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Soja

Preço da soja pode ter recuperação ainda no primeiro semestre, avalia Datagro


Globo Rural - 31 jan 2024 - 08:49

Em queda neste início de ano, o preço da soja pode ter alguma recuperação ainda no primeiro semestre. A avaliação é do coordenador do setor de grãos da consultoria Datagro, Flávio Roberto de França Junior. Passada a pressão maior da colheita em andamento no Brasil, o mercado deve se ajustar ao cenário de menor oferta aqui e de retomada na demanda internacional pela oleaginosa.

“Há espaço para a recuperação, quando a demanda voltar para a soja dos Estados Unidos – e entendo que vai voltar – e quando o mercado enxergar melhor as perdas no Brasil”, resume o consultor.

Nesta semana, as cotações do grão na bolsa de Chicago atingiram o menor nível em dois anos. O contrato mais curto no painel, março de 2024, chegou a operar abaixo de US$ 12 o bushel.

Até a segunda-feira (29/1), o papel de segunda posição no painel da bolsa – maio de 2024 – teve queda de 7,16%, de acordo com o Valor Data. Em 12 meses, a desvalorização é de 19,91%.

França Junior pontua que a expectativa de boa safra na Argentina – superior a 50 milhões de toneladas – e a redução da demanda, principalmente da China, foram os principais fatores de pressão sobre os preços nas últimas semanas.

“A China comprou bastante, está com estoques tranquilos e ficou praticamente fora do mercado agora em janeiro”, ressalta o consultor.

Os chineses avaliando de forma mais cautelosa o quadro de oferta e demanda, os prêmios de exportação também caíram. Nos portos brasileiros, alguns vencimentos estão com deságio de US$ 1 por bushel sobre os mesmos vencimentos em Chicago.

Do lado da oferta, avaliação é de que a recuperação da colheita argentina, pelo menos por enquanto, compensaria as perdas estimadas para o Brasil. Nas previsões da própria Datagro, os argentinos devem colher 51 milhões de toneladas de soja na safra 2023/24, 30 milhões a mais que na temporada passada.

Perdas

França Junior avalia, no entanto, que a quebra da produção brasileira ainda está subestimada pelos órgãos oficiais, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Em algum momento, diz ele, essas perdas terão que ser consolidadas nos números e tenderão a influenciar os preços.

Nesta semana, a Datagro cortou em 4,3 milhões de toneladas sua previsão para a safra de soja 2023/24. Com o clima desfavorável que atingiu diversas regiões produtoras do país, a colheita, antes projetada em 152,882 milhões, passou para 148,553 milhões de toneladas, 7,3% a menos que o estimado pela empresa para a produção da safra passada (160,234 milhões de toneladas).

França Junior avalia que, em condições normais de clima, o potencial da safra atual seria 165 milhões de toneladas. No entanto, só em Mato Grosso, principal Estado produtor do grão no país, a perda de produtividade é estimada em 20%. A Datagro projeta a colheita mato-grossense da oleaginosa em 37 milhões de toneladas.

Outros Estados, como Maranhão, Piauí, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal, devem ter produção menor que a do ano passado. São Paulo, Paraná e Minas Gerais também têm perdas de produção, situação vista até com alguma surpresa pelo especialista da Datagro.

“Para estes três Estados, não estavam previstos problemas ou perdas, porque o ano é de El Niño. É ruim para o clima na região Centro-Norte, mas é, geralmente, favorável para o Centro-sul”, diz. “As perdas estão distribuídas pelo Brasil, com peso maior em Mato Grosso”, acrescenta.

O especialista pontua ainda que as perdas já contabilizadas são irreversíveis. E considera a possibilidade de novos cortes nas previsões, a depender do comportamento do clima em fevereiro e março.

“Muito difícil ter números acima de 148,5 (milhões de toneladas). Não muda o que já perdeu. E nós tivemos atraso no plantio, muito replantio, e precisa de chuva em fevereiro e março. E o quadro do clima não é tão redondinho”, alerta.

Demanda

Neste cenário de safra menor, lembra o consultor, 2024 deve ter maior demanda por soja no mercado interno. A indústria brasileira precisará de um volume maior para esmagar e atender o aumento da mistura de biodiesel no diesel fóssil, que, neste ano, passa a ser de 14%.

“O esmagamento vai ser forte, por causa da demanda interna. Passada a pressão maior da colheita, os preços podem voltar no mercado interno”, diz ele.

Para o segundo semestre, o plantio de soja nos Estados Unidos deve direcionar as cotações em Chicago. Caso os americanos colham uma “safra cheia”, as cotações podem ser pressionadas no mercado internacional. E o Brasil dependeria de uma melhora dos prêmios de exportação para amenizar ou compensar esse movimento.

Raphael Salomão – Globo Rural