão também explica o recuo das cotações. Foi o que ocorreu com os preços do suco de laranja. Os contratos para maio caíram 3,28% na bolsa de Nova York, a US$ 2,2690 a libra-peso, o menor valor desde março de 2023.
Jack Scoville do Price Futures Group, avaliou, em boletim, que as tarifas de Trump deveriam ter sustentado a alta da commodity, uma vez que, em tese, poderiam favorecer o consumo doméstico. “Isso não aconteceu porque há temores de uma recessão mundial se desenvolvendo”, explicou.
No mercado de café, a guerra comercial acentuou a baixa nas cotações, que alcançaram o menor nível desde o fim de janeiro de 2025. O contrato para maio caiu 5,07%, a US$ 3,6570 a libra-peso.
O motivo para a queda é que o mercado ainda tenta entender se a taxa de 46% imposta pelos EUA ao Vietnã vai afetar o consumo. O país asiático é o maior exportado de café robusta do mundo.
“Com esse índice tão elevado de tarifas de importação, é difícil não pensar em um impacto para a demanda de alguma forma”, frisou Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria.
Para ele, há um cenário “incrível” de oportunidades para o café conilon brasileiro (da mesma espécie o robusta) no exterior a partir das sobretaxas. Isso porque as exportações de conilon do Brasil estão em baixa, e o produto do Vietnã até então era mais vantajoso.
Já o algodão atingiu a mínima em um mês em Nova York na sexta-feira, sob o impacto das tarifas da China sobre os EUA, que são seu maior fornecedor da pluma. Os contratos para maio cederam 2,22%, negociados a 63,36 centavos de dólar a libra-peso.
“Com essa retaliação, a China foi a grande responsável por derrubar os preços, já que essa medida deve dificultar a exportação de algodão americano ao mercado asiático”, afirmou Eduardo Santiago, corretor na Santiago Cotton.
Paulo Santos – Globo Rural