Previsões otimistas para os grãos não são unânimes entre especialistas
“As queimadas atrasaram o plantio da soja, mas com a volta das chuvas os produtores resolveram dar um gás e a tendência é, sim, de mais um recorde produtivo”, diz Luis Humberto Villwock, professor da Escola de Negócios da PUC-RS. No caso do milho, ele espera que a próxima safra se mantenha em linha com a deste ano. “Pode haver redução do preço nominal, mas existe possibilidade de o produtor ganhar com o câmbio favorável no novo governo americano”, pondera. Villwock lembrou, porém, que o déficit de armazéns deve pressionar pelo escoamento rápido dos volumes gigantescos, refletindo em fretes mais caros.
Mas nem todos esperam uma super safra. “As chuvas não ocorreram no tempo certo e o plantio atrasou. Conseguimos plantar 24 horas [por dia], mas não vamos conseguir colher na mesma velocidade porque grãos só podem ser colhidos de dia”, explica Luiz Pedro Bier, vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja). Além do clima, custo dos fertilizantes e dificuldades de crédito vêm desanimando agricultores.
Bier acrescenta que a janela alterada da soja poderá afetar o milho na rotação de culturas. “Além disso, o mercado não está remunerando e muitos produtores estão indecisos se devem plantar a safrinha em janeiro”, emenda. Ele avalia que a safra será afetada na esteira dos atrasos da soja. Produtores de milho estão migrando para o gergelim, cuja área plantada no Mato Grosso dobrou em 2023.
Já no oeste baiano, as perspectivas são animadoras. Em setembro, a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) estimou crescimento de 14% na produção, prevista para chegar a 8,5 milhões de toneladas, além de expansão de 7,5% da área plantada. O segmento também espera repetir a produtividade mais alta que o Estado já registrou: 67 sacas por hectare. Com mais da metade da área já plantada até meados de novembro, o segmento é beneficiado por sementes melhoradas geneticamente, agricultura de precisão e manejo conservacionista do solo.
O cenário para o milho, por suia vez, é menos otimista. A Aiba calcula que a área plantada será reduzida em 9% na próxima safra após queda drástica de 40% na safra de 2023/2024. “As lavouras estão prejudicadas pela cigarrinha. O custo de controle da praga, com defensivos, aplicações e operações, aumentou muito enquanto o preço está ruim. A conta não está fechando”, frisa Aloísio Júnior, gerente de agronegócios. Ele prevê, no entanto, que a abertura de três usinas de etanol à base do cereal no Estado poderá reverter o cenário futuramente, incentivando a cultura de milho. As plantas estão em construção e planejamento nos municípios baianos de Jaborandi, Luís Eduardo Magalhães e Santa Rita de Cássia.
No sul do Tocantins, as chuvas irregulares também estão atrasando a semeadura. Ainda assim, a expectativa é de safra boa. “No ano passado, a seca prejudicou. Desta vez, se não vier nenhum veranico, a colheita deve ser volumosa”, conta Marcelo Zanella, produtor que cultiva os grãos há nove anos em Alvorada e Figueirópolis. O agricultor reclama, no entanto, que vários produtores sofrem dificuldades de acesso ao crédito. “Muitos não conseguem financiamento porque já estão endividados. Então, haverá reflexo na produção no ano que vem.”
A região enfrenta, ainda, desafios fitossanitários como a anomalia da soja. A doença causada por fungos apodrece a vagem ao final da maturação, que perde qualidade e peso. Em algumas lavouras do país houve perdas de mais de 30% na produtividade. Problema novo da sojicultura, a comunidade científica e o setor esforçam-se para entender a doença há cinco anos.
Lilian Caramel – Valor Econômico