Demanda global por energia pode impulsionar soja, avalia ministério
O governo brasileiro avalia que o aumento da produção de biocombustíveis pode dar fôlego ao agronegócio nacional mesmo diante do excesso global de soja esperado para o próximo ano.
A avaliação é do assessor especial do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) e presidente do Conselho da Embrapa, Carlos Augustin, para quem o Brasil vive uma transformação estrutural na forma de produzir e consumir alimentos e energia.
Apesar das projeções de forte oferta da soja no mercado internacional, especialmente depois da retomada do comércio entre China e Estados Unidos, a ala técnica do governo ligada à agricultura avalia que o risco de desequilíbrio é limitado. Para Augustin, a conjuntura mudou de forma definitiva.
“A agricultura não é mais só alimento, é também energia. Isso é uma mudança de configuração que não volta atrás”, disse à CNN Brasil.
Ele explica que a bioenergia e o uso do farelo como insumo para ração e biocombustíveis abriram uma nova fronteira de demanda, capaz de sustentar preços e consumo mesmo com safras recordes.
“O mundo tem mais bocas para alimentar, mas agora também motores que podem ser movidos a biocombustível. Antes, a agricultura produzia só comida; hoje, ela produz alimento e energia. Não é moda, é uma onda mundial”, afirmou.
O otimismo de Augustin se apoia na política do Combustível do Futuro, que prevê o aumento gradual da mistura de biocombustíveis ao diesel, gasolina e querosene de aviação.
A iniciativa, conduzida pelo governo federal, amplia o consumo interno de soja e fortalece o mercado de farelo, enquanto reduz a dependência de exportações de óleo cru.
Ele lembra que o Brasil é pioneiro em bioenergia, com o etanol de cana e depois o de milho, e agora lidera uma nova etapa voltada a combustíveis alternativos.
“O que cresce no mundo é energia e proteína”, reforçou.
Além da soja e do biodiesel, o governo também aposta na expansão do DDG (grão seco de destilaria), subproduto do etanol de milho, como nova frente de exportação. Em 2024, a China autorizou a importação do DDG brasileiro, o que agora reforça as novas possibilidades de mercado.
Já a soja esmagada, rica em proteína vegetal, vem ganhando espaço na alimentação animal e pode se tornar alternativa complementar ao farelo de soja em países como China, Índia e nações do Sudeste Asiático, onde a demanda por ração cresce de forma acelerada.
Segundo Augustin, o Brasil já exporta volumes pontuais dos dois insumos e deve consolidar embarques regulares nos próximos anos, acompanhando o avanço da produção de etanol de milho e biodiesel de soja.
Mesmo com a reaproximação comercial entre Pequim e Washington, a soja brasileira segue dominante graças ao custo menor, à escala de produção e à complementaridade entre as safras dos dois países.
Entre maio e outubro, o Brasil exportou mais de 21 milhões de toneladas de soja para a China, um aumento de quase 40% em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa é de que esses patamares sejam mantidos em 2026.
Mesmo assim, Augustin reconhece que o setor produtivo se preocupa com o volume crescente de produção, especialmente pela recuperação de pastagens degradadas para ampliar o plantio. Do lado do setor produtivo, o temor é de mais um ano com alta produção e margens apertadas.
Mas o secretário é otimista e diz que esta é uma forma de fazer o país “atingir novos patamares de eficiência e sustentabilidade”.
“A produção de combustíveis alternativos virou um grande demandador. O Brasil continua sendo potência agro, mas agora também será potência energética”, concluiu.
Cristiane Noberto – CNN Brasil